EC 26 de Ceilândia: educação antirracista é o ano inteiro
A culminância foi no último dia 9 de novembro, mas na EC 26 de Ceilândia Educação antirracista é o ano inteiro e tem nome: Projeto Conhecer-se. O projeto começou em 2021, e desde sua origem tem como uma das metas não ficar apenas na pedagogia do evento do mês da consciência negra.
O Projeto Conhecer-se é fruto de uma característica da comunidade escolar atendida pela EC 26: “nossa escola fica na Ceilândia Norte. As crianças da comunidade são em sua grande maioria negras, e percebemos que elas não estavam representadas nos livros didáticos, nas contações de histórias, salas de aulas, muros da escola. A partir dessa necessidade de atendimento à comunidade escolar, começamos a desenvolver o projeto”, conta a orientadora educacional da escola, Eliane Maria dos Santos Gomes.
A pedagoga explica que o projeto é diário e dura o ano todo, a começar pela formação dos professores na Semana Pedagógica. “O projeto tem dois grandes braços, a identidade étnico-racial e o conhecer-se, que trata da gestão das emoções das crianças. Então, trabalhamos não só a educação antirracista como buscamos nomear com as crianças as emoções que elas sentem, o que fazer quando elas estão com raiva, acolher as emoções”, explica Eliane.
Educação antirracista nos mínimos detalhes do dia-a-dia
O Projeto Conhecer-se é o fio condutor da EC 26. A educação antirracista se faz presente nos mínimos detalhes do cotidiano da escola: livros didáticos e literários trazem representatividade de pessoas negras e de autores negros, que são trabalhados ao longo do ano. “Toda sexta-feira, da forma que o professor e a professora quiser, o projeto é trabalhado: com um trabalho de arte, produção de texto, nas aulas de matemática e português, ou qualquer outra atividade à escolha dos professores e das professoras”, conta a orientadora, que completa: “contamos a verdadeira história da África, que os negros brasileiros são descendentes de reis e rainhas”.
A pintura dos muros da escola foi toda mudada. Agora, todas as paredes trazem pessoas negras ou indígenas. “Mudamos o nome da biblioteca da escola para “Biblioteca André Lucio Bento”, que é um professor da rede pública, negro e intelectual. Pintamos o desenho dele na parede da biblioteca”, conta Eliane.
A participação do professor André Bento não se restringiu à biblioteca: “nós o chamamos para plantar um baobá na escola no dia da árvore. As crianças do 5º ano foram ver o Baobá da Asa Norte, o exemplar mais antigo no DF”.
Representatividade e protagonismo profissional de pessoas negras? Também tem: “convidei duas amigas minhas, cientistas, para conversarem com as crianças sobre o dia do trabalhador e da trabalhadora, sobre suas profissões; no dia da mulher, trabalhamos a biografia da professora Gina Vieira Ponte”, detalha Eliane.
Autoestima na prática
As características de pessoas negras são apresentadas às crianças como motivo de orgulho, de forma a estimular a autoestima: são trabalhadas as características físicas das crianças: os cabelos crespos, lábios grossos, a cor de pele… Os lápis cor de pele são assunto especial nesse quesito, e são vários os lápis para representar os diferentes tons de pele. “Assim trabalhamos a aceitação e o orgulho.”, explica a pedagoga.
O trabalho com a autoestima das crianças se estende à família: Jaqueline Óliver, do salão Cachos Brasil, deu uma palestra para ensinar os responsáveis a cuidar dos cabelos das crianças “e aproveitamos para excluir do vocabulário expressões pejorativas como ‘cabelo ruim’”, conta Eliane.
Na culminância do projeto, são expostos todos os trabalhos das crianças, executados ao longo do ano. “E já temos várias ideias para o ano que vem”, conclui Eliane.
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