Desfile fora de época das Forças Armadas, ameaça de golpe, voto impresso: a democracia ameaçada

Na manhã desta terça-feria (10), uma professora da Universidade de Brasília (UnB), Zélia Leal Adghirni, postou no Facebook uma reação que expressa o sentimento do Brasil. Ela postou a Com a frase “Inacreditável o que está acontecendo….”, ela comenta a postagem de uma ilustração no feed do jornalista Beto Seabra sobre os tanques de guerra na Esplanada dos Ministérios no dia previsto para discussão e votação da PEC do Voto Impresso, de autoria do governo Jair Bolsonaro (ex-PSL), no Plenário da Câmara dos Deputados.

 

As Forças Armadas fizeram um desfile militar “inédito” na Esplanada dos Ministérios e estacionaram os tanques de guerra blindados em frente ao Palácio do Planalto com os canhões apontados para o Supremo Tribunal Federal (STF), nesta terça-feira (10/8), e, com eles, havia um grupo de manifestantes reivindicando a destituição dos ministros do STF. Durante o espetáculo, a Polícia Militar rendeu e prendeu o músico Fabiano e Silva Leitão, o TromPetista, que manifestava contra a ação autoritária do governo Bolsonaro.

 

abiano e Silva Leitão, o TromPetista, sendo imobilizado pela PM, na manhã desta terça-feira (10)

 

As cenas da manhã desta terça-feira chocaram os brasileiros e mobilizaram o País inteiro contra uma possível nova tentativa de golpe militar. Em Brasília, um grupo denominado Geração 68 também foi à Esplanada dos Ministérios protestar contra o golpe com flores, cartazes e palavras de ordem em defesa da democracia e pelo #ForaBolsonaro. O “desfile” de canhões de guerra blindados, segundo as Forças Armadas, teve o objetivo de levar ao presidente Jair Bolsonaro (ex-PSL) um convite para ele assistir à chamada Demonstração Operativa, a ser realizada no município de Formosa, Goiás.

 

 

Prisão de Fabiano e Silva Leitão, o TromPetista

 

O espetáculo foi considerado um gesto autoritário, inapropriado, uma afronta à democracia e uma ameaça concreta às instituições democráticas do Brasil. Senadores e deputados federais foram para a frente do prédio do Congresso Nacional com cartazes e manifestaram contra o desfile. Na CPI da Covid-19, os senadores discursaram em defesa da democracia, das instituições e repreenderam os senadores que defenderam a ação autoritária. Parlamentares que defenderam a democracia e criticaram a ação do Presidente da República e das Forças Armadas lembraram dos fatos históricos recentes cometidos pela ditadura militar e citaram dados concretos de corrupção dos últimos 3 anos do governo federal, sobretudo de desvio de dinheiro público do combate à pandemia, o que, segundo eles, tem resultado numa mortandade evitável de centenas de milhares de brasileiros em apenas 15 meses. A não gestão da pandemia pelo governo Bolsonaro é uma das maiores tragédias sem precedentes do País com mais de 570 mil brasileiros mortos pela Covid-19 até o momento.

 

 

Parlamentares foram para a frente do Congresso Nacional se manifestarem contra as ameaças à democracia

 

 

 

A diretoria colegiada do Sinpro-DF alerta para o fato de que esse tipo de ação, envolendo as Forças Armadas, representa mais uma atitude antidemocrática do Presidente da República. “São gestos autoritários e antidemocráticos diários que ganham força a partir do Palácio do Planalto. Fazem parte das ações insufladas e estimuladas pelo próprio Jair Bolsonaro, eleito pelo voto direto e democrático, confirmado nas urnas eletrônicas. Mesmo sendo eleito pelo voto direto e eletrônico, ele não respeita a Constituição Federal e nem os Poderes da República e ameaça, diuturnamente, a democracia”, analisa.

 

Nas redes sociais, novo ambiente de manifestação política e termômetro da vontade do povo, houve uma explosão de críticas ao Presidente da República e às Forças Armadas e à PEC do Voto Impresso. Mas o que isso tem que ver com a carreira do Magistério Público do Distrito Federal?  Na visão de especialistas, a adoção do voto impresso representa o retorno das fraudes no processo eleitoral, o que coloca a o Estado democrático de direito vulnerável e, consequentemente, todas as conquistas trabalhistas, sociais, educacionais desprotegidas.

 

“Há apenas três décadas, após mais de 20 anos de uma ditadura militar, civil e empresarial sanguinária, corrupta e autoritária, o Brasil retomou Estado democrático de direito, consolidado pela Constituição Federal de 1988, que garantiu educação pública, gratuita e de qualidade ao País, concurso público como via democrática para acesso aos cargos públicos e outros direitos que não existiam antes da CF/88. Por isso, e por muitos outros motivos, o desfile das Forças Armadas na Esplanada dos Ministérios tentando demonstrar autoritarismo e repressão, bem como a PEC do voto impresso, representam mais um golpe contra a Educação e o Magistério Público do DF”, afirma a diretoria colegiada do Sinpro-DF.

 

Na eminência de perder a Presidência da República para o voto direto e popular, em 2022, começa a criar um clima de golpe contra a democracia, que está sendo testada mais uma vez desde 2016, de todas as formas. “Testadas no sentido de identificar a resistência que a gente tem nas instituições democráticas do País, que vivem hoje sob ameaças contínuas de uso das Forças Armadas contra a estabilidade democrática e a Constituição Federal”, observa Cláudio Antunes, diretor do Sinpro-DF.