Botânica por Amor

O Centro Educacional 02 é uma das escolas mais antigas do Cruzeiro. Ela foi erguida quando Brasília era apenas uma menina, e cresceu junto com a capital federal. Acolheu o povo. Gerações inteiras de famílias passaram por ali. Hoje, o CED 02 tem 50 anos, e mesmo com cinco décadas de história, tem a inquietude da juventude para continuar gerando histórias maravilhosas.

Certo dia, estudantes do CED 02 do Cruzeiro chegaram à sala de aula e se depararam com samambaias e outras plantas expostas. “O que essas plantas estão fazendo aqui, professora”, questionaram. “Elas vão estudar com vocês”, respondeu ela, que iniciava ali um projeto que, de tão querido pelos alunos, virou o grupo de WhatsApp Botânica por Amor.

Intitulado “A folha que vejo, a paisagem que enxergo”, o projeto é idealizado pela professora Cristina Torres Tavares junto a estudantes da faixa etária de 16 a 18 anos. Oficialmente, ele começou em 2022. “Mas ainda em 2019 as plantas já eram expostas para observação em sala de aula”, conta a professora.

Ao observar a curiosidade dos estudantes pelas plantas que diariamente eram observadas, Cristina uniu a percepção à abordagem científica. “Desenvolvi trabalhos de investigação científica, onde eles puderam ver que as plantas têm muitas coisas a oferecer e, com elas, podem também construir o conhecimento científico”, diz.

Com o uso do conhecimento prévio dos estudantes sobre a morfologia externa das plantas, professora Cristina iniciou atividade prática no laboratório. A técnica escolhida foi a diafanização, que consiste no clareamento das folhas até que elas fiquem transparentes, possibilitando a observação das nervuras.

“Em grupo, eles (os estudantes) se engajaram para pesquisar e realizar as testagens. Ao observar as nervuras das folhas, viram que era possível identificar as espécies a partir daí. Ficaram encantados! Viram um conjunto de sequências de nervuras que formavam figuras, desenhos que eles nunca imaginavam que poderia estar na parte interna de uma folha, por trás daquela cobertura verde. Se depararam com desafios, encontraram juntos soluções. Despertaram o interesse pelo trabalho científico”, conta professora com alegria.

Das quase 50 primaveras, 26 Cristina atua nas salas de aula das escolas públicas do DF como docente de Biologia, com atenção especial à Botânica. “A gente traz na genética essa questão de interação e conexão com a natureza e com as plantas. A gente precisa resgatar isso. Saber respeitar, entender que aquela planta está ali exercendo uma função”, esclarece a professora.

Para a diretora do Sinpro-DF Regina Célia, o trabalho da professora Cristina é “genial”. Ela conheceu a proposta em uma das visitas ao CED 02, quando lia as informações dos murais, que sempre se perpetuam em fotografias registradas e arquivadas pela dirigente sindical. Bióloga, Regina conta que, ao ver o projeto da professora, ficou encantada, com os olhos fixos em cada detalhe e a mente acelerada, pensando nas mil e uma possibilidades que poderiam brotar dali.

“A professora Cristina não só contribui para a compreensão do mundo natural, ela instiga a formação de pessoas que podem fazer a diferença para a sociedade, uma vez que desperta a vontade dos estudantes para seguir carreiras científicas. E a ciência contribui sobremaneira para melhorar a qualidade de vida da sociedade, encontrar a cura para doenças, desenvolver vacinas, criar tecnologias e, sobretudo, formar sujeitos críticos e culturalmente enriquecidos”, afirma a dirigente sindical.

Professora Cristina lembra que, quando criança, gostava de olhar o balanço das folhas com o vento e observar o barulho que elas faziam ao realizar os movimentos. Ela ainda se recorda do avô abrindo um Atlas de Botânica e contando histórias que brotavam em sua imaginação. “Acho que a Botânica sempre esteve ao meu redor”, reflete. A criança cresceu, se tornou professora e agora semeia em tantas outras vidas o interesse em conhecer e reconhecer o mundo em que vivem e a possibilidade de transformá-lo, gerando bem-estar social.

Essa é mais uma das incríveis histórias que constroem o CED 02 do Cruzeiro. Uma escola que, dizem alguns do que passam por lá, tem solo sagrado.

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