CEF 407 de Samambaia debate a militarização das escolas e a diversidade

Na semana que antecede o Dia da Consciência Negra, celebrado no dia 20 de novembro, o Centro de Ensino Fundamental 407 de Samambaia promoveu um debate sobre um tema que tem feito parte da rotina da escola: Militarização das escolas e diversidade: implicações nas questões de raça e gênero. A exemplo de outras 14 escolas cívico-militares no Distrito Federal, o CEF 407 teve a militarização imposta de forma autoritária pelo governo Ibaneis em 2019 e desde então tem resistido à série de censuras impostas pelo modelo militar. O debate, realizado durante a tarde desta quarta-feira (16), teve a presença da professora da Universidade de Brasília (UnB), Catarina de Almeida, e do diretor do Sinpro Carlos Maciel.

O artigo 205 da Constituição Federal estipula que a educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho. Respaldado nesta lei, a professora Catarina de Almeida lembra que a militarização da escola pública fere diretamente esta premissa, uma vez que ao impor a padronização, impede a condição de pluralismo de ideias, as concepções pedagógicas e o respeito à gestão democrática.

“É inadmissível a padronização da escola por meio da militarização, uma vez que o próprio modelo militar engessa, impede essa condição de pluralismo de ideias, as concepções pedagógicas, a gestão democrática do ensino público, o respeito à liberdade e apreço à tolerância, e a consideração com a diversidade étnico-racial”, afirma a educadora, ressaltando que além de tudo isto, a militarização “exclui alguns perfis de alunos(as), além de “embranquecer” as salas de aula, fruto de questões racistas e sexistas”.

 

Resistência

O Brasil conta, hoje, com mais de 600 escolas militarizadas em vários estados, exemplo de Goiás, Amazonas e Bahia. O vice-diretor do CEF 407, Josuel Silva, lembra que o CEF 407 resistiu a esse modelo de gestão que ocorre em algumas escolas do Distrito Federal, cuja principal ação, quando instalada, é tolher a liberdade de cátedra, as liberdades individuais e pintar os muros de branco. “Somos uma maioria de negros e mulheres em uma escola cujo modelo de gestão não condiz com a nossa diversidade. A militarização engessa o debate, o livre pensar, as manifestações culturais, fatores que enriquecem o aprendizado e são necessários para o crescimento do aluno. Mesmo a escola sendo cívico militar, a direção nunca deixou de construir uma educação antirracista e antissexista”, comemora o vice-diretor.

Catarina de Almeida ainda ressalta que a escola pública é um ambiente para todas as tribos, todas as vertentes. Com a militarização, isto é anulado. “Isto é horrível na formação de uma sociedade diversa porque a militarização tende a padronizar comportamentos, atitudes, pensamentos. Precisamos justamente do contrário”.

Carlos Maciel lembra que o Brasil é o país que mais mata minorias e ao militarizar, o debate é anulado. “Essa escola é motivo de muita felicidade porque ela sempre resistiu. A comunidade escolar foi contra a militarização e mesmo assim o governador impôs o modelo. É importante que tenhamos em mente que a modelo cívico militar não resolve os problemas e mata a pluralidade e a educação democrática. O que resolve os problemas da escola pública é investimento, valorização dos professores e orientadores educacionais”, finaliza o diretor do Sinpro.

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