De mortes por Covid a prejuízo na dedução do IR: nunca é culpa de Bolsonaro

Bolsonaro e sua equipe deram mais uma prova de que saem pela tangente quando vêm à tona projetos que prejudicam a população e os efeitos perversos da política implementada. O último exemplo foi apresentado com o documento vazado do Ministério da Economia, que defende a retirada de gastos com saúde e educação das deduções do Imposto de Renda da Pessoa Física (IRPF).

Logo após a divulgação do documento pelo Estadão, o ministro da Economia, Paulo Guedes, disse que “refuta a alegação de que pretende acabar com as deduções” e classificou a medida como “totalmente descabida de fundamento”.

O fato é que o documento, elaborado após o primeiro turno das eleições, calcula uma economia de R$ 30 bilhões para o governo (R$ R$ 24,5 bi com as despesas médicas e R$ 5,5 bi com a educação), em um momento em que o alto escalão faz contorcionismo para compensar as promessas feitas com o objetivo de impulsionar a campanha de Bolsonaro para reeleição à presidência da República.

Bolsonaro também disse não ter culpa pelas mortes no Brasil em decorrência da Covid-19, hoje calculadas em 842 mil. Em abril de 2020, um dia após o país ter ultrapassado a China no número de óbitos gerados pela doença, Jair Bolsonaro disse que não adiantava a imprensa colocar o caso “na conta” dele, e empurrou a culpa para os governadores dos estados. “Eu não sou coveiro, tá certo?”, disse Bolsonaro a uma jornalista que o questionava sobre o número de mortos vítimas da Covid-19.

Paralelamente, além de se colocar categoricamente contrário ao isolamento social necessário à época, no pico da pandemia, o governo brasileiro recusou 11 vezes ofertas para compra de vacinas contra o vírus, isso contando apenas os casos documentados.

Também ficou na conta dos governadores o desemprego, acumulado, sobretudo, no período da pandemia. Para Bolsonaro, os governadores que seguiram a orientação da OMS (Organização Mundial de Saúde) e decretaram o isolamento social à época devem se responsabilizar pela perda do posto de trabalho de milhares de brasileiros. “Não queiram colocar no meu colo. Compete aos governadores a solução desse problema que está acontecendo quase no Brasil todo”, falou a apoiadores, em frente ao Palácio da Alvorada, em junho de 2020.

Para o presidente da República mais criticado por governos internacionais na história do Brasil, a violência cometida por seus apoiadores contra quem diverge ideologicamente também não é culpa dele. “Vamos metralhar a petralhada”, “não vou combater nem discriminar, mas, se eu vir dois homens se beijando na rua, vou bater”, “minoria tem que se calar, se curvar a maioria”, “o erro da ditadura foi torturar e não matar” e “a propriedade privada é sagrada. Temos que tipificar como terroristas as ações desses marginais. Invadiu? É chumbo!”, são alguns dos discursos de ódio feitos por Bolsonaro ao longo de sua carreira política.

Segundo a Agência Pública, ainda em 2018, apoiadores de Bolsonaro realizaram ao menos 50 ataques em todo país. De lá pra cá, centenas de outros casos foram registrados, inclusive mortes. Benedito Cardoso dos Santos, de 42 anos; Marcelo Arruda, de 50 anos; e Mestre Moa do Katendê, 63 anos, são algumas das vítimas fatais que ganharam as páginas de jornais.

A violência contra a vida de representantes de cargos eletivos, candidatos ou pré-candidatos também aumentou. Segundo o relatório “Violência Política e Eleitoral no Brasil”, de 2020, elaborado pela Terra de Direitos e Justiça Global, os casos de assassinato e atendado contra agentes políticos saltaram de 19, em 2017, para 27 até novembro de 2020.

Relatório da Violência contra Jornalistas e Liberdade de Imprensa no Brasil, realizado pela Fenaj (Federação Nacional dos Jornalistas), registrou 430 casos de agressões a jornalistas em 2021. A violência, segundo o relatório, tem caráter institucionalizado pelo Estado brasileiro, uma vez que o principal agressor da categoria é o presidente da República Jair Bolsonaro. Ele é responsável por quase quatro agressões em cada dez registradas no ano passado.

Já a pobreza, para Bolsonaro, é culpa da própria vítima. “Os pobres são pessoas que foram ao longo dos anos acostumadas a não se preocupar, ou o Estado negar uma forma de ela aprender uma profissão”, disse ao canal Rede Viva, em setembro deste ano. Hoje, de acordo com o Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da Covid-19 no Brasil, são 33,1 milhões de brasileiros em algum grau de insegurança alimentar. Aliás, esse dado também é negado por Bolsonaro, que diz  não existir “fome pra valer” no Brasil. Nesta quarta-feira (26/10), foi publicado que, com Bolsonaro, o CadÚnico (Cadastro Único para programas sociais do governo federal) registrou aumento de 10 milhões de pessoas na miséria: o maior número alcançado desde a criação do programa, em 2001.

Qual o nome dado àquele que não assume os próprios erros? Alguns podem chamar de narcisista. Outros, de covarde. Sem uma análise técnica ampla e especializada da pessoa em foco, não há como chegar a um diagnóstico. A única coisa que se pode ter certeza é de que a ausência de reais culpados é a causa da falta de soluções para problemas que fazem um povo inteiro padecer.

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