“Davi” das comunicações faz 23 anos

Uma história de luta contra os gigantes da comunicação e em defesa das causas populares. É com orgulho e alegria que a TV Comunitária de Brasília completa, nesta quinta-feira (13), 23 anos de existência. Uma trajetória digna de Davi na sua luta contra Golias, à altura da ética e da independência que devem pautar um veículo de comunicação.

Sempre levando ao público os temas da classe trabalhadora, ela se consolida como espaço midiático de resistência e de liberdade para divulgação de pautas e abordagens proibidas na mídia comercial.  São também 23 anos de parceria com o Sinpro-DF. “Parabenizamos a TV Comunitária por cumprir esse papel de estar lado a lado com a classe trabalhadora, levando a informação com precisão e responsabilidade”, afirma a diretoria colegiada do sindicato.

“Comemoramos também a parceria com o SinproDF. Essa parceria sempre existiu, desde 1997, e, a cada ano, tem se intensificado, justamente porque o Sinpro compreende que um dos nossos grandes desafios é romper com este oligopólio, esta concentração da propriedade da mídia existente no Brasil, que determina, diariamente, o que a população deve saber, pensar e discutir, e sempre com pautas colonialistas, entreguistas e contrárias aos interesses da classe trabalhadora”, informa Rosilene Corrêa, diretora do Sinpro-DF e vice-presidente da TVCOM.

Ela destaca que a TVCOM é o único espaço midiático em que a categoria dos(as) trabalhadores(as) da educação tem tempo disponível e liberdade de pautar suas lutas, desde a pauta trabalhista até temas relacionados à educação pública, gratuita, laica, emancipadora, libertadora, inclusiva e socialmente referenciada. “O nosso sindicato sempre acreditou numa outra comunicação social democrática e se posicionou contra a concentração da propriedade da mídia e da pauta que esse oligopólio impõe ao Brasil sempre defendendo os interesses comerciais de grandes donos de empresas”, declara Rosilene.

PAUTA E TEMAS PROIBIDOS
O jornalista Paulo Miranda, um dos fundadores e atual presidente da TVCOM, diz que todos que integram a televisão comemora esses 23 anos com muita alegria e orgulho. “Nascemos em 1997, pobres. Vieram os governos populares, continuamos pobres. O País voltou a governos antidemocráticos e autoritários, como é este, de Jair Bolsonaro, e continuamos na mesma trincheira: pobres, e fazendo a mesma luta em defesa dos temas da classe trabalhadora e soberania do País”.

Ele afirma que a TVCOM se torna cada dia mais importante porque a tirania midiática continua cada vez mais forte. “Nesses 23 anos constatamos diferentes situações políticas no Brasil e não pudemos, em nenhum momento, criar mecanismos para fortalecer uma comunicação alternativa. A TVCOM é o único espaço no qual se pode criticar o conjunto de temas proibidos na mídia convencional. A importância dela se mede nisso: em podermos falar determinadas coisas, tais como o problema da própria mídia, da reforma agrária, do MST – que aparece com frequência por lá –, dos setores progressistas da Igreja, das comunidades reprimidas, criminalizadas, população de rua – que tem até um programa”.

O ex-presidente e também fundador da TVCOM, jornalista Beto Almeida relata que, nessas duas décadas, a TV pautou temas com abordagens distintas da mídia comercial, como a reforma agrária e urbana; democratização da comunicação; cumprimento da Constituição de 1988; da auditoria da dívida pública; revisão das privatizações; unidade latino-americana; apoio aos processos progressistas, transformadores e revolucionários em Cuba. “Nossa pauta mostra acordos que o Brasil deve fazer com a China, Rússia, Cuba, Venezuela, com um Mercosul popular, que não seja só comercial e sim também cultural, educativo, social”.

Almeida assegura que a TVCOM é um espaço de resistência, “apropriado para o grande debate, como o da ecologia, questão de gênero e agrária, econômico-financeiro – sempre proibido – sobre a auditoria da dívida e a tirania financeira. Isso tudo nós seguimos fazendo. Debatemos todas essas teses exaustivamente, as quais sempre defendemos e continuamos a defender até porque a agenda política brasileira sofreu uma regressão”, comenta o jornalista.

Ele destaca ainda a importância das parcerias com os movimentos sindical, social, populares. “É muito importante que o conjunto das forças progressistas enxerguem na TVCOM uma ferramenta sua. Ela é uma ferramenta de todos os movimentos porque é lá o local em que essas forças podem expor suas teses sem manipulação, com o tempo necessário para explicar, fazer uma mensagem sem nenhum tipo de censura e, ao mesmo tempo, buscar uma relação de pertencimento porque a TVCOM não é uma empresa. Ela não dá lucro”.

BREVE HISTÓRIA
No começo, a TVCOM oferecia apenas 2h de programação por dia. “Tínhamos de levar uma fita no Sindicato dos Jornalistas do Distrito Federal (SJPDF), local que acolhia, em um cubículo, a sede da TVCom. Nesse local havia um videocassete no qual a gente exibia uma fita por 2h. E era só 2h de programação por dia. O resto eram selinhos.  A TV expandiu. Hoje oferece 24 horas de programação”, comemora Beto Almeida.

Além disso, nessas duas décadas, construiu alianças, convênios, parcerias com várias entidades. Passou a retransmitir a Telesur e comentários de Cuba, Nicarágua, Irã, Angola, Venezuela. Fez acordos com a TV Educativa do Paraná, quando Roberto Requião, ex-governador, era governo.

“Também produziu programas de debates em comum acordo com a TV Paraná, os únicos espaços nos quais se podia fazer uma comunicação de fato, alternativa, anti-imperialista, democrática e podia criticar a tirania da mídia conservadora do grande capital e do sistema financeiro”, completa Paulo Miranda. Atualmente, a TV oferece um conjunto de programas muito interessante, até mesmo um programa de TV apresentado por um deficiente visual, o professor Antônio Leitão. Confira, no link a seguir, a programação.

TV Comunitária de Brasília