Dia Mundial do Meio Ambiente e o “American first”

Cinco dias antes da comemoração do Dia Mundial do Meio Ambiente, comemorado em 5 de junho, o presidente Donald Trump retirou os EUA do Acordo de Paris – maior acordo internacional sobre clima da história. No dia 1º de junho, após várias ameaças, ele pôs em execução a promessa de campanha “para cumprir meu dever de proteger a América, os Estados Unidos vão se retirar do Acordo do Clima de Paris e começar renegociações para reentrar no acordo de uma forma que seja justa com o povo americano”, disse.
Donald Trump quer gerar empregos e assegurar a existência, nos moldes atuais, da extração de carvão e de petróleo. Para esse tipo de indústria existir é preciso eliminar as restrições ambientais e, com isso, quebrar o acordo que protegeria o mundo das mudanças climáticas. Assinado na capital francesa, em 22 de abril de 2016, o Acordo de Paris foi aprovado pelos 195 países Parte da UNFCCC para reduzir emissões de gases de efeito estufa (GEE) no contexto do desenvolvimento sustentável.
Os países signatários têm o compromisso de manter o aumento da temperatura média global em bem menos de 2°C acima dos níveis pré-industriais e de envidar esforços para limitar o aumento da temperatura a 1,5°C acima dos níveis pré-industriais. Para começar a vigorar, o acordo necessitava da ratificação de pelo menos 55 países responsáveis por 55% das emissões de GEE.
O tratado sobre o clima foi ratificado por mais de 130 países com metas para reduzir poluição emitida por fábricas, veículos e desmatamento e, assim, limitar o aumento da temperatura do planeta. O período para assinatura oficial do acordo, pelos países signatários, começou no dia 22 de abril de 2016 e se estendeu até 21 de abril de 2017.
Todavia, desde que começou sua campanha eleitoral, Donald Trump ataca as regulações ambientais e o acordo internacional do clima. Assim que ele foi eleito, a Agência de Proteção Ambiental estadunidense iniciou o desmonte das medidas climáticas aprovadas no governo do ex-presidente Barack Obama, batendo de frente contra a comunidade internacional e o multilateralismo.
Amparado pela população norte-americana que o elegeu por vários motivos, dentre eles pelo mote eleitoral relacionado ao acordo climático, cujo slogan era “America first”, Trump não se fez de rogado e, em vez de colocar o meio ambiente americano em primeiro lugar, não: pôs como meta primeira os possíveis postos de trabalho que a indústria de carvão e de petróleo poderiam gerar se ficassem livres das restrições ambientais.
Contudo, o ataque do presidente norte-americano às políticas para conter o aquecimento global nos EUA tem muitas frentes. Desde a área diplomática, ilustrada pelo gesto sectário durante a última reunião do G7, na Itália, quando ele fez questão de mostrar seu isolamento perante os líderes das outras seis maiores economias do mundo, os quais disseram que o combate às mudanças climáticas é prioridade, até sua demonstração de desdém ao acordo dentro dos EUA ao empreender o desmonte das políticas ambientais existentes.
Um levantamento do jornal The New York Times indica que, em apenas 100 dias, Trump desfez 23 regulamentações ambientais da era Obama e, entre as mudanças, está a que fala em “reescrever” o Plano de Energia Limpa (Clean Power Plan), uma das medidas ambientais mais importantes do governo anterior.
O plano do governo Obama se adequava ao Acordo de Paris e determinava a redução de emissões de usinas de energia já existentes nos Estados Unidos. Não está claro como ele será reescrito, exceto que deverá ser norteado pelo princípio de reduzir a dependência de outros países para energia e significar facilidades para a extração do carvão e do petróleo em solo norte-americano.
Outra medida de relevância ambiental é a que acaba com uma moratória nas concessões de novas áreas para a mineração de carvão em terras públicas norte-americanas. A moratória foi apresentada por Obama em 2016 com a previsão de que o programa deveria ter seus resultados reavaliados para saber se ainda valia a pena ser custeado pelo contribuinte. Trump não esperou a avaliação e apresentou uma resposta. Ele acha que vale o contribuinte custear uma operação cara e que danifica o ambiente se isso resultar em empregos para a indústria do carvão.
Para além do nacionalismo, a política de Donald Trump não vê fronteiras que impeçam impactos causados pela mudança nas médias de temperatura do planeta. Vale lembrar que o National Climate Assessment, um relatório feito por 300 cientistas norte-americanos na administração Obama, os Estados Unidos já estão enfrentando os efeitos de um clima desregulado, com ondas de calor intensas e mudança nos padrões de tempestades. A NOAA, uma agência que monitora os oceanos e a atmosfera dos EUA, aponta o aquecimento global no Ártico como uma possível causa dessas tempestades.
O fato é que o gesto arrogante do presidente norte-americano vai contra os interesses do mundo. Há décadas os países lutam para superar as ações e o modelo de desenvolvimento que deterioram o planeta e modificam seu clima, assumindo um esforço coletivo e mundial para adotar novas práticas. Para estimular isso, em 1972, a Conferência das Nações sobre o Meio Ambiente Humano criou, em Estocolmo, o Dia Mundial do Meio Ambiente e a Organização das Nações Unidas (ONU) instituiu e passou a comemorá-lo no dia 5 de junho.
Essa data, escolhida para coincidir com a data de realização dessa conferência, tem como objetivo principal chamar a atenção de todas as esferas da população para os problemas ambientais e para a importância da preservação dos recursos naturais, que até então eram considerados, por muitos, inesgotáveis. Hoje já se sabe que não são e que, até a água, é esgotável.
Vale lembrar que, se numa escala mundial, o gesto do presidente dos EUA afeta de forma negativa a preservação do meio ambiente no planeta, em uma escala local, nossos gestos diários também são responsáveis pela mudança de clima. O consumismo é um desses defeitos que atacam o planeta e geram mudança climática porque é ele que sustenta a produção desenfreada da indústria poluidora. O consumismo é responsável pela intensa produção de lixo, pela poluição e escassez das águas, entre outras atitudes erradas.
Importante observar que o modelo de vida que levamos baseado em relações econômicas e políticas capitalistas é a matriz da vida consumista, do desperdício e da cultura do descartável e do não reaproveitamento das coisas. A busca cada vez maior por lucro com produção industrial altamente poluente e a exorbitância de produtos para consumo, com alto nível de descarte, é uma das principais razões da crise ambiental que atravessamos hoje e que com a atitude autoritária e inconsequente do presidente norte-americano tende a piorar.
Cuidemos de nosso planeta e, para isso, é preciso repensar o modelo de desenvolvimento e de produção de energia. O capitalismo como é hoje já mostrou que prejudica mais do que melhora a vida na Terra.