CUT e bancários de Brasília mostram crimes da ditadura contra trabalhadores

Um dos temas do 12º Congresso Nacional da CUT (Concut), a democracia brasileira é fruto de uma árdua luta da sociedade, em especial, dos movimentos sociais. Se esse conceito é óbvio para muitos brasileiros, para outros é preciso relembrar que a ditadura foi sinônimo de repressão, tortura e corrupção a fim de alertar quem vai às ruas pedir intervenção militar.
Na quarta-feira (14), segundo dia de Concut e, coincidentemente, data em que morreu o coronel Brilhante Ustra, chefe do DOI-CODI (Destacamento de Operações de Informações – Centro de Operações de Defesa Interna – órgão de repressão e tortura do governo militar), os trabalhadores deram mais uma contribuição para a liberdade de expressão com o lançamento do Relatório da Comissão Nacional da Memória, Verdade e Justiça da CUT. Paralelamente, foi anunciada e distribuída ao plenário a edição especial da revista Extratos, do Sindicato dos Bancários de Brasília, dedicada aos resultados da Comissão da Verdade dos bancários da capita federal.
Resultado de três anos de pesquisa, o Relatório da CUT cobra a apuração pela Comissão Nacional da Verdade (CNV) de ao menos 37 assassinatos de trabalhadores por conta de manifestações políticas e atividades sindicais.
Já a revista a Extratos revela parte dos trabalhos da comissão instalada pelo sindicato em dezembro de 2013, divulgando “um pouco da história dos que enfrentaram a censura e as imposições da ditadura civil-militar no Brasil”. Apresenta as histórias de trabalhadores, sobretudo dos bancários de Brasília, que tiveram sua entidade sob intervenção militar e sua direção perseguida e presa. Um documento de qualidade, que preserva a memória dos lutadores e a resistência da categoria contra a repressão e pela democracia. “Para que essa história não se repita”, afirma o presidente do Sindicato, Eduardo Araújo.
Defesa da justiça
O evento no Concut foi particularmente especial para o ex-ministro de Direitos Humanos do governo Lula, Paulo Vannuchi. Torturado durante a ditadura por Brillhante Ustra, ele anunciou ao plenário a morte do coronel, mas pediu que o fato não fosse celebrado.
A razão era evitar que os delegados do 12º Concut respondessem no mesmo patamar a quem prega o ódio e lembrou da invasão ao velório do fundador do PT, José Eduardo Dutra, por pessoas com panfletos com os dizeres “petista bom é petista morto.”
Para ele, quando a CUT se insere na defesa da apuração e condenação dos repressores, não se trata de um processo revanchista, mas de defesa da justiça. Também ele lembrou que a mídia hoje produz esquecimento sobre seu apoio ao golpe e à ditadura e cobrou que as escolas  tratem do tema com mais profundidade.
História a ser contada
Secretário de Políticas Sociais da CUT, pasta responsável por comandar o Relatório da Comissão Nacional da Memória, Verdade e Justiça da CUT, Expedito Solaney, fez um breve apanhado do processo de construção do grupo em defesa de uma história ainda a ser escrita.
A CUT, segundo ele, tomou a iniciativa de criar uma comissão de acompanhamento sobre os impactos à classe trabalhadora e, posteriormente, criou a própria comissão com trabalhadores de todos os estados.
Para Solaney, o êxito desse trabalho depende do engajamento de todas as organizações sindicais que foram sufocadas pelos militares. “Espero que cada sindicato levante sua memória e história. É momento ainda de constituir comissões de memória, porque queremos escrever essa história com nossas próprias mãos”, definiu, citando o exemplo os bancários de Brasília.
Cooperação internacional
Isso não exclui, porém, a atuação em conjunto com outras frentes. O porta-voz do conselho de trabalhadores da Volkswagen, Jörg Kother, disse que há dois anos a empresa ficou sabendo da relação que sua filial no Brasil manteve com a ditadura.
Mas somente nesta terça-feira (14), pela primeira vez, ele ouviu o depoimento de pessoas que trabalharam na companhia nessa época. Segundo ele, a Volkswagen reconhece a importância de esclarecer os fatos porque foi formada por pessoas que faziam trabalho forçado e por prisioneiros de guerra da ditadura nazista.
Representante da maior central sindical dos EUA, a AFL-CIO, que apoiou a publicação, Jana Silverman  falou de uma espécie de responsabilidade moral dos movimentos progressistas em defender a democracia na América Latina, onde governos golpistas estadunidenses apoiaram o golpe direto ou indiretamente.
Citou a Operação Condor, que nos anos de 1970 e 1980 financiou ditaduras pelo continente e falou que o mesmo modelo intervencionista se propaga hoje por meio do apoio a guerras no Iraque, Afeganistão e a sustentação do golpe contra o atual governo.