Dia mundial da audição: os desafios aos brasileiros

Os dados são da Organização Mundial de Saúde (OMS): Mais de 1 bilhão de pessoas com idade entre 12 e 35 anos correm o risco de perder a audição devido à exposição prolongada e excessiva a música alta e outros sons recreativos. Isso pode ter consequências devastadoras para sua saúde física e mental, perspectivas de emprego e educação.

O tema do Dia Mundial da Audição de 2022, celebrado em neste 3 de março, é “To hear for life, listen with care!”, (“Para ouvir por toda a vida, ouça com cuidado!”). Nesta data, a OMS emitiu um novo padrão internacional para audição segura em locais e eventos, que se aplica a locais e atividades onde se toca música muito alta.

Esse novo padrão destaca seis recomendações de implementação para garantir que locais e eventos limitem o risco de perda auditiva para seus clientes:

  • Nível sonoro máximo de 100 decibéis
  • Monitoramento e registro de níveis de som usando equipamento calibrado por pessoal designado
  • Otimizar acústica do local e os sistemas de som para garantir uma qualidade de som agradável e uma audição segura
  • Disponibilizar proteção auditiva individual para o público, incluindo instruções de uso
  • Acesso a zonas de silêncio para as pessoas descansarem os ouvidos e diminuírem o risco de danos auditivos
  • Formação e informação para os trabalhadores

 

Perda auditiva devido a sons altos é permanente, mas evitável

A OMS incentiva os governos a desenvolverem e aplicarem legislação para ouvir com segurança e aumentar a conscientização sobre os riscos da perda auditiva. O setor privado deve incluir as recomendações da OMS para recursos de escuta segura em seus produtos, locais e eventos. Para motivar a mudança de comportamento, organizações da sociedade civil, pais, professores e médicos podem educar os jovens a praticar hábitos de escuta segura.

 

Dificuldades no Brasil

No país, a falta de inclusão das pessoas com deficiência começa do básico, desde as dificuldades de acesso à saúde e, muitas vezes, até no acesso à alimentação e à educação. Os mais de 10 milhões de brasileiros surdos, segundo dados divulgados em fevereiro de 2020 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), representam 5% da população brasileira e têm sofrido um golpe atrás do outro, graças à política econômica neoliberal do governo Jair Bolsonaro.

O Poder Legislativo também não ajuda. Desde setembro de 2018 repousa sobre a mesa da Câmara dos Deputados o projeto de lei aprovado pelo Senado com alterações (logo, deve ser revisto pelo plenário da Câmara) 1.361/2015, que passa a considerar como deficiente auditiva a pessoa com “limitação de longo prazo da audição unilateral ou bilateral, parcial ou total, a qual, em interação com uma ou mais barreiras impostas pelo meio, obstrui a participação plena e efetiva da pessoa na sociedade, em igualdade de condições com as demais pessoas”. A lei atual prevê que apenas a perda bilateral de audição configura a deficiência auditiva, mas pessoas com perda unilateral, embora não se enquadrem no conceito de pessoa com deficiência, tampouco são consideradas plenamente aptas a pleitear uma vaga no competitivo mercado de trabalho e costumam, por exemplo, ser eliminadas de processos seletivos quando a perda auditiva é constatada nos exames admissionais.

Se o mercado de trabalho se fecha em copas para os deficientes auditivos, na escola as dificuldades já se fazem presentes. “As escolas precisam estar preparadas para receber todas as pessoas, incluindo aí as pessoas com deficiência. Mas, até hoje, o Distrito Federal e o resto do Brasil ainda não mudaram as sirenes. Um som estilo ‘toque de recolher’, esse dispositivo também pode trazer grandes prejuízos e desconforto para a saúde dos estudantes, trabalhadores e comunidade escolar, incluindo aqueles que usam aparelho auditivo e implante coclear”, informa Carlos Maciel, diretor do Sinpro-DF.

Maciel lembra que tema já foi abordado no PL nº 235/2019, já aprovado pela Câmara Legislativa do Distrito Federal (CLDF) e veda o uso das sirenes nas escolas do DF. “Trata-se de um som muito alto que também pode provocar deficiência auditiva nas pessoas e, de acordo com a intensidade, incomoda, profundamente, pessoas com autismo. Atrapalha os cuidados com a audição”, afirma o diretor do Sinpro-DF.