CPI da pandemia não irá impedir Bolsonaro, mas revelará os culpados pelas mortes

“O que mais me impressionou, ao assistir alguns depoimentos da CPI da Pandemia, foi a falta de empatia no depoimento dos ex-ministros, sobretudo os de Ernesto Araújo e Eduardo Pazuello, e a quantidade de mentira com que eles lançam mão para negar o que eles mesmos disseram pela imprensa, pelas redes sociais, nas manifestações de rua. Eu me assustei com tamanha falta de compromisso”. Essa é a declaração de Cleber Soares, diretor do Sindicato dos Professores no Distrito Federal (Sinpro-DF) sobre a primeira fase de audição da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Pandemia da Covid-19.

 

Nesta terceira matéria, o Sinpro-DF considera que a maior vitória da CPI não será o impeachment do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), mas sim a de mostrar as entranhas e a essência das mentiras diárias do próprio Presidente da República e das atitudes maledicentes e propositais que redundaram em uma gestão desastrosa da pandemia.

 

A CPI cumpre o papel de evidenciar, de forma mais organizada, os fatos até agora ocorridos em relação à pandemia e a má-gestão do governo Bolsonaro dessa crise sanitária a partir das atitudes do Presidente da República. É preciso ressaltar que este não é nem um governo de ações, e sim um governo de alucinações porque só uma pessoa nessa condição mental de estar alucinada poderia provocar tanta desorganização na estrutura de um país de 210 milhões de habitantes. Não considero que o principal papel da CPI seja levantar dados que justifiquem o impedimento de Bolsonaro. Isso não vai acontecer porque o governo detém a maioria dos votos na Câmara dos Deputados”, analisa Cláudio Antunes, diretor do Sinpro-DF.

 

Ao fazer uma balanço da primeira etapa da CPI, na qual o colegiado ouviu os ex-ministros das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, e da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, Nelson Teich e, sobretudo, o general Eduardo Pazuello, dentre outros integrantes do governo Bolsonaro, o Sinpro-DF observa o papel da CPI na exposição da realidade que leva à condenação do governo pelas mentiras divulgadas para favorecer setores que estão ganhando muito dinheiro com as mais de 450 mil mortes de brasileiros por Covid-19.

O general Pazuello usou um Habeas Corpus (HC) para mentir de forma explícita nos dois dias em que prestou depoimento. A CPI ainda analisa sua volta para mais depoimentos porque tudo o que ele falou foi desmentido por áudios, vídeos, documentos e ações do Presidente da República. O próprio Jair Bolsonaro desmentiu todas as falas de Eduardo Pazuello na CPI da Pandemia. Os relatos do general evidenciaram seu forte interesse em blindar o Presidente da República e seu governo nas ações de descaso com a pandemia porque, na verdade, o que ele fez é um pouco do que ele mesmo disse: “Missão cumprida”.

“O problema é que qual era a missão dele? E aí ele mente o tempo todo porque há dezenas de depoimentos, declarações, vídeos, postagens nas redes sociais, deliberações do Palácio do Planalto interferindo na gestão da pandemia, como, por exemplo, na compra das vacinas, na compra da cloroquina, dizendo que ele que manda e os outros é que obedecem”, afirma Antunes.

 

No entendimento de Soares e Antunes, as mentiras explícitas do general Pazuello não resistiram à farta e larga documentação apresentada. Ficou registrado ali um massacre político do ex-ministro da Saúde que envergonhou até os generais da ativa do Exército, que, nesta segunda-feira (24), reagiram. Estão buscando um jeito de retirá-lo da cena política e de se afastarem, o mais depressa possível, do Presidente da República.

 

Da primeira semana da CPI, no entanto, fica a marca da mentira do governo Bolsonaro nas declarações de Pazuello sobre a falta de oxigênio em Manaus no início do ano, o que levou até os próprios integrantes da oposição a fizeram uma autocrítica sobre se estariam sendo enrolados e desmoralizados pelo ex-ministro.

 

Na avaliação do Sinpro-DF, o balanço dos depoimentos dos ex-ministros, sobretudo os dois primeiros da Saúde, revelaram os fatos que levaram o Brasil a ter este número exorbitante, em crescimento rápido e desnecessário, de mortes por Covid-19. A média de mortes diária por Covid-19 no País é uma das maiores do mundo e isso ocorre porque os dois primeiros ministros ficaram sem espaço e autorização para trabalhar uma gestão da pandemia.

 

Eles mostraram, na CPI, que saíram do governo justamente porque estavam tentando desempenhar a tarefa de evitar o pior da pandemia no Brasil e foram impedidos pelo governo Jair Bolsonaro, muitas vezes, até diretamente, pelo próprio Presidente da República.

 

A CPI pode e deve até cumprir o papel de fritar o governo Bolsonaro para retirá-lo da corrida eleitoral de 2022, no entanto, o seu objetivo é investigar e identificar o que levou tantos brasileiros a morrerem de uma doença que quase todos os países souberam contornar, reduzindo em quase 100% o número de mortes com as com adoção de medidas simples, básicas e quase sem custo financeiro: isolamento e distanciamentos sociais, uso de máscara e álcool em gel, tudo que o governo federal não fez e o próprio Presidente desobedeceu e criticou, provocando meio milhão de mortes por Covid-19 em 14 meses.

 

“O fato é que a CPI irá causar, no máximo, um desgaste político que, talvez, possa levá-lo a uma derrota no processo eleitoral de 2022. Lembrando que a campanha já começou. Em se considerando as falas de Bolsonaro paralelas à CPI, nota-se que ele continua sem governar o Brasil e atua, diariamente, para desviar a atenção da população das polêmicas e revelações que a CPI está trazendo à tona”, afirma Cláudio.

Para Cleber, o conjunto de ações confirmados na CPI, muito mais do que omissões, assumidas e encaminhadas pelo governo Bolsonaro, executadas pelos ministros e ex-ministros, sobretudo Pazuello, ações documentadas, são a prova de um crime de lesa-humanidade que levaria todos a um tribunal sério e justo. Mas, infelizmente, até as eleições de 2022, as famílias brasileiras continuarão perdendo entes queridos porque, nas eleições de 2018, uma boa parte da população deu ouvidos às fake news, principalmente o eleitorado do Distrito Federal, e enterrou o Brasil nas mãos de políticos comprometidos com interesses privados, fortaleceu o centrão que jamais irá colocar em pauta o impedimento de Bolsonaro.

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