Atualidade de Paulo Freire na pandemia do novo coronavírus
A gestão da pandemia desmascara a má gestão da economia, que tem levado ao aprofundamento das desigualdades já existentes. A crise é anterior à pandemia. Ela já estava instalada por meio de uma geopolítica de disputa muito forte entre EUA e China, com repercussões graves e bastante invasivas, de tentativas de intervenção na América Latina, já evidenciada na Venezuela e em outros países, como o Brasil no governo atual.
Ele explica que o Brasil vive um desprezo total com um sistema público que está atendendo precariamente as demandas. Na visão de uma educação libertadora, o que Paulo Freire traz para os dias de hoje é aprofundar as condições estruturais e conjunturais do problema e, nessa medida, assumir a organização dos trabalhadores, compreendendo esse fato para, exatamente, ter uma elevação de consciência política e, nesse contexto, fazer uma resistência mais forte ao governo, portanto engajar à palavra de ordem do #ForaBolsonaro.
Nesse sentido, uma visão de educação libertadora freiriana conduz para o fato de que, na pandemia, precisamos trazer as razões pelas quais o Estado brasileiro não tem cuidado de seu povo, diferentemente de Cuba, onde o movimento do Estado foi o de fortalecer a imunidade da população para que o coronavírus não tivesse espaço de contaminação, enquanto no Brasil foi justamente o contrário”, denuncia a professora aposentada da Universidade de Brasília (UnB), Maria Luiza Pereira.
Através do tempo
A teoria Paulo-freiriana atravessa o tempo. Ele foi o mentor da educação para a consciência. Muito mais do que um método de alfabetização de adultos, ele elaborou uma filosofia da educação adotada nas melhores escolas e universidades ao redor do mundo. Ele é o terceiro teórico mais citado em trabalhos acadêmicos no planeta. Considerado um dos mais notáveis pensadores da pedagogia da humanidade.
A ferramenta de pesquisa para literatura acadêmica Google Scholar apontava, em 2018, que Freire havia sido citado 72.359 vezes ao redor do mundo, ficando atrás somente do filósofo Thomas Kuhn e do sociólogo Everett Rogers, ambos estadunidenses. Ele foi perseguido pela elite empresarial brasileira e estadunidense. Por causa dos métodos inovadores e da filosofia pedagógica que ele havia criado, com foco na transformação social foi exilado por 16 anos.
“Evidentemente, eu fui preso e exilado por causa da ditadura. A ditadura militar de 1964 não só considerou, mas disse por escrito e publicou que eu era um perigoso, subversivo internacional, um inimigo do povo brasileiro e um inimigo de Deus”, disse Freire numa entrevista concedida à TV Cultura, em 1989.
Breve histórico
Em 1964, ano em houve o golpe civil-militar no Brasil, apoiado e financiado pelos EUA, que depôs João Goulart da Presidência da República, Paulo Freire foi cassado e preso por 70 dias. Na época, ele residia com a família em Brasília porque estava a serviço do então Ministério da Educação e Cultura (MEC) e desenvolvia um trabalho de formação de professores em Goiânia e o Programa Nacional de Alfabetização.
Esse programa foi extinto pela ditadura militar em 14 de abril de 1964. Pau mandado da elite empresarial conservadora do País e da Embaixada dos EUA, os militares acusaram o programa e o próprio Paulo Freire de subversivo e de ser contrário aos interesses da nação. Acusaram seus autores de quererem implantar o comunismo no País.
Com esse golpe na educação, a elite, sobretudo a latifundiária, os EUA e os militares deram fim ao projeto de Goulart de lançar 60.870 Círculos de Cultura para alfabetizar 1,8 milhão de brasileiros ainda no ano de 1964. Desse total, 8,9% estavam na faixa etária entre 15 e 45 anos. Eram brasileiros que nunca tiveram o direito à educação e não sabiam ler nem escrever.
Diante do tema da pandemia do novo coronavírus e da história da educação brasileira, nesta terceira matéria da “Série Paulo Freire: vida e obra”, que integra a Semana Paulo Freire – 99 anos, o Sinpro-DF indica os livros “Pedagogia da Esperança”, de autoria de Paulo Freire (1992) e o livro “Medo e ousadia: o cotidiano do professor”, cujos autores são Paulo Freire e Ira Shor (1986).
Confira, a seguir, a primeira matéria da série:
Sinpro-DF inicia Semana Paulo Freire com série sobre vida e obra
Paulo Freire cria método e alfabetiza adultos em 45 dias