Caso o repasse do GDF não ocorra, creches podem não iniciar ano letivo

Na próxima terça-feira, o governo pode se livrar de mais uma pendência deixada pela gestão anterior, acabando com a agonia das creches conveniadas. Conforme acertado na última quarta-feira entre o Conselho de Entidades de Promoção e Assistência Social (Cepas) e o secretário de Educação, Júlio Gregório, o dinheiro referente ao último repasse de 2014, de R$ 8,7 milhões, deve ser pago no dia 20.
O valor deveria ter sido depositado para as creches em setembro, o que não teria acontecido por “falta de recurso financeiro”, de acordo com a   Educação. São 12 entidades, de 64 no total, ainda sem repasse, o que prejudicou o segundo semestre de cerca de 600 crianças no ano passado. Devido à escassez de verbas, muitas creches encerraram as atividades antes do fim do período letivo, marcado para 22 de dezembro, enquanto outras se mantiveram com recursos próprios.
“Na raça”
“Nosso estoque está zerado e  temos dívidas para pagar”, queixa-se o diretor financeiro da creche Éden, no Riacho Fundo, José Carlos Coelho. “Estamos devendo a funcionários, professores e sem pagar remédios”, completa. De acordo com ele, são cerca de 70 contratados para atender 240 crianças em período integral, com cinco refeições e banho diariamente.
A diretora da instituição, Maria José Sousa Marques, afirma que a presidente do Éden teve de recorrer a empréstimos para manter o lugar funcionando durante todo o ano letivo de 2014. “Ficamos sem receber, mas somos obrigados a manter a instituição funcionando por conta do contrato de convênio. Ou seja, continua o débito”, reclama.
Para o início do calendário letivo, marcado para 23 de fevereiro, logo após o Carnaval, Maria José espera contar com o dinheiro prometido pelo governo, senão terá de adiar as atividades. Isso prejudicaria  a rotina das várias famílias cujas crianças frequentam a creche. Mariza Luís de Azevedo, diarista de 36 anos, por exemplo, não teria com quem deixar seus meninos.
“Preciso trabalhar para pagar o aluguel e não tenho dinheiro para contratar alguém para cuidar dos meus filhos”, diz a mãe de Cristian e Breno, de três e cinco anos, respectivamente. “Meu marido também   trabalha  o dia inteiro, então quero muito que a creche volte normalmente”, suplica a mulher.

Memória
Em  dezembro, representantes das instituições   fecharam o Eixo Monumental  para protestar. Na ocasião, a Cepas afirmou que a dívida  ultrapassava R$ 14 milhões e que  oito mil crianças teriam tido o fim do ano letivo antecipado.
Funcionários chegam ao limite
Principais afetados pela falta de dinheiro, muitos funcionários trabalharam “de graça”. A monitora auxiliar do Éden, Joelma Patrícia de Sousa Lima, 25 anos, teve de voltar a contar com a ajuda dos pais para manter as contas em dia. “Meu aluguel está atrasado”, reclama.
Ela teme que, caso a promessa de repasse no próximo dia 20 não seja cumprida, tenha de voltar a Pernambuco, de onde veio para tentar uma vida independente. “Trabalhei mais por causa das crianças e dos pais, que precisavam, mas tudo tem um limite. Ninguém trabalha só por amor”, afirma Joelma.
 
Crise foi generalizada
Após manifestações em frente ao Buriti, uma parte das creches recebeu os valores  atrasados desde janeiro. Segundo a Secretaria de Educação, o critério utilizado para beneficiar umas em detrimento de outras foi o mesmo para justificar o atraso nos pagamento, “falta de recurso financeiro”.
O diretor Valdemir José dos Santos Silva, da creche Coração de Cristo, em Recanto das Emas, disse não entender  como a escolha foi feita, mas preferiu se manter confiante na resolução do problema.  “Caso não haja o repasse, não tem nem como começar o ano letivo, pois não haverá verba”, resumiu. Segundo ele, entre as pendências atuais estão  o 13º dos funcionários e o pagamento de fornecedores.
A pasta de Educação disse que “os repasses de 2015 serão honrados em suas devidas datas”, e o   secretário Júlio Gregório prometeu o mesmo em outras entrevistas.
Saiba mais
 Apesar de serem 12 instituições sem receber dinheiro, são, ao todo, 21 creches prejudicadas, pois algumas entidades são responsáveis pelo gerenciamento de duas ou mais instalações.
Os repasses às creches conveniadas eram feitos (e o sistema deve ser mantido) em três parcelas por ano. A cada quadrimestre, as entidades recebiam   valor  suficiente para o período seguinte.
(Do Jornal de Brasília)