CUT e movimentos sociais defendem a democracia e reprovam política econômica

A CUT, outras centrais sindicais e as principais entidades dos movimentos sociais foram incisivas e unânimes em dois pontos durante encontro com a presidente Dilma Rousseff no evento Diálogo com os Movimentos Sociais, realizado nesta quinta-feira (13), no Palácio do Planalto. De um lado, defenderam intransigentemente as instituições democráticas contra ataques e ameaças de golpe por parte dos setores da direita derrotados nas eleições e, de outro, criticaram com firmeza a política econômica que afeta a classe trabalhadora e atinge políticas sociais.
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A presidente Dilma Roussef, em resposta, garantiu perante cerca de 1,5 mil dirigentes sindicais e de entidades dos movimentos sociais que sabe de que lado está e que “não mudou de lado”, reafirmando compromisso com os setores sociais mais necessitados. No entanto, foi tímida, na opinião dos presentes, ao responder as reivindicações dos movimentos sindical e social durante o evento.
“Esperava mais deste ato. Esperava compromissos melhores da presidenta com a pauta da classe trabalhadora. Foi a sociedade representada por este grupo que está aqui hoje que ganhou a eleição no segundo turno. Por isso, o governo precisa governar para estes movimentos que representam a sociedade. A presidente Dilma precisa governar com aquele programa apresentado na campanha eleitoral e não com essa pauta econômica conservadora que está colocada”, avalia o secretário de Organização da CUT Nacional, Jacy Afonso, traduzindo o sentimento da maioria da plateia, ao final do encontro.
Em praticamente todas as falas de representantes de centrais sindicais, movimento estudantil, representações de mulheres pescadoras, líderes de trabalhadores sem teto e sem terra, defensores da comunicação democrática e tantas outras organizações, foi ratificada a insatisfação com as medidas de ajuste fiscal implementadas pelo ministro da Fazenda, Joaquim Levy. Entre outras questões, ao reorganizar os cofres públicos, essa política é criticada por ser recessiva e encurtar, por exemplo, a verba da educação. Além disso, o Executivo federal também foi o propositor de medidas prejudiciais à classe trabalhadora com mudanças no seguro-desemprego e na aposentadoria.
“O que nós precisamos é de reforma para o povo, com o povo. A agenda para o Brasil inclui uma política econômica progressiva, diminuindo juros, fortalecendo o mercado interno, fazendo a reforma tributária, taxando grandes fortunas; e não com práticas econômicas trazidas pelo FMI”, discursou o presidente da CUT Nacional, Vagner Freitas. Para ele, “a pauta dos trabalhadores precisa andar de forma mais consistente”.
“Se é para ajustar, que se ajuste em cima daqueles que sempre enriqueceram à custa do povo”, avaliou Bruno Boulos, do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Teto – MTST. “A saída da crise é ter mais investimento na educação”, disse a presidente da União Nacional dos Estudantes – UNE, Carina Vitral, para repudiar o corte orçamentário da educação.
Após fazer um levantamento positivo do governo, ressaltando a criação de moradia popular, o programa Mais Médicos e avanços na educação, a presidente Dilma Rousseff insistiu na necessidade de ajustes no orçamento brasileiro. “Temos que fazer economia sim. Não dá para sair gastando como gastamos quando tínhamos mais dinheiro”, falou. A presidente disse que “estamos entrando em uma travessia, mas sem retrocesso nas políticas sociais”.
Dilma também reafirmou sua posição contrária às medidas conservadoras aprovadas no Congresso, como a redução da maioridade penal, à coibição e à criminalização de manifestações. No encerramento de seu discurso, a presidenta, de forma incisiva, negou veementemente qualquer intenção de ir, propositalmente, contra os anseios da sociedade. “Eu sei de que lado estou. Nessa vida eu mudei muito, alguns podem falar que eu melhorei, outros que eu piorei. Agora uma coisa eu não aceito: dizer que eu mudei de lado”, finalizou.
Em defesa da democracia
Em uníssono, durante discursos de dirigentes, as centenas de representantes dos movimentos social e sindical repetiram diversas vezes no Palácio do Planalto: “Não vai ter golpe”.
Vagner Freitas, presidente da CUT, a 4ª maior central sindical do mundo, enfatizou: “Somos todos construtores da democracia….Temos um exército que vai enfrentar, nas ruas, essa elite golpista. Iremos para as ruas com armas nas mãos se tentarem derrubar Dilma”. Esse trecho foi usado nas redes sociais pelos setores da direita conservadora, com base numa interpretação equivocada de que a Central estaria incitando à violência. Por isso, o dirigente da CUT emitiu nota pública posteriormente esclarecendo que a Central “não pratica nem incita à violência. Muito pelo contrário, temos feito vários alertas contra a onda de ódio e intolerância que veem sendo diariamente estimuladas nos últimos meses pelos opositores do governo”. E acrescentou: “Nossas armas, todos sabem, são o poder de convencimento, a organização, a formação política, a mobilização, o debate de ideias, a ocupação dos espaços, seja as ruas, sejam os locais de trabalho, a greve geral, essa sim a nossa maior arma.”
O secretário de Organização da CUT Nacional, Jacy Afonso, ao final do Diálogo com os Movimentos Sociais, comentou que o fato de ser contrário à política econômica implantada no Brasil, a Central utilizará da sua representatividade para preservar a democracia brasileira, que vem tentando ser desconstruída por setores ligados à direita através de propostas como o impeachment da presidente Dilma.
“Independentemente da nossa discordância da política econômica, defendemos a democracia. Reafirmamos, diante da tentativa de fascistas, das ideias retrógradas e golpistas, que respeite o resultado das eleições”, declara Jacy Afonso.
Pela tolerância
dilma3A presidente Dilma Rousseff criticou os lamentáveis comentários homofóbicos, sexistas, xenófobos, além de agressões física e verbal protagonizados pelos que não admitem a condição de um Brasil justo e igualitário. Para ela, esta não é uma característica da maior parte do povo brasileiro, mas de uma minoria, que retém a maior parte da riqueza do país. “A dificuldade de compreender as diferenças sempre foi da elite”, afirmou.
“Temos que zelar pelo respeito às pessoas que pensam diferente da gente. Ninguém pode chamar de diálogo o xingamento, a intolerância; colocar bomba seja lá onde for”, apelou Dilma.
Manutenção do monopólio midiático
Apesar de a mídia ser a maior propulsora da intolerância interpessoal, a presidente Dilma Rousseff não inseriu em seu discurso a regulação dos meios de comunicação, que leva à democratização deste setor.
Para a coordenadora do Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação – FNDC e dirigente da CUT, Rosane Bertotti, a democratização da comunicação é espaço estratégico para a consolidação da democracia. “A fala da Dilma foi forte, importante, em defesa da liberdade e em defesa da democracia. Entretanto, na minha opinião, ela ainda não tem decisão política quanto à questão da democratização da comunicação. Ela não encontrou uma proposta para colocar este tema em debate. Pode até julgar o tema importante, mas, até o presente momento, não há clareza sobre isso”, avaliou. Para a dirigente sindical, não democratizar os meios de comunicação é “ter uma perna da democracia bamba”.