Com Lula, Margaridas rechaçam ataques da direita
Depois de dividir beijos, abraços e “selfies” com quem conseguiu furar a barreira da segurança, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva subiu ao palco do ato oficial de abertura da V Marcha das Margaridas, na noite desta terça-feira (11), e repudiou veementemente os ataques desmedidos que vêm sendo feitos pela direita ao governo Dilma e à democracia brasileira. Na contramão do que tenta perpetuar a mídia comercial diariamente, cerca de 70 mil mulheres e homens, vindos de todos os cantos do país, que participaram do ato apoiaram com euforia a fala do ex-presidente contra a falsa ideia de que o Brasil passa por uma crise multissetorial sem saída.
A figura emblemática de Lula, que há cinco anos não ocupa a principal cadeira do Executivo Federal, ainda se associa a melhores condições de vida para o povo pobre e com oportunidades limitadas, como o que ocupa o estádio Mané Garrincha desde as primeiras horas desta terça-feira (11). Disputando espaço em frente ao palco para conseguir tirar a melhor foto do operário que virou presidente, mulheres e homens jogavam seus crachás em direção a Lula para que ele escrevesse seu nome e marcasse para sempre suas vidas com apenas uma assinatura e algumas palavras de carinho.
Durante o discurso, Lula foi categórico ao relembrar o salto no crescimento da qualidade de vida dos brasileiros nos últimos 12 anos e afirmou que o povo está nas ruas porque “aprendeu a gostar do que é bom”. “O país aprendeu a comer filé e não quer voltar a comer bucho”, metaforizou. Ele ainda reforçou que essa luta deve ser contínua e progressiva. “Quanto mais a gente conquista, mais a gente quer. E quanto mais a gente quer, mais a gente conquista. E o que não for conquistado hoje, será conquistado amanhã. E conquistando no amanhã, uma nova pauta deve ser feita”, discursou.
Apesar da análise positiva quanto aos últimos quatro mandatos presidenciais, Lula confessou que ainda há várias pautas a se avançar no Brasil, como, por exemplo, o veto à redução da maioridade penal. “Que poder tem o Estado de punir um moleque de 16 anos se esse mesmo Estado não cumpriu com a obrigação deste jovem? Cadê a educação deste jovem?”, questionou.
Quanto à crise econômica do Brasil, Lula avaliou que este não é um problema criado por nenhum personagem brasileiro. “Nós vivemos o momento mais extraordinário do nosso país. Nós vivemos algumas dificuldades, que não é uma dificuldade só da presidenta Dilma, não é uma dificuldade de nenhum de vocês individualmente. É daquele tipo de dificuldade que a gente não sabe quem foi que criou. A única coisa que nós sabemos é que não foi o trabalhador que criou a crise econômica mundial. A crise nasceu no coração dos Estados Unidos, no coração da Europa. E hoje ainda há muita gente pagando por essa crise. Eu sei que existem pessoas que tentam jogar a responsabilidade em cima da companheira Dilma, mas essas mesmas pessoas que se apresentam como se tivessem soluções para os problemas do mundo, se esqueceram de que quando eu cheguei à presidência da República, este país estava quebrado”, contextualizou.
Como gancho, o ex-presidente Lula apostou na força do povo como principal arma para combater as tentativas de impeachment contra a presidente Dilma. “Tenho certeza de que com a força do povo, com a coragem e com a garra das mulheres não há ninguém que possa, sequer, tentar ameaçar o processo de construção democrática que está em curso”, refletiu. Para reforçar o time, ele se autoescalou para ir a campo. “Estou preparando meu caminho para voltar a viajar por este país para conversar com o povo”, anunciou Lula.
Promessa de Reforma Agrária
Uma das maiores críticas dos trabalhadores rurais ao governo Dilma é a falta de empenho da presidente em implementar a Reforma Agrária no Brasil. Recentemente, movimentos dos trabalhadores sem terra como o MST e oFNL ocuparam a sede do Incra e do Ministério da Fazenda para demonstrar indignação quanto à falta de vontade política para assentar milhares de famílias que moram debaixo de lonas em locais com condições subumanas.
Como resposta ao vácuo político, o ministro do Desenvolvimento Agrário – MDA, Patrus Ananias, afirmou que a questão será agilizada. “Nós temos o compromisso e queremos reafirmá-lo, que é assentar, em condições dignas, até o final do governo da presidenta Dilma, todas as famílias acampadas hoje no território nacional”, afirmou.
Há ainda um outro compromisso do governo federal ligado aos trabalhadores do campo, segundo Patrus Ananias. “É um compromisso para que os espaços da agricultura familiar, os assentamentos, os esforços do crédito fundiário se tornem espaços de vida. Queremos levar para as nossas agricultoras e agricultores familiares as políticas públicas que tornem a vida digna e decente”, discursou.
Trabalhadoras não admitem retrocesso
Apesar de todo o apoio das Margaridas ao presidente Lula e à presidente Dilma, há evidente consenso entre as trabalhadoras o repúdio à política de ajuste fiscal implementada pelo governo federal através do ministro da Fazenda, Joaquim Levy, que implementa medidas que representam retrocesso aos direitos garantidos pela classe trabalhadora.
“Se tiver que fazer corte, que isso não impacte na vida do trabalhador brasileiro. Este é um recado ao ministro Levy, presidente Lula”, disse a secretária de Mulheres da Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag), Alessandra Lunas.
A dirigente ainda apontou outras questões latentes na sociedade que indicam prejuízo ao povo e à democracia, como a violência contra as mulheres e a ausência de políticas de proteção à mulher em estados e municípios; o projeto de lei antiterrorismo, do Executivo federal, que, na verdade, objetiva criminalizar os movimentos sociais; a concentração dos meios de comunicação e a falta da regulação da mídia.
A vice-presidente da CUT Nacional, Carmen Foro, lembrou que a pauta das margaridas completa 15 anos em defesa de igualdade e democracia. “Sem democracia não há direito, não há igualdade, não há o fim do machismo, não podemos enfrentar quem tenta calar nossas vozes. Temos consciência do que acontece no Brasil e não permitiremos retrocesso a nenhum direito da classe trabalhadora”, declarou.
“Estamos aqui para dizer que, depois de tanto tempo de invisibilidade, transformamos a Marcha das Margaridas na maior organização de mulheres da América Latina”, ressaltou Carmem Foro. Ela saudou as mulheres CUTtistas que se somaram à Marcha e informou que cerca de 50% das componentes do movimento são ligadas à Central.
Nesta manhã de quarta-feira (12), as cerca de 70 mil Margaridas de todo o Brasil estão em Marcha do estádio Mané Garrincha até o Congresso Nacional, ocupando como um mar lilás de coragem e dignidade a Esplanada dos Ministérios.