“Calcinhaço da Democracia” leva reivindicações das mulheres para a Assembleia Legislativa de Mato Grosso do Sul

Em resposta às insinuações de alguns deputados estaduais do Mato Grosso do Sul – que citaram a presença de “calcinha na porta da igreja” durante o Carnaval de rua em Campo Grande – diversos grupos feministas realizaram nesta terça-feira (3), o “Calcinhaço da Democracia”. A manifestação foi recebida pela polícia montada, mas as mulheres não se intimidaram e conseguiram montar um varal de calcinhas dentro da Assembleia Legislativa e pontuar diversas reivindicações.

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A coordenadora do movimento Juristas pela Democracia, Giselle Marques, avalia que a manifestação surpreendeu os deputados e a sociedade: “Foi uma reação espontânea de mulheres das mais variadas vertentes (estudantes,donas de casa, profissionais liberais, artistas, etc) que se sentiram insultadas pelas declarações envolvendo o episódio em que uma calcinha teria sido encontrada em frente à uma igreja”.  Para Giselle, as mulheres demonstraram que seus corpos lhes pertence, e, embora não haja nenhuma representação feminina na Assambléia Legislativa de Mato Grosso do Sul, isso não significa que elas estariam abrindo mão do seu empoderamento: “O poder vem da força das manifestações públicas, e a Assembleia hoje foi obrigada a ouvir a voz das mulheres”, ressaltou.

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Reivindicações

Janice Andrade, grávida de 8 meses, também faz parte do movimento Juristas pela Democracia, e participou ativamente do protesto. Ela relata que a violência contra a mulher no estado do Mato Grosso do Sul tem números assustadores: “Recentemente tivemos um assassinato por conta da falha do Estado em oferecer uma medida protetiva. Além disso, o nosso estado está em primeiro lugar entre violência contra criança e adolescente”, reforça a ativista. Ela denuncia que a Casa de Mulher Brasileira (que faz atendimento às mulheres vítimas de abusos) vem recebendo cada vez menos investimentos: “O estado não libera recursos para esse tipo de combate e acaba prejudicando a população. A gente tem ausência de delegacias da mulher 24h, não temos secretaria da mulher nem nada no Estado”, pontua.

Na opinião de Janice, a violência contra crianças e contra a mulheres são temas que as pessoas não colocam como prioride: “A nossa indignação maior é que os parlamentares usaram uma seção inteira para falar da suposta calcinha. Mas não colocam a segurança da mulher como prioridade!”. Janice relata que o Deputado Rinaldo Modesto chegou a dizer que não havia “mulher de família” ali no protesto: “Hoje estou grávida de 8 meses e tenho que ver todo esse horror machista, parlamentares criminalizando o carnaval e as mulheres, diante de tantos feminicídios em nosso estado. Isso é inaceitável!”, sintetizou.

Fonte: CNTE