CPI da Covid acende esperança de que responsáveis não ficarão impunes

Nesta semana, os trabalhos da CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) da Covid-19 tiveram início no Senado Federal. A iniciativa de abrir a comissão partiu do STF (Supremo Tribunal Federal), a partir de uma decisão do ministro Luís Roberto Barroso, entendendo que havia os requisitos necessários para sua instalação.

É bastante evidente que é preciso investigar politicamente os rumos que levaram o Brasil a alcançar 412 mil pessoas mortas em decorrência de uma doença que, antes de chegar ao país, já tinha atingido violentamente outros países. Mesmo que, até hoje, haja ainda muitas perguntas sem resposta sobre o comportamento epidemiológico do vírus, sabemos bem que em março, quando os primeiros casos começaram a se espalhar pelo Brasil, já havia um mínimo de conhecimento sobre as experiências bem-sucedidas ou desastrosas de enfrentamento ao novo coronavírus pelo mundo.

Bolsonaro escolheu seguir as experiências desastrosas, mesmo que seus proponentes expressassem arrependimento – como foi o caso do prefeito de Milão, Giuseppe Sala, cujas decisões levaram a região da Lombardia, na Itália, a se tornar palco da primeira grande tragédia da Covid-19 no planeta. Bolsonaro não só seguiu comportamentos negacionistas como o de seu ídolo Donald Trump, como os aprofundou. Ao longo dos 14 meses em que a pandemia enlutou centenas de milhares de famílias brasileiras, ele se eximiu de seu papel de gestor e atuou como aliado do vírus, ao promover aglomerações; desqualificar e não fazer uso de máscaras de proteção; promover medicamentos não eficazes para Covid-19 (com efeitos colaterais severos); boicotar medidas de distanciamento e de isolamento social; travar guerra contra gestores estaduais e municipais que buscavam saídas para a crise sanitária. Nunca esqueceremos frases célebres como “é só uma gripezinha” ou “eu não sou coveiro”.

Vale ainda recordar que o país ficou quatro meses sem ministro da Saúde, quando da demissão de Nelson Teich, em maio de 2020. Pazzuello atuou como interino durante esse período até ser confirmado no cargo, com o conhecimento geral de que o verdadeiro ministro era Bolsonaro.

A CPI começou com uma disputa entre governo, oposição e independentes pela relatoria, disputa que se finalizou com a indicação de Renan Calheiros, a contragosto de Bolsonaro. Os depoimentos dos ex-ministros Luis Mandetta e Nelson Teich foram colhidos, e confirmam o que o Brasil acompanhou pelos jornais e pelas lives ao longo dos últimos 14 meses: o Governo Federal nada fez para evitar que uma tragédia acontecesse.

Nas próximas semanas, novos depoimentos serão oferecidos à comissão, e possivelmente novas questões apareçam. Fato é que a investigação é fundamental e que os responsáveis pelos colapsos nos sistemas de saúde, falta de oxigênio e de insumos, adoecimentos, sequelas e mortes causadas pela Covid-19 no Brasil devem ser apontados. Aqueles que levaram o Brasil ao caos já estão sentindo medo. Mas isso ainda é muito pouco diante do medo, da dor, da tristeza e do luto que a sociedade brasileira tem sofrido em mais de um ano.