Brasil perde mais uma voz contra o preconceito

O Brasil perdeu uma importante voz contra o preconceito, contra o racismo, contra a violência doméstica e pela luta a favor da igualdade social. Aos 91 anos, a cantora Elza Soares deixa um rico legado na música brasileira, mas, também, na resistência “contra o racismo estrutural barra pesada”, como ela mesma afirmava.

Em seus últimos álbuns musicais a cantora trouxe à tona um projeto artístico-político voltado para o resgate da identidade e cidadania do sujeito negro. Nos últimos dezoito anos de sua carreira musical, Elza Soares acentuou-se a interpretar canções de resistência ao contexto de opressão e racismo da sociedade brasileira. “A mulata assanhada” e “Negão Negra” são algumas canções que sinalizam a superação da outremização da figura da mulata e o agenciamento da resistência.

Nascida negra, pobre e neta de escravizados, Elza viveu o racismo nas mais variadas formas. No início da carreira, foi proibida de subir em muitos palcos. Teve uma gilete deixada dentro de sua roupa após uma apresentação na rádio Tupi e foi para casa sangrando. Diante de todos estes exemplos de violência e ignorância, sempre respondia as ofensas de forma direta e emponderada. Há quase 20 anos expôs a temática cantando que “a carne mais barata do mercado é a carne negra”. No último álbum, “Planeta Fome”, ela afirma que a tal carne não está mais de graça. “Vale uma tonelada”, respondia a cantora, afirmando que “não cabe mais repetir que o negro tem pouco valor”.

Em nove décadas de carreira e de luta, Elza Soares se consagrou como uma das maiores cantoras do mundo e como porta-voz de bandeiras políticas musicais. “Elza Soares parte nos deixando um grande legado de luta e resistência. Sua voz estará sempre reverberando que as mulheres negras e as LGBT’s precisam ser respeitadas e terem seus espaços e direitos garantidos. Aprendemos com Elza Soares a não desistir e a levantar nossas bandeiras cada vez mais alto”, afirma a diretora do Sinpro, Márcia Gilda.