Comissão debate efeitos negativos do golpe de 64 para democracia

O pronunciamento recente do presidente Jair Bolsonaro orientando as Forças Armadas a comemorarem o golpe militar de 1964,  gerou revolta em diversos segmentos da sociedade. Protestos pipocaram Brasil afora e várias organizações se uniram para repudiar  e denunciar a herança maldita que a ditadura deixou para o Brasil e para o povo brasileiro. E Nesta quinta-feira (4), acontecerá mais uma atividade de esclarecimento do que realmente foi esse período.

A partir das 15h, no plenário da Câmara Legislativa do Distrito Federal (CLDF),  acontecerá um debate  sobre o tema “Os 55 anos do Golpe Militar de 1964 e os reflexos negativos na democracia brasileira e na sociedade do DF até os dias atuais”. A atividade é uma Comissão Geral, de iniciativa do deputado distrital Leandro Grass (Rede)

Para participar, basta confirmar presença pelo e-mail dep.leandrograss@cl.df.gov.br ou pelo telefone (61) 3348-8136.

Como desmascarar a ditadura

“Milagre” econômico – Os que defendem a ditadura militar no Brasil constantemente afirmam que os 21 anos de repressão, morte e tortura foram marcados na verdade por um forte crescimento econômico, conhecido como “milagre econômico”. O dado que se mostra é de que a taxa média de crescimento nesse período girava em torno de 10% por ano. Mas a que custo? Especialistas em economia afirmam que o período da ditadura deixou como herança para o Brasil questões como o endividamento do setor público e o aumento da desigualdade social.

Fim da corrupção – Os entusiastas do regime militar também afirmam que o período de 21 anos foi marcado pela ação transparente e da probidade. Ao contrário, o período da ditadura militar foi um dos mais corruptos da história do país. E isso só não foi amplamente divulgado porque veículos de comunicação eram impedidos de publicar qualquer coisa contra o governo.

Um dos casos de corrupção cometidos durante a ditadura foi a cobrança de propina por parte de Delfim Netto, o pai do milagre econômico, então ministro da Fazenda, em obras de engenharia e financiamento para equipamentos de usinas hidrelétricas. Delfim sempre negou a acusação. O caso é relatado no livro Estranhas Catedrais: As Empreiteiras Brasileiras e a Ditadura Civil-militar, 1964-1988, escrito pelo professor Pedro Henrique Pedreira Campos, do Departamento de História e Relações Internacionais da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ).

Controle da inflação – O tão falado controle da inflação foi feito durante a ditadura militar à custa das classes mais baixas e dos trabalhadores, que tiveram seus salários achatados. Com a mudança da fórmula de cálculo dos salários, que passou a ser feito pela inflação, o salário mínimo caiu 50% em valores reais entre 1964 e 1985. Foram precisos 30 anos para recuperar o poder salarial dos mais pobres.

Estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e da UnB mostra que o 1% mais rico da população detinha entre 15-20% de toda a renda do país. No fim da ditadura, passou a controlar quase 30%.

A inflação, que foi controlada no início, explodiu na segunda metade do regime. Em 1985, o índice anual já batia 231%. Quatro anos depois, durante o governo Sarney, eleito indiretamente pelo Congresso, a inflação chegou a quase 2.000% em 12 meses.

Educação e saúde pública de qualidade – Durante a ditadura militar, foi abolido o investimento público mínimo no setor da educação e os militares abriram o ensino para a iniciativa privada, principalmente no ensino superior. As alterações foram feitas pela Constituição de 1967.

Sem verba para o setor público, a formação de novos docentes ficou prejudicada, os salários e as condições de trabalho de professores se desmantelaram e o ensino teve uma queda abrupta de qualidade.

Na área da saúde não foi diferente. No governo militar, o número de hospitais com fins lucrativos foi de 944 para 2.121, causando a precarização do serviço público de saúde, utilizada principalmente pelos mais pobres.

Mais emprego – As obras conduzidas pelo governo dos militares renderam mais emprego para o Brasil. Entretanto, com a intervenção dos militares sobre os sindicatos, diminuiu o poder de negociação das organizações que representam os trabalhadores e, consequentemente, houve arrocho salarial. A redução dos salários diminuiu também o custo de mão-de-obra, causando facilidade para que empresários contratassem novos trabalhadores.

Morte de “vagabundos” – É comum pensar que os mortos pela ditadura foram líderes sindicais e de movimentos políticos e sociais. Entretanto, o regime militar, também realizou o seqüestro, prisão e tortura de crianças. Os filhos de suspeitos de envolvimento na luta contra o regime militar eram fichados como “elementos subversivos” pelo DOPS (Departamento de Ordem Política e Social). É o caso de Ernesto Carlos Dias do Nascimento, de um ano e três meses de idade, preso junto com os irmãos de 4, 6 e 9 anos, todos filhos de um casal ligado à Vanguarda Popular Revolucionária (VPR) de Carlos Lamarca.

Ainda são inúmeros os casos de mulheres e homens que foram estuprados nas prisões, mulheres grávidas que foram torturadas e obrigadas a parir dentro das prisões, em condições totalmente insalubres.

Segundo o relatório da Comissão Nacional da Verdade (CNV), de 2014, foram reconhecidos oficialmente 434 mortos e desaparecidos políticos no Brasil entre 1946 e 1988, a maioria após 1964, quando iniciou a ditadura no Brasil. Mas o próprio relatório indica que esse número vai muito mais além, já que não se tem o número de vítimas indiretas, torturados que sobreviveram e mortos que jamais foram contabilizados, especialmente os indígenas.

Fonte: com informações CUT Brasília e BBC Brasil