COMUNICAÇÃO, MEMÓRIA E CONSCIÊNCIA: PRECISAMOS APRENDER COM O CASO MAMÃE FALEI

Por Letícia Montandon*

A poucos dias do Dia Internacional da Mulher, os áudios vazados do deputado estadual paulista Arthur do Val (Podemos), o “Mamãe Falei”, expõem mais uma vez a posição de subordinação e vulnerabilidade que tentam acorrentar as mulheres. Nos áudios, o parlamentar compara uma fila de refugiadas na Ucrânia a uma fila de “balada” em São Paulo, e afirma que as ucranianas são fáceis, por serem pobres.

As palavras de Arhur do Val, ex youtuber do MBL (Movimento Brasil Livre), chocaram o país não pelo ineditismo, mas pela crueldade e insensibilidade de alguém que visitou um país em guerra, onde todas as pessoas, sobretudo as mulheres, vivem o desespero. Ele estava acompanhado de outro líder do MBL, Renan Santos, que, segundo o áudio do deputado, praticaria turismo sexual sistematicamente.

“Mamãe Falei” foi alçado a político durante a construção do golpe de 2016, que depôs Dilma e levou Temer à presidência. Nos fatídicos áudios, ele revela que o fato de reunir milhares de seguidores no Instagram o torna atraente para as mulheres – no caso, as ucranianas.

Não são detalhes. A era das comunicações ultrarrápidas facilita a produção e circulação de fake news tanto quanto a produção e circulação de personagens superficiais, artificiais e incapazes, que se fazem passar por pessoas interessantes e cheias de conteúdo. Esses personagens contam com a rapidez das comunicações também para gerar esquecimento em relação aos absurdos que fazem e dizem.

A memória e a consciência são armas fundamentais para evitar a ascensão à vida política de pessoas munidas somente de interesses privados, que deixam as verdadeiras intenções escaparem ao público de vez em quando, por descuido. As gravações de Mamãe Falei revelam não um erro – como ele tentou classificar –, mas a forma como ele vê as mulheres, as pessoas pobres e oprimidas; o mundo.

Que não nos esqueçamos disso, e que estejamos atentos e atentas para evitar que novos Mamãe Falei conquistem espaços políticos e recursos públicos para fortalecer as opressões que precisamos derrotar.

*Letícia Montandon é professora da rede pública de ensino do DF e diretora do Sinpro-DF