Cine Brasília corre o risco de ficar sem programação a partir de fevereiro

Com administração privatizada desde meados de 2022, o Cine Brasília corre o risco de ficar sem programação a partir do dia 7 de fevereiro de 2024. A informação é da Savant Editora, uma editora independente com sede em Brasília, que, em postagens recentes, feitas nas redes digitais, diz que a programação do Cine Brasília só vai até 7/2, quando o contrato com a Organização da Sociedade Civil (OSC) termina.

A editora informa que a Secretaria de Estado da Cultura e Economia Criativa do Governo do Distrito Federal (Secec/GDF) não providenciou novo edital para chamamento público para renovação do contrato ou escolha de nova gestão compartilhada. Com o título “Mais uma vez o destino do Cine Brasília é incerto”, a Savant escreveu que “a programação do Cine Brasília, conforme contrato de gestão compartilhada com a OSC que opera, desde julho de 2022, termina apenas a um mês, no dia 7 de fevereiro. Até o momento, a SECEC/GDF não publicou novo edital de chamamento público para a renovação do contrato ou a escolha de uma nova gestão compartilhada”.

E alerta: “Se o resultado final saísse no dia de hoje [5/1], já seria tarde, visto que organizar uma boa programação demanda planejamento com antecedência. Mas, como eu disse, nem sequer há um edital publicado. Sendo assim, não há garantia de que teremos programação no Cine Brasília após 7 de fevereiro. E não estou falando de uma sessão ou outra da embaixada para tapar o buraco. Estou falando de programação de qualidade, com variedade de títulos e bom uso da grade horária semanal, como foi ao longo de 2023, quando aproximadamente 400 filmes foram exibidos no Cine Brasília”, informa a postagem.

No fim de 2023, segundo a Savant, o 56º Festival de Brasília de Cinema Brasileiro serviu como exemplo do que acontece quando a Secec/GDF promove edital com prazos inviáveis, que enfrentou todo tipo de problemas, desde o prazo muito pequeno para inscrição, seleção dos filmes e divulgação do evento até sessões da mostra competitiva mais vazias do que o de costume; grande parte dos filmes exibida sem audiodescrição e legendas descritivas; além do mau uso da grade horária nos fins de semana; dentre outros problemas.

“Nem vou entrar no mérito da programação, já que gosto é subjetivo, mas bastava conversar com o público após as sessões para sentir o nível baixo de entusiasmo. Mais uma vez, nos encontramos em uma situação de incertezas em relação ao Cine Brasília”, escreve. A Savant também diz que no ano de 2019 não houve programação de cinema às segundas e terças-feiras e a lista de filmes em cartaz era atualizada apenas a cada duas semanas e com qualidade reduzida de sessões diárias.

“Eram poucos os títulos do calendário nacional de estreias na programação. Com frequência, realizavam exibições pagas de DVD e Blu-Ray em uma sala equipada para projeção em Digital Cinema Package (DCP), formato mais comum de distribuição e de exibição de cinema digital atualmente. Algumas sessões chegaram a ser canceladas sem aviso prévio.”, afirma.

O Cine Brasília se tornou alvo de observação e críticas pela população do Distrito Federal na gestão Ibaneis pelo abandono e desmazelo com o equipamento cultural, tombado como Patrimônio da Humanidade, sobretudo por quem é produtor ou consumidor assíduo de cultura cinematográfica local, nacional e internacional.

Na série de postagens da Savant Editora, ela lamenta não haver projeto a longo prazo para o Cine Brasília. “No governo de Ibaneis Rocha, a melhor, mais antiga e mais importante sala de cinema do Distrito Federal tem destino incerto. Uma boa gestão compartilhada já não é garantia de bom funcionamento duradouro. De um mês para o outro, podemos perder o acesso a uma programação de cinema de qualidade no DF”.

Confira no link a postagem da Savant Editora: https://www.instagram.com/p/C1sUU2HPFl6/

 

Privatizar a administração é privatizar direitos

Em 2022, o governador Ibaneis Rocha fez uma seleção para escolher uma organização para transferir a administração do Cine Brasília à iniciativa privada. A Organização da Sociedade Civil (OSC) denominada Box Companhia de Arte ganhou a seleção. Recebeu cerca de R$ 2 milhões e um prazo de 14 meses para desenvolver projetos que vitalizassem o chamado “templo do cinema nacional”.

No entendimento do Sinpro, a administração pública deve gerenciar o cinema com a devida qualidade que o serviço público requer, com eficiência, eficácia e efetividade, afinal, o dinheiro investido é público. A OS não vai pôr dinheiro do próprio bolso para garantir uma administração decente. A crise denunciada pela Savant Editora é a mesma que ocorre no setor público de saúde em que a gestão de hospitais foi delegada à OS.

O sindicato afirma que essa crise do Cine Brasília é mais uma que comprova as insistentes denúncias da entidade de que a privatização dos serviços públicos é mais uma forma de governos neoliberais, como o de Ibaneis, mercantilizarem direitos sociais, como o direito à cultura. Isso se repete em outros setores e, constantemente, ameaça a educação pública.

Patrimônio Mundial da Humanidade

O Cine Brasília foi inaugurado no embalo da programação que comemorou, no início dos anos 1960, a transferência da capital do País do Rio de Janeiro para Brasília, em 22 de abril de 1960. Desde então o cinema foi incorporado ao lazer dos pioneiros, ou candangos. Mais do que um equipamento público, ele representa o direito social e constitucional à cultura.

Considerado um dos mais importantes equipamentos culturais de exibição cinematográfica da América Latina, o Cine Brasília recebeu o título de “Patrimônio Mundial da Humanidade” em 1987. “Sua dimensão histórica se confunde com a trajetória do cinema local e nacional. O espaço possui a expressão simbólica e estética da capital do país, seja pela arquitetura ou por suas especificidades como sala de projeção, que proporciona ao espectador uma experiência cinematográfica de excelência”, informa o site do cinema.

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