Como melhorar o ambiente escolar para aluno/as, professores e funcionário/as LGBTQIA+?

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A pergunta “Qual é sua orientação sexual” foi incluída na Pesquisa Nacional de Saúde (PNS) em 2019. Pela primeira vez, foi revelado o número de pessoas que se declaravam homossexuais ou bissexuais no Brasil. O próprio IBGE, responsável pela coleta de informações, chamou a atenção para o fato de que os dados daquela pesquisa estavam subnotificados.

Em entrevista à Agência Brasil, à época, a analista do PNS, Nayara Gomes, disse: “A gente não está afirmando que existem 2,9 milhões de homossexuais ou bissexuais no Brasil. A gente está afirmando que 2,9 milhões de homossexuais e bissexuais se sentiram confortáveis para se autoidentificar ao IBGE como tal”.

Se falar para um pesquisador desconhecido pode não ser fácil, como se dá a abordagem do assunto no ambiente escolar? O professor Angelo Barbosa, em entrevista ao canal no YouTube Gay Nerd, disse que só sentiu seguro para declarar-se gay na escola onde dá aula ao ver um colega professor lidando de forma tranquila com a situação.

“Se ele pode, eu acho que posso também. Esse papel da representatividade é muito importante: outras pessoas se arriscam e vemos que não é tão difícil assim. De modo geral, as pessoas te aceitam mais somente depois de te conhecer, depois que criou afeto”, disse.

Só quando teve a coragem de reagir a um comentário homofóbico de um aluno em sala que o professor da rede estadual J.R. Weingartner Jr. percebeu a importância de se abrir e falar mais sobre o tema.

“No fim da aula, um aluno me agradeceu, dizendo que foi muito corajoso da minha parte. A partir daí, deixei de negar o assunto e passei a compartilhar na sala de professores sobre a minha vida pessoal. Também comecei a falar do tema na minha matéria de História. Muitos alunos agradecem pelas aulas e abordagem. Quando houve casos de homofobia, a direção da escola me protegeu”, relatou ao Gay Nerd.

Em entrevista à Revista Nova Escola, o coordenador do Mestrado em Educação Sexual da Unesp, Paulo Rennes Marçal Ribeiro, defende que as escolas valorizem os direitos humanos em sala e as aulas sejam instrumentos de combate à discriminação. Confira, a seguir, casos comuns de LGBTfobia e as dicas sobre o que fazer em cada situação, segundo a Associação Nova Escola (adaptado):

1 – Medo de falar sobre a própria orientação sexual e identidade de gênero
A sexualidade é um assunto particular. O aluno deve falar no momento em que julgar mais adequado. Ofereça espaços de escuta em que os estudantes se sintam seguros. Não interfira e nem “denuncie” a orientação sexual dos jovens às famílias.

2- Ouvir xingamentos e sofrer agressões
Faça um trabalho preventivo, mostrando a importância de se respeitar e não agredir os colegas, independente da orientação sexual. Questione quais são os modelos de comportamento masculino e feminino e mostre que eles foram construídos ao longo do tempo. Estabeleça combinados e sanções para os casos de agressão e abra espaço para que alunos que sofrerem agressões comuniquem as situações que vivenciam.

3 – Ser vítima de assédio sexual
Deixe claro os limites entre a paquera e o assédio. Paute a discussão pelo valor do respeito ao corpo dos colegas, independente de gênero ou orientação sexual. Limite o que é apropriado para o ambiente escolar, mesmo quando houver consentimento: andar de mãos dadas pode ser válido, mas carícias exageradas devem ficar para o ambiente privado. As regras devem valer para todos os casais, heterossexuais quanto homossexuais.

4 -Sentir-se desconfortável em banheiros e nas aulas de Educação Física
Banheiros são lugares comuns de assédio, verbal ou sexual. Fique de olho nesse espaço e permita que os alunos tenham um espaço para denunciar ocorrências desses ambientes. Nas aulas de Educação Física, estimule a cooperação e acabe com a divisão entre meninos e meninas. 

5 – Ser alvo de discriminação por professores, coordenadores e diretores
Crie ações que discutam o tema também com a equipe. Funcionários/as e educadores devem também passar por formação para compreender melhor as questões de sexualidade e servir como pontos de apoio aos alunos que possam estar sofrendo situações ruins.

6 – Receber agressões verbais e ameaças na internet (cyberbullying)
Abra espaços para discutir o que acontece online e reforce a necessidade de respeitar o outro também nesse ambiente.

Fonte: CNTE