Deputado denunciado por corrupção com vacina Covaxin ataca e ofende professores da rede pública

Em abril, o deputado federal Ricardo Barros (PP-PR) disse à mídia que “só professor não quer trabalhar na pandemia”. Dois meses depois, graças à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Pandemia da Covid-19, o Brasil descobriu como é o trabalho dele. Segundo a imprensa, Ricardo Barros é acusado de ser o chefe do esquema de corrupção por trás da compra da Covaxin e que atua “com negócios privados com dinheiro público, lucros e propinas em troca de vidas humanas”.

 

O próprio Presidente da República, que o escolheu para líder do governo, e seus colegas de Centrão, como o deputado Luís Miranda (DEM-DF), apontaram seu envolvimento no caso de corrupção nas compras de vacinas Covaxin e outras, que deveriam compor o rol de imunizantes para combater o avanço descontrolado e sem política pública da pandemia do novo coronavírus.

 

Ele também está envolvido na denúncia acerca do suposto pedido de propina feito pelo diretor do Departamento de Logística (DLOG) do Ministério da Saúde, Roberto Ferreira Dias, que teria negociado vacinas da AstraZeneca com a empresa Davati Medical Supply. Nessa negociação, o funcionário queria receber 1 dólar por dose de vacina, ou seja, queria pôr em curso a “rachadinha da vacina”, como vem sendo divulgada essa corrupção. Demitido nesta semana, Roberto Dias foi indicado para o Ministério da Saúde por Ricardo Barros.

 

Além de dizer que professor não quer trabalhar, ele também expressou seu ódio de classe, seu desconhecimento sobre a realidade laboral dos(as) professores(as) da rede pública do Brasil e seu cinismo “de casta política privatista que joga para o público se dizendo preocupada com a educação” com outras ofensas, tais como: “O professor não quer se modernizar, não quer se atualizar. Já passou no concurso, está esperando se aposentar, não quer aprender mais nada”.

 

Barros é o condutor da maioria de parlamentares do Congresso Nacional obediente no sentido de defender seus próprios interesses e de blindar o presidente Jair Bolsonaro contra o impeachment. Elevado a deputado mais poderoso no Parlamento, ele foi alçado a representante de Bolsonaro perante o Centrão, um grupo grande de políticos que usa o Congresso Nacional como balcão de negócios privados e que proferem declarações desse tipo como fórmula de efeito para alinhavar um fundamento que sustente seu objetivo e sua presença na política nacional: a de privatizar serviços essenciais e fundamentais para a população, como educação e saúde.

 

Ele é um dos grandes apoiadores da PEC 32/2020. Ou seja, faz parte do grupo de políticos que “trabalha” para o desmonte do Estado nacional por meio de reformas à Constituição entreguistas, que transformam o Brasil em neocolônia de países ricos e de empresas multinacionais, como a reforma administrativa, contrária aos interesses do País. O Sinpro-DF tem explicado, sistematicamente, com comprovações, que o objetivo dessa reforma é justamente acabar com a estabilidade para dar aos políticos semelhantes a ele o poder de perseguir, demitir e até assassinar servidores que denunciam falcatruas com dinheiro público, como essa corrupção com a compra da vacina Covaxin e outras, e transformar os cargos públicos em objeto de lucro.

 

Pandemia ampliou a jornada de trabalho dos professores

 

Ricardo Barros é desses parlamentares eleitos em 2018 que querem desqualificar os(as) servidores(as) públicos(as) para justificar seus crimes e, ao mesmo tempo, privatizar a Administração Pública. Para ele é importante esconder, por exemplo, a intensificação absurda a que os professores da rede pública de ensino brasileira foram submetidos desde o primeiro dia da pandemia. Uma pesquisa do Sindicato dos Professores do Estado do Rio de Janeiro (ASDUERJ) confirma essa intensificação. E vai mais além, constata e denuncia a uberização, youtuberização e vários outros tipos de precarização do trabalho docente.

 

Dirigida pela professora e diretoria da Asduerj, Amanda Moreira, o levantamento identificou a intensificação que acontece na vida do(a) professor(a) por causa dessa imbricação que ocorre entre vida e trabalho, essa não separação de casa e trabalho e, ao mesmo tempo, um aumento considerável da jornada. “A gente já vinha identificando no nosso movimento docente, nas plenárias, nas assembleias, e a gente resolveu fazer a pesquisa para ter, de fato, esses dados”, afirma.

 

Doutora em educação, Amanda é pesquisadora, na Uerj, do tema da precarização do trabalho docente no Brasil em todos os níveis, incluindo aí a educação básica. Ela coordenou a comissão da pesquisa e afirma que “identificamos intensificação do trabalho quando 44,7% dos docentes afirmaram que trabalharam entre 9h e 12h por dia e, 14%, declaram que trabalharam mais de 12 horas por dia”, diz.

 

Na demonstração dos resultados, ela afirma que, “considerando que a maior parte dos professores são 40 horas, ou seja, uma carga horária diária de 8 horas, a gente vê que grande parte dos docentes está trabalhando muito além da carga horária contratual”. Apenas 35% dos respondentes disseram que ficaram dentro da carga horária: dentro das 8 horas diárias.

