Professores e OEs participam dos Diálogos sobre Taguatinga Plural e Brasil Original

Mais de 100 professores(as) e orientadores(as) educacionais (OEs) ligados a Coordenação Regional de Educação (CRE) de Taguatinga participaram da primeira edição da roda de conversa intitulada “Diálogos sobre Taguatinga Plural e Brasil Original”, nessa quarta-feira (28), no auditório da Escola Classe 52 da cidade-satélite.

Trata-se de uma ação afirmativa realizada pela Coordenação Regional de Ensino (CRE) que integra o Projeto Taguatinga Plural. “O objetivo foi o de promover ações pedagógicas que possibilitem reflexões sobre o racismo na condição de ideologia que marca as relações sociais no Brasil e as contribuições da cultura indígena na formação da sociedade brasileira”, explica André Lúcio Bento, professor e coordenador do Projeto Taguatinga Plural.

O professor informa que, “nesta primeira edição da roda de conversa, contamos com as presenças de mulheres negras e indígenas para o debate com participantes de escolas de todas as etapas da Educação Básica sobre cultura, imaginários, diversidade e literatura que constituem os povos africanos e indígenas. Destaco também que a formação continuada dos professores sobre essas duas temáticas (afro-brasileira e indígena) é um pilar fundamental para o aprimoramento constante da qualidade da educação e para cumprimos o que está previsto na Lei 11.645/2028”.

A atividade foi um sucesso e muito bem recebida pelos(as) participantes. “O público recebeu muito bem as reflexões trazidas pelas quatro palestrantes. Foram falas muito fortes e, ao mesmo tempo, provocadoras. Aos poucos, vamos avançando no entendimento do papel das escolas na abordagem das culturas africanas e indígenas e seu papel na formação da sociedade brasileira. A partir de 2025, temos a intenção de realizar duas edições por ano, uma em cada semestre. O evento foi restrito para escolas da CRE Taguatinga”, afirma.

 

O debate matutino

 

A atividade foi realizada durante todo o dia. No turno vespertino, as culturas africana e indígena foram o tema condutor das palestras direcionadas aos(às) professores(as) que lecionam para os Anos Finais do Ensino Fundamental e do Ensino Médio e aos(às) orientadores(as) educacionais.

André conta que, Nilza Laice, professora de Teatro da Escola de Comunicação e Arte de Moçambique (ECA-UEM-Moçambique) e doutora em literatura pela Universidade de Brasília (UnB), ministrou a palestra intitulada “Imaginários sobre a África, as africanas e os africanos no Brasil: que histórias devemos contar?”

No entendimento de Nilza, “é extremamente importante momentos como esse, pois precisamos falar das histórias e das coisas positivas e plurais da África, é necessário promover o diálogo, pois ainda há muito desconhecimento. Mas cabe destacar que não falta informação, o que falta é a proposição de ações para que essas informações sejam acessadas de forma leve. E a escola deve promover momentos pedagógicos como essa roda de conversa que é uma estratégia adequada para promover o diálogo e o aprendizado”.

Na sequência, Fabiana Kakoma, cacique indígena e mestranda em linguística pela UnB, realizou a palestra “Cultura Indígena e suas diversidades”. Segundo ela, no Brasil, há 305 povos e 270 línguas reconhecidas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e pela Fundação Nacional do Índio (Funai), mas essa diversidade não é reconhecida e nem conhecida pelos brasileiros.

“As histórias que contam sobre os indígenas não refletem a realidade histórica, nossa cultura não é vista com bons olhos e nossas narrativas não são ouvidas. Nesse contexto, os professores têm grande responsabilidade, pois trabalhar essa temática na sala de aula significa garantir respeito à diversidade cultural – base para a boa convivência humana.  Destaco ainda que valorizar a cultura e a sabedoria indígenas são importantes para que as memórias dos nossos povos permanecem vivas”, enfatizou Fabiana.

Na avaliação de Duanny Batista, professora de língua portuguesa do Centro de Ensino Fundamental nº 08 de Taguatinga (CEF 08 de Taguatinga), a formação necessária. “É uma necessidade latente e uma grande responsabilidade conscientizar os estudantes para que possamos ter uma sociedade mais consciente, mas para isso precisamos propor atividades pedagógicas que permitam a desconstrução de estereótipos e isso precisa ocorrer nas escolas”, destacou.Flávio Silva, professor de língua portuguesa no CEF 15 de Taguatinga, também participou da roda de conversa e contou que ele já trabalha com as temáticas afro-brasileiras e indígenas nas suas aulas. “Para isso, apresento textos para leitura e interpretação. Esse trabalho de desconstruir é importante, mas também traz problemas e questionamentos de diferentes atores no ambiente escolar. Por isso, é fundamental termos formação com pessoas que, realmente, representam essas diferentes culturas e toda a pluralidade que as envolve”, ressaltou o educador.

O debate vespertino

 

No turno vespertino, a atividade pedagógica trouxe como tema norteador das palestras a literatura infantil afro-brasileira e indígena. Foram realizadas duas palestras para os docentes da Educação Infantil e Anos Iniciais do Ensino Fundamental. Nôra Pimentel, educadora e mulher indígena, entoou um canto de proteção e depois ministrou a sua palestra intitulada “A contribuição das autorias indígenas para o trabalho pedagógico”.

Segundo ela, “a roda de conversa permite a troca de saberes e promove o conhecimento sobre a diversidade das culturas indígenas no Brasil.  Ao darmos visibilidade, fortalecemos a cultura, a conexão histórica, a identidade e o pertencimento dos povos originários”. Nôra é uma das ganhadoras do Prêmio Jabuti 2023 com a obra “Guerreiras da Ancestralidade”, na categoria Fomento à Leitura.

Em seguida, Dalva Martins de Almeida, professora da Secretaria de Educação do DF (SEE-DF) e doutora em Literatura pela UnB, palestrou sobre “Oralituras e corpos-baobás: discursos decoloniais na literatura infantil afro-brasileira contemporânea”. No entendimento da professora, “para trabalhar com as crianças é necessário começar com as origens, com a ancestralidade. Contamos histórias para sermos livres de nossas amarras, para que os pequenos possam compreender nossa identidade e para que possam ser protagonistas de suas vidas, que não há histórias únicas”.

André Bento informa que as palestrantes do turno vespertino levaram diferentes obras para que os(as) participantes evidenciassem a diversidade literária. Ele também comunica aos(às) professores(as) e orientadores(as) educacionais que participaram da roda de conversa que todos(as) vão receber certificado de participação.

 

Histórico

 

O projeto foi criado em 2021 com o nome Cidade Cor. Em 2023, foi rebatizado como o Projeto Taguatinga Plural – Educação Antirracista e Herança Indígena e só atendia ao tema afro-brasileiro. “Neste ano, a novidade é ampliação do escopo de atuação (que envolve também a questão indígena). Até o momento, das 67 escolas vinculadas à Coordenação Regional de Ensino de Taguatinga, 30 participam do projeto. Ao todo, mais 20 mil estudantes participam das atividades”, destacou o coordenador CRE de Taguatinga, Murilo Marconi.

Ainda segundo ele, o projeto atende à Lei 11.645/2028, que alterou a Lei nº 9.394/1996, que, por sua vez, foi modificada pela Lei nº 10.639/2003, a qual estabelece as diretrizes e bases da educação nacional a fim de incluir, no currículo oficial da rede de ensino, a obrigatoriedade da temática “História e Cultura Afro-Brasileira e Indígena”.

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Com Jacqueline Pontevedra/CRET. Foto: Susy/Unieb-CRET. Logo: Anaí Peña/Unieb – CRET.