Balanço do primeiro dia de retorno às aulas presenciais traz insegurança para comunidade escolar

Parte dos estudantes da educação infantil retornou presencialmente às escolas nesta quinta-feira (5/8). Entretanto, questões que facilmente poderiam ter sido encaminhadas pelo Governo do Distrito Federal, como a merenda adequada, seguem sem solução. O cenário amplia a insegurança da comunidade escolar diante da pandemia que ainda está em curso.

No CEF 02 da Estrutural, onde 90% dos estudantes estão em situação de vulnerabilidade social, faltaram diversos gêneros alimentícios para servir a merenda adequada. “Hoje o cardápio da manhã era para ser suco de abacaxi com hortelã e frutas picadinhas com leite em pó, e eu só tinha o leite. Então, fiz leite queimado. O almoço e o jantar eram para ser arroz com brócolis, frango ao molho branco e uma abobrinha. E eu só tinha arroz e frango”, relatou a diretora da escola, Juliana Gomes Assumpção.

Esquema da merenda que deveria ter sido servida aos estudantes do CEF 02 da Estrutura e o que realmente foi servido

 

Ela conta que neste quase um ano e meio, a maioria das famílias de estudantes do CEF 02 da Estrutural, que já viviam em situação financeira difícil, se tornou vítima econômica da covid-19, e que a escola era esperada como um espaço que garantisse o refúgio da fome. “Muitos pais e mães perderam o emprego. Aqui, atendo muitas crianças da Santa Luzia (ocupação dentro da Estrutural), crianças que não tem uma boa alimentação. E a alimentação é necessária para o desenvolvimento da criança. Criança com fome não aprende”, afirma.

Há 24 anos na rede pública de ensino do DF, seis deles no CEF 02 da Estrutural, a gestora Juliana Assumpção se diz triste diante da situação. Ela recebeu a informação de que a falta de gêneros alimentícios foi gerada porque as licitações para a compra dos produtos ainda estão em andamento, 13 meses após o início da pandemia da covid-19.

Além dos problemas com a merenda, os casos de professoras/es que testaram positivo para a covid-19 vêm aumentando. Levantamento feito pelo Sinpro-DF mostra que já há cinco confirmações de professores/as infectados com o vírus, além de cinco casos suspeitos.

Nesta quinta-feira (5/8), o governador do DF, Ibaneis Rocha (MDB), disse que essas “intercorrências” são “naturais”. Ele ainda alegou que as contaminações não se deram pelo retorno presencial e que os casos de professore/as infectadas pela covid-19 “não atrapalham”.

“Quando se fala do iminente risco de morte em um cenário de pandemia, não existe ‘intercorrência’, muito menos ‘naturalidade’. A postura que queremos do GDF é de prover, de solucionar, não de tentar naturalizar um cenário de insegurança”, afirma a diretora do Sinpro-DF Rosilene Corrêa.

A dirigente sindical destaca que o Sinpro-DF iniciou no dia 2 de agosto as visitas às escolas como forma de fiscalizar os espaços e acompanhar o processo de retorno às aulas presenciais. Além disso, reuniões com delegadas/os sindicais e gestores, que compõem o Calendário de Alerta e Monitoramento aprovado em assembleia, também estão sendo realizadas.

Nesta sexta-feira (6/8), o Sinpro-DF encaminhará à Secretaria de Educação do DF os pontos levantados no monitoramento iniciado com o retorno presencial às atividades escolares, com a solicitação de agilidade das providências. “O que estamos vivendo é uma tentativa de retorno às aulas presenciais, e esse retorno não pode se dar como consumado em um cenário em que não há condições que tragam segurança para a comunidade escolar”, afirma Rosilene Corrêa.

No dia 11 de agosto, quarta-feira, a categoria do magistério público realizará assembleia com indicativo de greve. A ação faz parte do Calendário de Alerta e Monitoramento.

De olho
Para fiscalizar as unidades escolares e receber relatos e denúncias de problemas que surgirem com a volta às aulas presenciais, a Comissão de Educação, Saúde e Cultura (CESC) da Câmara Legislativa do Distrito Federal (CLDF) criou o Comitê de Monitoramento de Retorno às Aulas Presenciais na Rede Pública de Ensino do Distrito Federal, que será integrado pelo Sinpro, OAB, Fórum de Saúde Distrital e outras organizações da sociedade civil. Os relatos e as denúncias poderão ser feitos por qualquer membro da comunidade escolar. Para isso, basta acessar a linha direta com o Sinpro-DF pelo WhatsApp (61) 99959-0105 ou com a CESC/CLDF pelo o WhatsApp da (61) 98450-8155. Também é possível entrar em contato com o Comitê pelo e-mail cesc@cl.df.gov.br.

 
 

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