Projeto fotográfico do CEF 02 de Ceilândia expôs novo olhar sobre o ambiente escolar

A fotografia é arte? De vez em quando essa pergunta é ressuscitada e levanta a velha discussão dos primórdios da invenção da fotografia sobre se ela é arte ou não. Trata-se de um tema tão pulsante que sempre retorna à pauta de debates conceituais sobre artes. Quando a fotografia foi apresentada à Academia Francesa de Ciências, em 1839, o debate sobre se é arte ou não tomou o mundo da arte. A polêmica foi tão forte que o Vaticano, autoridade máxima do mundo ocidental na época, se reuniu para decidir se a recém-inventada fotografia era ou não uma forma de pecado.

A fotografia foi uma das invenções espetaculares do século 19 que veio para mudar conceitos. Por exemplo, ela, praticamente, retirou das artes aquele estigma de que a produção artística é uma atividade restrita a pessoas iluminadas e, seu o produto, um objeto caro para deleite apenas das elites do mundo. A fotografia nega essa mercantilização da inteligência e sensibilidade humanas. Ela popularizou a habilidade das pessoas de qualquer classe social produzirem conteúdos e formas, voltada para a materialização de um ideal de beleza, harmonia ou expressão de sua da subjetividade.

Tanto é que, enquanto as elites se debatiam sobre se é arte ou não, a fotografia se consolidou como arte, técnica e disciplina escolar, fazendo parte dos currículos do Ensino Fundamental ao Superior. Hoje, mais democratizada do nunca por causa do avanço e da popularização das novas tecnologias, ela é reconhecida como uma das sete artes digitais e está na mão, ao alcance de qualquer pessoa: está no celular. Esse novo argumento foi comprovado pela exposição “Ambiente escolar: um novo olhar”, do Centro de Ensino Fundamental 02 de Ceilândia (CEF 02 de Ceilândia).

Exposição “Ambiente escolar: um novo olhar”

Essa breve história foi contada para mostrar como o CEF 02 de Ceilândia utilizou a fotografia e o celular para reforçar o viés democrático das artes e o uso das tecnologias como instrumento pedagógico. A escola superou a velha discussão filosófica secular sobre o que é arte e apresentou o ambiente escolar como local de inspiração artística e o aparelho celular como instrumento pedagógico. Mas não ficou presa aí. A escola foi mais longe e transformou o olhar dos(as) estudantes em expressão artística, ou seja, em arte.

O projeto é da professora de artes Érika Guedes que, no primeiro semestre, finalizou o conteúdo da sua disciplina com a mostra “Ambiente escolar: um novo olhar”. A exposição foi instalada na própria escola e na EAPE. As fotografias desse trabalho foram produzidas por mais de 150 estudantes de cinco turmas do 9º Ano, que se organizaram em grupos de até quatro pessoas para que cada grupo pudesse ter pelo menos um celular que possibilitasse a participação de todos e a revelação das fotos não ficasse muito cara.

Com o projeto “Ambiente escolar: um novo olhar”, Érika contemplou os ideias do Currículo em Movimento, da Secretaria de Estado da Educação (SEE-DF), e ensinou a importância do ambiente escolar para todos(as). “Decidi fazê-lo este ano para que os estudantes pudessem utilizar o celular como meio pedagógico. Além disso, o projeto contempla o conteúdo do Currículo em Movimento, que trabalha da técnica da fotografia, abordando o tipo de imagem, o ângulo, as cores, a luminosidade dentre outras. Foi também uma forma de os estudantes respeitarem o ambiente e se sentirem pertencentes. Com o novo olhar sobre o ambiente escolar, os detalhes passaram a fazer parte dos momentos deles”, explica a professora.

A pedagogia do método

“Primeiramente, é importante destacar que o conteúdo “fotografia” está no currículo da disciplina artes. Depois, o projeto envolve fotografias tiradas de celulares. Durante as aulas de artes, os estudantes receberam orientações sobre os tipos de fotografias. Nos 15 minutos finais de cada aula de artes, eles foram liberados para fotografarem a escola. A partir dos objetos escolhidos, fui orientando quanto ao ângulo e à luminosidade. Eles tiveram total autonomia para se deslocarem no ambiente escolar e escolherem o que gostariam de fotografar”, explica.

A exposição fechou o conteúdo do primeiro semestre de artes e esteve disponível nos murais da escola até o início de novembro, quando foi retirada para dar espaço à culminância dos trabalhos referentes ao Mês da Consciência Negra. “O projeto ‘Ambiente escolar: um novo olhar’ mexeu com os conceitos acerca da escola entre os estudantes. No início, eles tiveram muita dificuldade em olhar a escola como ambiente com potencial artístico. Mas, depois, passaram a perceber os detalhes de objetos que eram apenas funcionais para o dia a dia”, conta.

Embora seja novo no CEF 02 de Ceilândia, esse projeto já foi feito pela professora Érika em outras escolas em que ela atuou. Além disso, trata-se de um projeto individual da disciplina artes e ainda não está previsto no Projeto Político-Pedagógico (PPP) da escola. “Talvez, em 2024, ele seja um dos tópicos para a Semana Pedagógica. Este ano, de forma indireta, toda a escola e as disciplinas estiveram envolvidas. Direção e professores apoiaram o projeto e foram bem flexíveis quanto aos estudantes andando nos corredores e pedindo permissão para entrarem e outras salas para fotografar”, finaliza.