Bailar para longeviver ou longeviver para bailar? Sociedade do Cuidado e Longevidade

“Tempo que se eterniza no movimento, que se sincroniza,
e se desmancha nesse corpo que dança.”
Paulo C. S. Ventura

Por Edna Rodrigues Barroso (*) 

 

A Sociedade do Cuidado é contraponto à sociedade da violência, compreendendo o cuidado como um bem público e que não pode ser considerado apenas como uma questão da esfera privada, um problema a ser resolvido dentro das casas e das famílias. Ou seja, é dever do Estado e da sociedade civil organizada se importar e atuar sobre a questão porque “Cuidado é um Direito Humano”.

Uma sociedade assim pressupõe que cuidemos do outro, que cuidemos de nós, que cuidemos do mundo. Ou seja, é possível e indispensável tecer redes intergeracionais de cuidado individual, institucional e coletivo para darmos conta de viver bem nestes tempos desafiadores. Especialmente no momento em que as populações, do mundo e do Brasil, envelhecem aceleradamente.

Envelhecer cada vez mais e melhor exige que Estado e sociedade aprendam, entre outras coisas, sobre intergeracionalidade, aprendizado ao longo da vida e cultura do cuidado. Mas, do ponto de vista prático, como fazer isso? Como democratizar o cuidado, para além dos lares, das mulheres, do pessoal da saúde, educação e assistência social? Como torná-lo cada vez mais visível e valorizado?

As políticas públicas voltadas para o cuidado e a longevidade são indispensáveis e urgentes. Também são fundamentais ações que entidades como o SINPRO já realiza, voltadas para o segmento de quem se aposentou. Dentre todas as atividades, vamos destacar o Baile das Aposentadas e Aposentados.

Podemos afirmar que sua realização é um tempo/espaço de cuidado institucional, de caráter individual e coletivo. Isso porque promove encontros e reencontros; coloca corpos em movimento se deslocando e dançando; oportuniza que diferentes gerações se conectem; reconhece que a contribuição financeira e militante do pessoal aposentado deve ser retribuída; oportuniza uma noite de beleza e de produção visual; estimula a alegria coletiva e a experiência compartilhada; contradiz a ideia etarista de que pessoas 50+ não curtem ou não precisam de diversão, arte e cultura. A trilha sonora da festa retratou bem isso. Vejamos:

“Todos os dias quando acordo, não tenho mais o tempo que passou, mas tenho muito tempo…” Afinal, tempo se mede não apenas pelos relógios, mas também por sentimentos e sensações.

“Se um dia eu pudesse ver meu passado inteiro …” Pois a festa proporciona a oportunidade de rever muitas pessoas que fizeram história conosco.

“Amar até, amar até, até quando Deus quiser…” Posto que “meu caminho é cada manhã”.

“Viver e não ter a vergonha de ser feliz…” Já que podemos sê-lo aos 20, aos 40, aos 80.

Retomemos o título: Bailar para longeviver ou longeviver para bailar?  Não é preciso escolher. Bailaremos para viver muito e melhor porque é nosso direito humano avançar no tempo Chronos e no tempo Kairós. E viveremos mais para dançar, rir, cantar, brincar, beber, comer, conviver, errar, acertar, aprender, lutar, cuidar, ser cuidada/o, amar.

Segue o baile, vida que segue!

“Não quero morrer,  pois quero ver como será que deve ser envelhecer
Eu quero é viver pra ver qual é, e dizer venha pra o que vai acontecer”.
Arnaldo Antunes

 

(*) Edna Rodrigues Barroso, professora da Secretaria de Estado de Educação do Distrito Federal.