CUT no Fórum Sindical Mundial
A Central Única dos Trabalhadores ocupou lugar de destaque nas mesas de debate do Fórum Sindical Mundial realizado neste sábado (5) na Universidade Cheikh Anta Diop em Dakar, capital do Senegal. A secretária nacional de Comunicação, Rosane Bertotti, dividiu mesa com o renomado intelectual e economista egípcio Samir Amin, enquanto Antonio Lisboa, diretor executivo da Central, participou do diálogo com Dramana Haidara, diretor adjunto da Organização Internacional do Trabalho (OIT) e Sérgio Bassoli, da Confederação Geral Italiana do Trabalho (CGIL).
Antecedendo o Fórum Social Mundial, que inicia neste domingo (6) e vai até 11 de fevereiro, o evento dos trabalhadores reuniu cerca de 200 lideranças, contando com forte participação africana, em especial das organizações sindicais do Senegal e do Marrocos, que denunciaram o clima de opressão e perseguição existentes em seus países. Logo no início dos trabalhos foi feito um minuto de silêncio em homenagem à luta do povo egípcio contra Mubarack.
O tema central, “O desenvolvimento da resistência e das alternativas populares frente ao neoliberalismo”, não poderia ser mais apropriado, servindo para avaliar em termos gerais os impactos da crise sobre as diferentes economias em âmbito planetário, mas também para dimensionar os estragos mais recentes nos países do Norte da África. E mais: assinalar seus desdobramentos políticos e sociais – como na Tunísia e no Egito, e apontar perspectivas de combate às ditaduras – durante longo tempo sustentadas pelos sucessivos governos dos Estados Unidos – bem como manifestar apoio aos movimentos que lutam por democracia na região.
Logo pela manhã, Antonio Lisboa debateu sobre “Políticas públicas como elemento de luta contra a fome e a miséria, a experiência do Brasil”. Líder dos professores de Brasília, tesoureiro da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE), Lisboa apontou os inúmeros avanços consolidados pelos movimentos sindical e social durante o governo Lula, sublinhando o papel da unidade e da mobilização dos setores populares para fazer a disputa de hegemonia, dando sustentação ao governo para que efetivasse compromissos assumidos.
Explicando o impacto de programas sociais como o Bolsa Família, o Luz Para Todos ou o de construção de cisternas, o dirigente cutista aproximou a plateia de sindicalistas da complexa realidade do país, dos avanços conquistados com a evolução de 25 milhões de brasileiros que passaram a um novo patamar econômico e social ao saírem da linha da pobreza, mas também da necessidade de erradicar a miséria que ainda penaliza sete milhões de pessoas. O desafio atual das centrais sindicais e dos movimentos populares, assinalou Lisboa, é garantir a manutenção da política de valorização do salário mínimo que, ao elevar o poder aquisitivo de mais de 47 milhões de trabalhadores, aposentados e pensionistas, configurou-se como o principal elemento de reativação do mercado interno, essencial para fazer frente aos impactos da crise soprada com força pelo sistema financeiro internacional.
Na mesa da tarde, Rosane Bertotti debateu com Afid Fatna, da Organização Democrática do Trabalho do Marrocos, e Lahrach Touriam, da Confederação Democrática do Trabalho do Marrocos, sobre “O sindicalismo feminino frente aos novos desafios”.
Rosane apontou que o compromisso da CUT não é apenas com a libertação da classe trabalhadora do jugo do capital, mas com a libertação da mulher trabalhadora da situação a que tem sido historicamente submetida. Daí, sublinhou, a relevância dos sindicalistas também priorizarem a questão de gênero em suas pautas de reivindicação. E apontou a importância da luta unitária dos trabalhadores e trabalhadoras em defesa de creches, pela ampliação da licença maternidade para seis meses, pela redução da jornada de trabalho para 40 horas semanais, por salário igual para trabalho igual.
A dirigente cutista também alertou para a necessidade da democratização da comunicação, elemento que considera essencial para fazer a ruptura com a manipulação, a desinformação e o preconceito. No caso brasileiro, apontou, “lutar por um novo marco regulatório é essencial para descortinar um futuro diferente, onde meia dúzia de famílias deixem de impor suas concepções reacionárias sobre o conjunto da sociedade, fortalecendo a opressão sobre as mulheres, os negros e os trabalhadores”.
Representante da CUT na Coordenação dos Movimentos Sociais (CMS), Rosane frisou ainda que é de “importância estratégica para o êxito da luta a articulação entre as entidades populares, onde se deixa de lado o sectarismo para pensar grande, na vitória do conjunto, do país e do povo brasileiro”. “A defesa da reforma agrária, de um Estado indutor do desenvolvimento, de mais recursos para as áreas sociais – como a saúde e a educação”, citou, “são exemplos de bandeiras que somam e necessitam muitas mãos para serem vencedoras”.
Convidado a compartilhar a mesa, Samir Amin ouviu atentamente as diferentes contribuições e assinalou que da mesma forma com que os tribunais europeus sustentam “de forma sistemática” sua visão antissindical, baseada na manipulação da opinião pública, é necessário fortalecer atividades que impulsionem à reflexão crítica e à ação propositiva e solidária contra o capitalismo. O intelectual egípcio saudou o papel do movimento operário no Brasil, apontou seu significado histórico e conclamou aos sindicalistas do mundo inteiro a manterem em alto as suas bandeiras, já que a defesa do salário, do emprego e dos direitos, é cada vez mais a defesa do interesse das nações e da própria humanidade contra a ditadura de algumas transnacionais e do sistema financeiro.
Entre outras lideranças cutistas, participaram da atividade Rosana Souza, secretária nacional de Juventude, Rogério Pantoja, diretor executivo, e o presidente da CUT São Paulo, Adi dos Santos Lima.