Descrença no futuro é projeto para inviabilizar um outro Brasil

Fome, miséria, desemprego, casos correntes e impunes de corrupção; tristeza, desesperança. Não seria equivocado dizer que tudo isso impulsiona a população a criar uma perspectiva de futuro perverso. Entretanto, para o economista Márcio Pochmann, a descrença no futuro não é exclusivamente a compreensão (e a vivência) do presente, mas sobretudo uma imposição feita pelas classes dominantes interessadas em não alterar estruturas. A aula magna realizada nesta quinta-feira (7) abriu o 12º Congresso de Trabalhadores(as) em Educação, realizado no Centro de Convenções Ulysses Guimarães.

“Vivemos num momento em que há o cancelamento do futuro do Brasil”, afirma Pochmann. Essa aparente impossibilidade de se ter um futuro, segundo ele, se torna meio para implementação de projetos arrasadores, como a reforma da Previdência. A proposta, implementada em 2016, ganhou o apoio de parte importante da população ao impor que não haveria possibilidade de futuro – discurso ecoado pelos meios de comunicação tradicionais. “Toda vez que há uma possibilidade de mudança, as classes dominantes optam por apresentar as questões de ‘emergência’”, disse Pochmann, e continuou: “a direita se organiza quando a democracia não oferece resultados concretos”.

Foto: Deva Garcia

 

Para o economista, “vivemos uma sociedade de classes sociais, e em geral, a responsabilidade de pensar o futuro é dado ao ‘andar de cima’, pois no ‘andar debaixo’, dirão que não há possibilidade de pensar no Brasil do ano que vem, pois não se sabe se estarão vivos diante das necessidades que passam”.

Ao abrir as reflexões no 12º CTE, Pochmann foi incisivo ao afirmar que o futuro do país, considerando um outro Brasil possível, está nas mãos da classe trabalhadora, das organizações sociais de esquerda, do povo. “Fazem um debate pobre, miserável, que nos impede a utopia, o pensar que o amanhã pode ser melhor do que hoje. É possível, mas é preciso que estejamos organizados”, acredita.

A partir de análise da história do país, Pochmann lembrou que o Brasil, em 1935, tinha um partido fascista como o maior do país, com “1,2 mil organizações, 100 jornais”. “Esse fascismo de hoje é ‘fichinha’”, comparou o economista.

Ele lembrou que as mudanças que abalaram o sistema, como o fim da escravatura ou o voto das mulheres, foram construídas com o pensar no futuro, o acreditar no futuro, de forma organizada, coletiva. “Ao compreender o futuro, é preciso intervir sobre ele. A história está nas nossas mãos, mas precisamos romper com o diagnostico que nos faz acreditar que o futuro é pior do que o presente”, provoca Pochmann.

Embora o presente atordoe “quem não está no andar de cima”, como definiu Márcio Pochmann, o economista encoraja a mudança trazendo à tona a própria história. “Se contrapor à mesmice está na identidade da classe trabalhadora. Não há nada que nos impeça de fazer isso, a não ser o medo. Não tenho dúvidas de que um evento como esse (12º CTE) é capaz de mudar isso”, alertou.

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12º CTE
O 12º Congresso de Trabalhadores(as) em Educação continua nesta sexta (8) e sábado (9). Nesta edição, o lema do Congresso é “Um outro Brasil é possível”, e os eixos de debate serão fundamentados nos seguintes temas: conjunturas internacional, nacional e local; defesa da educação pública, gratuita, de qualidade, laica e socialmente referenciada; organização e estrutura sindical; e Plano de Lutas para o próximo período.

Saiba mais sobre o 12º CTE em https://bit.ly/39ZjzXl