Mesmo com provas de excelência, governo desqualifica ensino do Gisno para impor a militarização

Na última semana, o governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (MDB) afirmou à imprensa que que o Centro de Ensino Gisno, localizado na Asa Norte, é a pior escola pública do Distrito Federal.

“Dei prazo e deleguei ao novo secretário de Educação que conversasse com as lideranças e visse se eles têm outro modelo (…) para melhorar aquela que é tida hoje como a pior escola do Distrito Federal”, declarou erroneamente o governador.

Ibaneis desconhece os projetos desenvolvidos pela escola, inclusive, os reconhecimentos já obtidos pela instituição em diversas competições de  conhecimento como a Olimpíada Brasileira de Física das Escolas Públicas (OBFEP) e Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas  (OBMEP).

A escola foi uma das duas que rejeitaram, no último sábado (18/08/2019), a mudança do modelo de ensino, e mesmo após todos os segmentos da escola (pais, responsáveis, estudantes e servidores) rechaçarem  a militarização em votação legítima e aos moldes da Gestão Democrática (Lei nº 4.751), o governador afirmou que a escola será militarizada caso não apresentem uma contraproposta.

Segundo a equipe da escola, a princípio, o Gisno não estava na lista para ser militarizada. No inicio do ano, a unidade estava inclusive cotada para participar do projeto Escola que Queremos, da Secretaria de Estado de Educação do Distrito Federal (SEDF) e, sem qualquer aviso prévio, o governo anunciou a mudança. Agora, o GDF tenta a todo custo empurrar goela abaixo a militarização, mesmo após a comunidade já ter se posicionado veementemente contra a medida.

Para a comunidade do Gisno existe sim uma alternativa à militarização: o investimento.  Ao contrário da opinião equivocada de Ibaneis, o Gisno é, na verdade, uma escola inclusiva, repleta de projetos pedagógicos atrativos e acumula inúmeros prêmios.

Atualmente, o Gisno atende mais de mil estudantes, distribuídos em classes de Ensino Fundamental – Séries Finais, Ensino Médio e Educação de Jovens e Adultos, além de sala de altas habilidades e classes especiais.  Lá, todos têm acesso à atividades  relacionadas ao Meio Ambiente, Educação em Direitos Humanos, Protagonismo, bem como projetos de judô, dança, teatro, cinema, educação física e muito mais.

Apesar dos desafios e problemas que todas as 678 escolas do DF possuem, o Gisno tem colhido bons frutos. E a prova de que os investimentos em projetos e na valorização da educação valem a pena pode ser vista nos resultados positivos. Em 2018, por exemplo, o Gisno foi a única escola pública do DF destaque na Olimpíada Brasileira de Física das Escolas Públicas (OBFEP). Na época, o aluno Bruno Nakamura, do 9° ano, ficou em 2° lugar no ranking e ganhou medalha de ouro.  Outros dois alunos João Pedro Barbosa Lemos dos Santos e João Pedro Souza dos Santos garantiram medalhas de prata para escola. E muitas outras premiações, inclusive, na Olimpíada Brasileira de Matemática.

Para o Sinpro, a declaração do governo sobre o Gisno foi preconceituosa e demonstra que Ibaneis desconhece o papel social que a escola tem cumprido durante anos.

Para a comunidade, a militarização tira a identidade inclusiva do Gisno. Atualmente, apenas 0,5% dos estudantes que compõem o Gisno são moradores da Asa Norte.  Todos os outros vêm das cidades satélites de Brasília e do entorno; Luziânia, Céu Azul, Planatina de Goiás etc.

Para a professora Joelma Nascimento a militarização possui essência totalmente excludente. “Eu não acredito que a militarização vai resolver os problemas da escola. Nós temos dificuldades em vários setores e a saída para resolvê-los está no investimento em recursos humanos e materiais. Como essas crianças serão no futuro se elas não puderem brincar, pensar nem ao menos questionar? Nós recebemos uma diversidade muito grande de alunos que já são excluídos de outras escolas, da sociedade, da família, até mesmo menores que cumprem medidas socioeducativas. Entretanto, nenhum professor ou professora olhará para esse estudante com preconceito, mas sim, com olhar humano e acolhedor.  O papel da escola pública é incluir a todos sem distinção”, ressalta.

A estudante L.M., do 1° ano concorda que militarização é opressora e tira a identidade de cada indivíduo. “Eu adoro a diversidade do Gisno e obrigar os alunos que são diferentes a entrarem em um padrão é muito ruim. Nós sabemos a nossa realidade e, para mim, isso não interfere em nada no nosso aprendizado. Temos um espaço muito grande e o ideal era investir ainda mais em projetos criativos”, afirma.

Já o professor Robson Raimundo explica que mesmo com a tentativa de desmobilização da comunidade com o agendamento da votação para o final de semana, dificultando o acesso dos alunos à escola, os estudantes compareceram em peso no pleito e foram categóricos em sua decisão. “Obvio que temos problemas como qualquer outra escola, no entanto, entendemos que a militarização não é a melhor solução para o ensino. O atendimento das nossas reivindicações de melhoria nos recursos materiais e humanos já seria um ótimo começo. Apenas o endurecimento de questões disciplinares e querer transformar a escola num quartel não garantirão um alto nível de aprendizado. Aqui no Gisno, mesmo com todos os problemas e políticas discriminatórias temos obtido avanços. A militarização é ruim tanto do ponto de vista pedagógico porque não acrescenta nada, muito pelo contrario, cria elemento de tensão e  padronização dentro das escolas e os que não se enquadrarem são expulsos. Além de impedir a organização e participação dos trabalhadores nos movimentos da sua categoria e isso é inadmissível”.

Projeto de Judô do Gisno 

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