 

Outro dado constatado foi o de que 71,6% dos participantes responderam que houve aumento da sua carga horária de trabalho em comparação com a períodos anteriores à pandemia do novo coronavírus. “É importante ter essa diferenciação, quando a gente faz essa pergunta, para entender essa diferença, visto que já havia uma intensificação do trabalho docente em períodos anteriores à Covid-19. Só que, com a pandemia, aumentou ainda mais e os próprios docentes reconhecem”, analisa a professora.

 

Além disso, 35% afirmou que trabalhou nos fins de semana sempre; 36% afirmou que trabalhou frequentemente nos fins de semana; 20% respondeu que trabalhou algumas vezes; apenas 6% dos respondentes afirmaram que, raramente, trabalharam nos fins de semana; e, apenas 2% afirmou que nunca trabalhou nos fins de semana. Nos feriados, foi a mesma coisa: apenas 3,3% dos docentes afirmaram que nunca trabalharam nos feriados. “A gente vê aí uma naturalização desse trabalho fora da jornada do tempo semanal. Então, trata-se de uma questão aí para a gente pensar”, observa.

 

“Isso é rolo do Barros”: atribuída a Bolsonaro, frase traça perfil do deputado

 

Ricardo Barros, segundo a mídia, é um dos parlamentares envolvidos em pelo menos dois esquemas de corrupção de compra de vacinas com preços acima da média, ambos na mira da CPI da Pandemia. O ruidoso caso envolvendo Barros tem relação com a negociação de compra da vacina Covaxin, do laboratório indiano Bharat Biotech, depois que o servidor de carreira do Ministério da Saúde, Luis Ricardo Miranda, e o irmão deputado federal Luis Miranda (DEM-DF), revelaram pressão “atípica” para agilizar a liberação da vacina indiana.

“Isso é rolo do Barros”, teria dito Jair Bolsonaro, quando foi alertado sobre a possível fraude em um contrato milionário para compra da Covaxin, vacina intermediada pela Precisa Medicamentos. A Precisa pertence a Francisco Maximiano, nome próximo ao deputado desde que dava seus primeiros passos na política em Maringá, cidade onde seu clã domina o espaço político. Em vez de se debruçar sobre a denúncia, Bolsonaro desqualificou quem tinha informações sobre um eventual esquema de corrupção no seu governo.

Além disso, ele é envolvido em uma suposta irregularidade cometida durante seus anos de ministro da Saúde, entre 2016 e 2018, no governo de Michel Temer, ou seja, no governo do golpe de Estado de 2016. Quando foi ministro da Saúde no governo Temer, ele foi evidência no noticiário ao criticar o Sistema Único de Saúde (SUS). Em 2016, segundo a mídia, “ele sugeriu uma ‘repactuação’ do SUS, que ‘gastava’ muito em “exames”) e por sugerir planos populares para financiar a Pasta”.

A mídia diz, ainda, que, “em fevereiro deste ano, colocou novo veneno a sua retórica, ao sugerir ‘enquadrar’ a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) em entrevista concedida ao jornal O Estado de S. Paulo, após insinuar que a agência não estaria agindo com a celeridade devida e estaria ‘fora da casinha’. Também andou ofendendo e desafiando o Poder Judiciário.
O Ministério Público Federal (MPF) o acusa de ter beneficiado a Global Gestão em Saúde quando ele era ministro no governo Temer. A empresa ofereceu o “menor” preço, mas não entregou os medicamentos que seriam destinados a pacientes com doenças raras. O governo federal desembolsou R$ 19,9 milhões e até hoje os remédios não chegaram às prateleiras.

O caso que ganhou o noticiário entre 2016 e 2018 tem forte contorno na atual crise uma vez que Maximiano é sócio tanto da Global como da Precisa, empresa alvo da CPI da Pandemia na qual os irmãos Miranda apontaram Barros como a autoridade que estaria fazendo pressão para o Governo dar celeridade ao contrato mesmo, segundo eles, diante de irregularidades.

 

Em 2020, o Ministério Público do Paraná (MP-PR) cumpriu, na manhã de 16/9, em Maringá, um mandado de busca e apreensão no escritório dele. O parlamentar é acusado de receber R$ 5 milhões em propina para intermediar negócios ligados à Companhia Paranaense de Energia (Copel). De acordo com o Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) do MP, as investigações contra Barros envolvem fraudes na contratação de energia eólica.

Os fatos começaram a ser apurados com base na delação premiada da empreiteira Galvão Engenharia. Na época, a Gaeco declarou que as fraudes começaram entre 2011 e 2014, o deputado está sendo investigado por corrupção e lavagem de dinheiro.

A sua trajetória no campo das falcatruas para levar o dinheiro público para seu próprio bolso vem de longa data. Ele ainda integrava o extinto PFL quando deu as costas para seus correligionários e foi o único representante do partido a votar contra a emenda que autorizou a reeleição de Fernando Henrique Cardoso (1994-1998).

 
 

MATÉRIA EM LIBRAS