BANCÁRIOS | Pandemia escancara importância do sindicato para manutenção de emprego e direitos

Ainda no período de campanha eleitoral, Jair Bolsonaro deixou evidente seu interesse em desidratar os sindicatos que representam a classe trabalhadora. O trabalho, entretanto, não foi inédito. No governo de Fernando Henrique Cardoso as organizações sindicais já eram alvo da política neoliberal que prioriza o lucro em detrimento dos direitos trabalhistas e da própria dignidade humana. Embora ainda ocultada pela mídia comercial, o fato é que não fosse a atuação dos sindicatos, trabalhadores e trabalhadoras estariam ainda mais prejudicados diante do cenário marcado pela maior crise sanitária do século e por um governo antipovo. A categoria bancária é um exemplo disso.

Agências ou edifícios administrativos são locais de grandes chances de contaminação da Covid-19. Nas agências, além da aglomeração de pessoas, ambientes fechados dificultam a circulação do ar, a manipulação de documentos e dinheiro e as diversas superfícies de contato aumentam as chances de contágio. Da mesma forma, os riscos de contaminação dos edifícios administrativos, por concentrar um número significativo de trabalhadores, é muito grande, devido ao compartilhamento de espaços comuns, inclusive banheiros, elevadores e etc. Apenas em um desses prédios, estão aglomerados cinco mil trabalhadores. A própria população já observou esse risco. Segundo pesquisa do DataSenado, 54% das pessoas têm medo de frequentar os bancos.

Mesmo configurando uma das categorias que estão mais suscetíveis à infecção do novo coronavírus, medidas de segurança nos espaços de atuação de bancários e bancárias do DF só foram garantidas com a atuação do Sindicato dos Bancários de Brasília.

“A percepção do Sindicato de que o trabalho nas agências constitui risco enorme aos trabalhadores bancários, prestadores de serviço e à população fez com que o movimento sindical buscasse a negociação com os bancos e, nos momentos em que houve impasse na implementação de protocolos de segurança que garantissem a proteção da vida, o Sindicato atuou demandando a interveniência do MPT e ainda do próprio GDF. Esta interlocução com o governo possibilitou a inclusão no decreto do atendimento contingenciado nas agências bancárias. Se não tivéssemos assegurado isso, com certeza, a curva de contaminação na categoria, com infelizes óbitos, seria muito mais crítica. Assim, garantimos a proteção primeiro dos grupos de risco, das pessoas que convivem com grupo de risco e, na sequência, o avanço no home office, quando se tratava de serviços que poderiam ser realizados por esta modalidade”, afirma o presidente do Sindicato, Kleytton Morais.

Segundo ele, até questões mais básicas só foram efetivadas com a cobrança dos dirigentes sindicais. “Os bancos nunca iriam por vontade própria adotar protocolos de sanitização, de isolamento e testagem. Essa pauta só tem avançado pela intermediação do Sindicato”, enfatiza.

De acordo com pesquisa feita pelo Sindicato dos Bancários de Brasília, 82% dos bancários “reconheceram como decisiva ou importante a atuação do Sindicato na luta pela implementação de medidas como home office, rodízio, obrigatoriedade de disponibilização pelos bancos de equipamentos de proteção individual aos trabalhadores enquanto medidas de proteção à vida e por melhores condições de trabalho”.

A garantia de direitos e do próprio emprego dos bancários durante a pandemia também é reflexo da organização sindical. Em um momento em que o índice de desemprego sobre geometricamente, o Comando Nacional dos Bancários garantiu dos três maiores bancos do país (Santander, Bradesco e Itaú) o compromisso de não haver demissões durante a pandemia, a não ser aquelas por justa causa.

Da mesma forma, o processo de negociação garantiu aos bancários do Banco Votorantim a manutenção do valor líquido dos salários. “Esta negociação permitiu ir além do que prevê a MP 936, que autoriza a redução de jornada com a redução de salários, no caso, 25%. Garantimos que, caso a soma do valor pago pelo banco somado ao valor do benefício implicasse redução da renda, o banco se comprometerá a complementar o repasse garantindo o valor do salário líquido percebido pelos trabalhadores”, diz Kleytton Morais, que representa o DF no Comando Nacional dos Bancários.

Embora a garantia de direitos trabalhistas e do emprego, pesquisa realizada pelo Sindicato dos Bancários de Brasília aponta que 96% dos 554 entrevistados avaliam que “a situação de trabalho durante a pandemia é insalubre”. “Estamos falando da imposição de metas, de extrapolamento da jornada durante o home office, do excesso de cobranças e da imposição de produtividade em um momento caótico”, relata Kleytton Morais. De acordo com ele, no DF, o Sindicato se debruça para indicar e garantir a adoção de saídas para o problema.

Sonegação de dados

Embora as informações do número de infectados e vítimas fatais da Covid-19 seja determinante para que o Sindicato dos Bancários do DF avalie as medidas adotadas para coibir a proliferação do novo coronavírus e a consequente saúde da categoria, os bancos vêm se negando a declarar essas informações.

“Eles (os bancos), alegando respeito à intimidade, têm sonegado essas informações”, afirma o presidente do Sindicato dos Bancários de Brasília. Ele esclarece que o pleito do sindicato é por dados amplos, como quantidade de casos registrados por unidade de trabalho, e não dados específicos, que violem a intimidade e a privacidade dos trabalhadores.

Do povo

O contexto da pandemia do novo coronavírus também deixou evidente a importância dos bancos públicos. Segundo o próprio presidente da Caixa Econômica Federal, Pedro Guimarães, que se mostra favorável ao processo de privatização do banco, quase dois meses após o início do cadastramento do auxílio emergencial de R$ 600, 107 milhões de brasileiros solicitaram o benefício.

“O compromisso dos bancos privados é com o lucro e com acionistas privados. É uma atuação financeira e especulativa. Com certeza o auxílio emergencial não ‘rodaria’ se não fossem os bancos públicos, que têm o conhecimento, a tecnologia e até o treinamento dos funcionários direcionado para o exercício de atender o público. Vimos nas rondas que fizemos na Caixa e no Banco do Brasil os colegas irem ao encontro da população, embora soubessem do tremendo risco para a sua saúde que aquilo significava. Mas iam, orientando, esclarecendo, buscando alternativa. Se via toda uma movimentação e um envolvimento dos funcionários no sentido de resolver o problema de quem procurava a assistência”, declara o presidente do Sindicato dos Bancários de Brasília, Klaytton Morais.

Série Covid-19: Trabalhadores no centro do debate

A CUT-DF iniciou no último dia 25 a série Covid-19: Trabalhadores no centro do debate. Abordaremos as consequências da pandemia do novo coronavírus nas diversas categorias de trabalhadores do Distrito Federal, que vêm se deparando não só com a crise sanitária, mas também com o descaso de governos e patrões, que acentuam o ataque aos direitos trabalhistas.

Ao mesmo tempo, mostraremos a atuação dos sindicatos de trabalhadores, que não pararam em nenhum momento desde a chegada do vírus, reinventando suas formas de atuação para assegurar os direitos trabalhistas, bem como a dignidade e a vida dos trabalhadores.

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Fonte: CUT-DF