CUT e o Dia do Meio Ambiente

No dia 5 de junho, o mundo comemora o Dia do Meio-Ambiente. Especificamente no Brasil, o momento é de refletir sobre retrocessos recentes como a aprovação do relatório que altera o Código Florestal e imprime retrocessos como a anistia a desmatadores. Em entrevista ao Portal da CUT, a secretária do Meio Ambiente, Carmen Foro, fala também de medidas para combater o assassinato no campo e destaca que a raiz dos problemas é a falta de ousadia do governo de implementar uma autêntica reforma agrária.
Carmen Foro, secretária do Meio Ambiente da CUT
Portal da CUT – Qual o papel do movimento sindical nesse momento em que vemos tantos retrocessos como o assassinato de lideranças do campo e a aprovação do Código Florestal?
Carmen Foro –
É fundamental que a CUT e os movimentos sociais sigam o caminho da disputa pelo modelo de desenvolvimento sustentável que queremos para o país. Porque os assassinatos a aprovação do código que anistia os desmatadores, todas essas questões têm na raiz de sua existência em modelo de desenvolvimento excludente, que promove a concentração de terras e no qual a elite tomou conta do campo e do Congresso Nacional com a eleição de um grupo grande e poderoso. É esse grupo que não deseja a reforma agrária, a aprovação da PEC do trabalho escravo – 438/2001, que destina para reforma agrária terras onde for flagrado trabalho escravo – e que está entrando duro na disputa pelos recursos naturais.
Quais ações a CUT defende para acabar com esses assassinatos?
Carmen –
Primeiro, a reforma agrária é essencial no processo estruturante. É preciso também fortalecer a agricultura familiar, por meio da ampliação do acesso ao financiamento e de políticas públicas de pesquisa e suporte ao pequeno agricultor. Vamos promover uma grande mobilização no Pará nos dias 21 e 22 de junho com nossas entidades da região porque o que os assassinatos que aconteceram ao longo de todos esses anos, mas agora chamaram mais atenção poro ocorrerem em série, são resultado da ausência do Estado por muito tempo. Diante disso, devemos disputar do ponto de vista local, regional e nacional a visão que temos de desenvolvimento com distribuição de renda, de recuperar o papel histórico do campo nesse processo. Porque temos a biodiversidade, a condição climática, mas não alcançaremos esse modo de desenvolvimento se deixarmos a discussão apenas nas mãos da elite empresarial.
A pauta do desenvolvimento sustentável já faz parte da luta dos trabalhadores?
Carmen – Faz parte da luta dos trabalhadores da CUT, mas acho que assim como nos outros setores da sociedade, precisa ganhar mais força também nas pautas cotidianas e coletivas do movimento sindical porque é fundamental para o modelo de sociedade que defendemos.
A velha mídia informou que a presidenta Dilma já estaria disposta a ceder em alguns pontos como a anistia aos desmatadores. Você acredita que os movimentos sociais que defendem terão força para brecar essas mudanças?
Carmen – Não consigo mensurar, mas devemos lembrar que a presidenta Dilma foi eleita em uma ampla aliança que contou com apoio dos movimentos sociais favoráveis à continuidade de um governo popular e democrático, envolvido com a distribuição de renda e com a construção de um país mais democrático. Isso envolve a democratização do acesso à terra, também. Por outro lado, contamos com uma Câmara dos Deputados conservadora, um cenário no Senado não tão fácil e eles acabam fazendo pressão muito grande sobre as posições que o governo adota. E ainda há uma parte da base aliada que defende os interesses apenas das grandes empresas e, legislam em causa própria. Da nossa parte, faremos muita pressão para que os interesses de quem respeita e luta pelo meio-ambiente sejam incluídos no Código Florestal. Nossa estratégia é mostrar unidade para que tanto os parlamentares quanto o governo se sintam fortalecidos para escolher o que é melhor para o País.
Quais as bandeiras que a CUT levará para a conferência Rio+ 20, em 2012?
Carmen – A Rio+ 20 vai tratar de desenvolvimento sustentável como centro do debate e essa é exatamente a nossa bandeira. A CUT levará a pauta de eixos como a regulação financeira na questão dos empregos, da proteção social e precisamos transformar a agenda do Brasil em algo que dialogue com essa realidade. Diante da nova posição do Brasil no mundo, temos grande responsabilidade e por isso queremos discutir a geração de empregos, não apenas do ponto de vista da carteira assinada, mas de como produzimos, da geração de energia limpa e da utilização de recursos naturais.
A CUT também integrará a campanha nacional contra o uso de agrotóxicos. É possível viver sem eles?
Carmen –
Não podemos esquecer que na cadeia de produção de alimentos, se configuram também interesses de quem produz insumos agrícolas e possui muita força política e econômica. Mas, é outro desafio que precisamos enfrentar. Para quantificarmos isso, basta lembrar que o Brasil é o maior consumidor de agrotóxicos do mundo desde 2009. Em média, cada brasileiro consome 5,2 litros de venenos por dia. Mexer nisso é mexer na lógica da produção em grande escala. Para isso, reforço, é estratégico e fundamental fortalecer, por meio de políticas públicas, o papel da agricultura familiar, que produz em experiência agroecológicas e orgânicas, sem venenos e é responsável por 70% dos alimentos consumidos pelos brasileiros. E não se trata apenas de dinheiro, mas também de vontade política. O veto ao relatório do deputado federal Aldo Rebelo (PCdoB), que desconfiguram o Código Florestal são parte disso. Por outro lado, precisamos amadurecer a consciência da população sobre a compra de alimentos e como são produzidos.
Como as cidades devem se envolver para combater os problemas que acontecem no campo? Qual a responsabilidade do cidadão comum?
Carmen – Precisamos fortalecer aliança entre campo e cidade. Isso é bastante antigo, mas precisamos sair da fala e ir para a prática. Precisamos construir uma reflexão mais ampla, perguntar se carne a carne é de origem legal ou de áreas que podem ter trabalho escravo, se a origem da construção parte de madeira com origem legal ou significa o sangue e a morte de quem vive do campo. Essa é uma pergunta que precisa ser feita por cada consumidor. Assim como precisamos melhor o acesso à informação por parte da população por meio de uma campanha de comunicação forte, que envolve a democratização da comunicação. Porque não há interesse da grande mídia de divulgar realidades tão denunciadas por nós. Porque os grandes desmatadores são poderosos e donos dos principais meios de comunicação.
O Ibama autorizou no último dia 3 hoje a construção de Belo Monte. O que isso representa para o país?
Carmen –
Por um lado, o Brasil passa por um crescimento muito grande, que demanda energia e esse é um momento fundamental para discutirmos a forma de produção. Em tese, podemos produzir energia limpa a partir dos rios, mas não podemos esquecer os impactos sociais. Como o governo e as empresas irão investir para diminuir ou compensar os impactos ambientais e sociais, como o inchaço provocado nas grandes cidades, a partir da construção de hidrelétricas? Essa é pergunta que deve ser feita para que Belo Monte, que deve contar com cerca de 20 mil trabalhadores, não repita os problemas da hidrelétrica de Jirau, onde, além dessas questões, observamos a exploração dos trabalhadores e a ausência de trabalho decente. É inadmissível não ter um plano para dar conta dos problemas sociais e trabalhistas que as barragens causarão, incluindo as populações atingidas.