COVID-19 | Números nos estados mostram que retorno presencial às aulas sem vacina é banalização da morte

Basta uma pesquisa rápida em qualquer ferramenta de busca da internet para ter certeza de que a relação pandemia/volta presencial às aulas tem como resultado mortes e a dor da perda de pessoas amadas. O fato de estudos científicos indicarem que crianças transmitem a doença menos que adultos e que escolas não listam como principais focos de transmissão da covid-19 não inibe os surtos da doença em espaços escolares.

Em setembro do ano passado, o Amazonas registrou 342 professores infectados com Covid-19 20 dias após o retorno presencial às aulas do ensino médio da rede estadual de ensino. 

Levantamento realizado pelo Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo (Apeoesp) mostra que, até este 3 de março, foram registrados 1.780 casos de contaminação por covid-19 em pessoas que trabalharam presencialmente nas escolas da rede estadual de ensino. Em Campinas (SP), em uma única escola particular, 37 funcionários e cinco alunos foram infectados pelo coronavírus após a retomada das atividades presenciais com rodízio de 35% dos estudantes, no último dia 25 de janeiro. 

No Sul do país a situação também é de alerta. Segundo a prefeitura de Blumenau, município do estado de Santa Catarina, 99 professores e dois estudantes testaram positivo para a covid-19 desde o início das aulas, em 8 de fevereiro.

Os números entretanto parecem não ser levados a sério pelo Ministério Público do Distrito Federal (MPDFT), que voltou a pedir à Justiça o retorno das aulas presenciais nas escolas públicas, justamente no momento em que a capital federal está passando pelo seu pior momento desde o início da pandemia.

O Brasil está no segundo lugar dos países com mais casos de covid-19 | Foto BBC

 

Segundo a última atualização de ocupação de leitos públicos da UTI, publicada nesta quarta-feira (3), às 16h52, o DF está com 100% dos leitos pediátricos ocupados e há uma criança na lista de espera. Já os leitos para adultos tem ocupação de 88,61%. São 27 leitos públicos disponíveis em todo o DF e 40 pessoas infectadas que precisam de suporte na fila.

Diante do cenário que aumenta a angústia e o medo dos mais de 3 milhões de habitantes do DF, no último dia 25 de fevereiro o Sinpro enviou carta aberta ao governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha, mostrando a preocupação do Sindicato com o retorno das aulas presenciais, agendada para o dia 8 de março. No mesmo dia 25, Ibaneis decretou lockdown no Distrito Federal, iniciado nesse 1º de março. Até a publicação de um novo decreto, as escolas públicas e privadas ficam proibidas de retomar os trabalhos presenciais até dia 15 de março.

“Não adianta datarmos o retorno das aulas presenciais sem a vacinação do povo do DF. Não há tratamento precoce para a covid-19. Existem sim as barreiras de contenção, com a utilização de máscaras, álcool em gel e distanciamento. Entretanto, a única maneira efetiva de solucionarmos isso é com a vacina. Solicitar o retorno presencial das aulas em um cenário como o que estamos vivendo agora é no mínimo desumano. Estamos falando de vidas; não podemos banalizar a morte”, afirma a diretora de Imprensa do Sinpro-DF Letícia Montandon.

Na carta enviada ao governador do DF, o Sinpro alerta que “70% dos(as) alunos(as) que frequentam as escolas no Gama, Santa Maria e Recanto das Emas, por exemplo, moram em municípios do entorno sul e voltam para suas cidades em ônibus lotados”, o que aumenta ainda mais o raio de contaminação da covid-19. 

Reunião da comissão de negociação do Sinpro-DF com a Secretaria de Educação do DF

 

No último dia 26 de fevereiro, a comissão de negociação do Sinpro se reuniu com a Secretaria de Educação do GDF que, diante dos argumentos do Sindicato, apresentou a proposta de retorno remoto às aulas no dia 8 de março. Segundo o diretor do Sinpro e membro da comissão de negociação Cleber Soares, o Sindicato reivindicou também que o governo assegure os meios para que os estudantes tenham acesso de qualidade às aulas remotas. No encontro, a comissão apresentou ainda a campanha Vacina Já! e cobrou do governo empenho na elaboração de estratégia e cronograma para a vacinação da população do DF, com apresentação de relatórios sobre o processo.

“Quase um ano depois das escolas fechadas, são grandes os prejuízos trazidos para a educação, embora professoras e professores tenham feito esforço sobre-humano para atender alunas e alunos da melhor maneira possível. Desigualdades educacionais e evasão escolar são alguns desses prejuízos, e repercutem de maneira trágica socialmente. Entretanto, o nosso compromisso com a vida deve sempre vir em primeiro lugar. Nós queremos voltar, sabemos da importância e da necessidade disso. Mas os números relacionados à covid-19 e a ausência de vacina para todos e todas nos impedem. Por isso, todos os nossos esforços agora devem ser para exigir a imunização da população do DF”, avalia a diretora do Sinpro-DF Rosilene Corrêa.

MATÉRIA EM LIBRAS