Governo de São Paulo quer que Chat GPT elabore as aulas da rede pública

O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), e seu secretário de educação, o empresário Renato Feder, decidiram que professores não mais terão a atribuição de preparar aulas. Essa tarefa, agora, caberá ao Chat GPT, ferramenta de inteligência artificial (IA).

Em documento enviado aos professores da rede estadual informando a mudança, a Secretaria de Educação diz que a IA gerará a primeira versão da aula “com base em temas pré-definidos e referências concedidas pela secretaria”. Segundo a pasta, a iniciativa visa a “melhorar” o que foi elaborado anteriormente pelos professores.

Renato Feder é um dos proprietários da empresa Multi, que atua no segmento de eletrônicos e informática. Em 2023, o secretário decidiu que São Paulo não mais faria parte do Programa Nacional do Livro Didático (PNLD), e que promoveria a digitalização de todo o material escolar da rede estadual.

O caso ganhou a imprensa nacional porque os materiais digitalizados distribuídos pelo governo de São Paulo traziam erros grotescos, como o falso dado de que D. Pedro II assinou a Lei Áurea; que Jânio Quadros proibiu o uso de biquínis nas praias da capital paulista (que não tem praias) em 1961, ano em que ele não era prefeito; que enfermidades como os males de Parkinson e de Alzheimer podem ser transmitidos pela água; e outros. Com a repercussão negativa, a Secretaria de Educação teve de recuar.

As ferramentas de inteligência artificial são apenas ferramentas, e não protagonistas do processo de ensino e aprendizagem. Ao deslocar o professor da responsabilidade de preparar as aulas que serão ministradas, o governo paulista dá um recado claro: faz parte do agrupamento que busca perseguir, desqualificar e esvaziar o trabalho desempenhado por professores e professoras.

O mesmo projeto

A iniciativa do governo de São Paulo faz parte do mesmo eixo de propostas como a da educação domiciliar, por exemplo, que entende que o trabalho do professor ou da professora é prescindível. Também integra a mesma corrente de pensamento que elaborou a proposta de “voucherização” do ensino, buscando fortalecer o ensino privado e sucatear a rede pública. E todas essas se relacionam diretamente com a perseguição de docentes, premissa básica dos defensores da Lei da Mordaça. Ou seja, nada de novo no front.

Além de desqualificar o trabalho docente, a entrega da preparação de aulas ao Chat GPT mostra total descompromisso com a qualidade do ensino ofertado aos estudantes da rede pública. Ações desastrosas como a escancarada pela imprensa no ano passado não são “erros”, mas sim, guardam concepções bastante nítidas de educação

Se um material afirma que a cidade de São Paulo é litorânea, pode contemplar quais “erros” que passam despercebidos? E qual o significado político de programar a elaboração de materiais didáticos sob a tutela ideológica direta do secretário de educação? Quais interesses estavam por trás do ato, já revogado, de abrir mão do PNLD e repassar um volume orçamentário alto para empresas privadas do ramo eletrônico e de informática?

Esses não são meros equívocos, mas sim, um projeto deliberadamente privatista da educação, que tem como horizonte o sucateamento da escola pública e a perseguição de professores e professoras, bem como de instituições geradoras e transmissoras de conhecimento. Para certo segmento da sociedade, o conhecimento é algo perigoso, e nem todos podem ter acesso a ele.

A diretoria colegiada do Sinpro manifesta seu repúdio a mais essa ação do governo Tarcísio, e se solidariza com a luta dos profissionais do magistério público paulista, em defesa da educação pública de qualidade – que é uma obrigação constitucional do Estado.

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