Dia Internacional da Mulher denuncia o golpe em todo o país

Foto: Arquivo Sinpro-DF/Ecom

Neste 8 de março, as brasileiras não deixaram nenhuma região do país sem manifestações de protestos e sem demonstrar a insatisfação com os retrocessos impostos pelo golpe de Estado em curso no país desde 2016.
Em várias unidades da Federação, os protestos começaram pela manhã e prosseguiram o dia todo até à noite. Esse é o objetivo do Dia Internacional da Mulher: denunciar as injustiças, revelar os crimes cometidos contra as mulheres e divulgar a pauta da luta feminista em todo o mundo.
As brasileiras integraram as lutas feministas de todo o mundo à pauta nacional e mostraram que, no Brasil, dados atuais do próprio governo federal revelam que as mulheres têm rendimentos menores, jornada extra e menos participação política. Levantamento do IBGE revela que, apesar de mais escolaridade, as mulheres recebem em média três quartos a menos do que os homens.
Denunciaram outras injustiças sociais e violências contra a mulher que alinharam a pauta do 8 de março de 2018 do Brasil à de todo o mundo. Todavia, o tom por aqui foi teve suas peculiaridades porque levou às ruas denúncias contra empresários e todos os que patrocinaram o golpe em curso, exploram os trabalhadores e trabalhadoras e se apropriam dos recursos públicos e do patrimônio nacional. Alguns setores do movimento feminista declararam seu apoio a Lula.
Em Brasília, Distrito Federal, o ato público começou na praça do Museu da República, às 17h, e, após isso, seguiu em marcha, debaixo de chuva, pela Esplanada dos Ministérios. O Sinpro-DF e a categoria do magistério público realizaram uma Assembleia Geral, a partir das 14h30, no estacionamento do Teatro Nacional, e, no fim da atividade, professores(as) e orientadores(as) educacionais, bem com os(as) dirigentes sindicais da entidade, somaram-se ao ato de protesto do Dia Internacional da Mulher.
De manhã e de tarde, outros atos e marchas se espalharam de Norte a Sul. Em Belo Horizonte, Minas Gerais, cerca de mil mulheres ocuparam a sede do Tribunal Regional Federal (TRF) e denunciaram o caráter elitista, antidemocrático e antinacional da Justiça brasileira. As mineiras haviam ocupado a Assembleia Legislativa estadual desde quarta (7), como protesto contra o retrocesso nos acordos entre o Ministério da Justiça e os movimentos sociais.
No Rio de Janeiro, dentre várias atividades, um grupo de mulheres ocupou o parque gráfico do jornal O Globo e, apesar da chuva, milhares foram à Praça da Candelária e ocuparam o centro da cidade em defesa dos direitos, da democracia e pelo fim da intervenção militar.
Em São Paulo, 15 mil mulheres marcharam contra os retrocessos sociais e participaram do ato público, que começou às 16h, em frente ao Shopping Paulista. Elas percorreram a Avenida Paulista com a pauta unificada em defesa da democracia, da soberania nacional, da reforma agrária e contra a reforma da Previdência.
Em Curitiba , organizadas pela Via Campesina e organizações feministas, as mulheres do Movimento dos Trabalhadores Rurais e Sem Terra (MST) e do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) realizaram uma passeata do Incra até a Boca Maldita e ocuparam o centro da cidade para reivindicar reforma agrária e o fim da violência contra as mulheres.
Em Santa Catarina, mulheres MST ocuparam a sede da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), na grande Florianópolis, reivindicando cesta básica para os acampamentos e agilidade no Programa de Aquisição de Alimentos (PAA).
Em Porto Alegre, Rio Grande do Sul, milhares de mulheres protagonizaram um ato público em que defenderam a democracia e a soberania nacional e fizeram um protesto simbólico contra o feminicídio. Na frente do Tribunal Regional Eleitoral da 4ª Região (TRF-4), protestaram contra a criminalização dos movimentos populares, a seletividade da Justiça e o auxílio-moradia dos juízes.
Em Colatina, Espírito Santo,  cerca de 600 mulheres protestaram contra a reforma da Previdência. Nessa ação, participaram mulheres do MST, do Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA), do MAB, da Federação dos Estudantes de Agronomia do Brasil (FEAB) e diversos sindicatos da região.
No Rio Grande do Norte, aproximadamente 800 mulheres do MST e da Marcha Mundial das Mulheres (MMM) puseram em ação a Jornada Internacional de Luta das Mulheres, ocuparam e paralisaram a produção do Grupo Guararapes, em Extremoz, a 23 km de Natal. Essa empresa pertence a Flávio Rocha, proprietário das Lojas Riachuelo. A Riachuelo é uma das empresa condenadas, em 2016, por submeter costureiras a trabalho escravo.
Rocha é também um dos empresários que contaram com o apoio financeiro do BNDES durante os governos democrático-popular, porém, investiu contra o mandato da ex-presidenta Dilma Rousseff, contra os direitos da classe trabalhadora e a favor do golpe. Incentivou a materialização do impeachmente, da reforma trabalhista e investe fortemente em favor da reforma da Previdência.
Ele é aliado do político Rogério Marinho (PSDB), que tem apresentado projetos de lei ligados ao Programa Escola sem Partido que prejudicam profundamente o exercício do magistério, institui a perseguição política nas escolas e eliminam a liberdade de cátedra no magistério público. Ele tem apresentando propostas de leis que prejudicam os(as) professores(as), o setor da educação e o direito do(a) estudante a ter acesso ao conhecimento histórico-artístico-cultural-científico.
Em Porto Velho, Rondônia, mulheres da Via Campesina e do Levante Popular da Juventude bloquearam acessos aos portos de gás e gasolina. No Pará, as mulheres realizaram uma manifestação contra a Usina de Belo Monte e denunciaram o aumento da violência na região após a instalação da hidrelétrica. Em Belém, camponesas realizaram um escracho contra a multinacional Hydro, na Amazônia, empresa responsável pelo crime ambiental no município de Barcarena.
No Piauí, mulheres sem-terra ocuparam o Incra, em Teresina, e exigiram a solução para os entraves que impedem a reforma agrária. Na Bahia, em Santo Sé, sem-terra ocuparam a fazenda Frutmag, do Grupo Magnesita, que, em 2013, demitiu 1.800 trabalhadores. Em Boa Vista do Tupim, na Chapada Diamantina, houve ocupação da Prefeitura com o lema da defesa da democracia e em favor da reforma agrária.
Ainda na Bahia, 600 mulheres do campo e da cidade tomaram as ruas de Feira de Santana para lutar por mais direitos, democracia e autonomia. No município de Vitória da Conquista, 300 manifestantes denunciaram o prefeito Herzem Gusmão (MDB, ex-PMDB), que tem apoiado o pacote de projetos do governo Michel Temer. Em Valença, no Baixo Sul do estado, 300 mulheres sem-terra ocuparam uma fazenda improdutiva voltada à criação de gado.
Em Mato Grosso, houve ocupação da fazenda Entre Rios, no município de Jacira. Trata-se de um imóvel rural penhorado pelo Banco do Brasil por empréstimos vencidos e dívidas com a Receita Federal. Em Pernambuco, o Fórum de Mulheres do Araripe realizou protesto contra o fechamento das escolas do campo. Em São Luís, no Maranhão, mulheres ligadas ao MST protestaram em frente à Assmbleia Legislativa e denunciaram a violência no campo que assassinou, em 2017, 65 pessoas em conflitos rurais no Brasil.
No Ceará, mais de 10 mil mulheres foram às ruas de Fortaleza e, em Aracajú, capital de Sergipe, houve um ato na porta do Poder Judiciário, para denunciar a omissão da Jusitça em relação á violência contra as mulheres. Só em Aracaju, segundo denúncia do movimento feminista, houve 15 casos de feminicídio entre 206 e 2018.
Em todo o país, as mulheres foram à luta. Os protestos extrapolaram as ruas e adentraram a internet. Nas redes sociais, um twitaço com a #8McontraGlobo foi o terceiro assunto mais comentado na manhã da quinta-feira (8).