Atos contra Bolsonaro são resposta ao “fim do ativismo” defendido pelo presidenciável

No último sábado (20), centenas de milhares de mulheres e homens voltaram às ruas com o grito “Ele Não”, contra Jair Bolsonaro, candidato à presidente do Brasil. Desta vez, elas unificaram o discurso em torno de um único nome: Fernando Haddad (PT), o professor que disputa o segundo turno dessas eleições presidenciais com o capitão reformado do Exército. Longe de ser uma escolha por identificação partidária, o ato trouxe como tônica a defesa da democracia e dos direitos conquistados pelo conjunto da sociedade, inclusive o de exercer o ativismo.
“Os atos realizados dentro e fora do Brasil são uma resposta clara aos ataques de Bolsonaro não só contra as mulheres, mas também contra indígenas, LGBTIs, negros e a classe trabalhadora em geral. Mais que retirar direitos, Bolsonaro quer calar cada um de nós; quer nos proibir de ir às ruas, e não tem pudor ao dizer isso. E tirar de nós o direito do ativismo, seja ele qual for, é blindar o Estado de qualquer participação social e, consequentemente, acabar com a democracia”, avalia o secretário-geral da CUT Brasília, Rodrigo Rodrigues.
O dirigente sindical se refere ao pronunciamento de Bolsonaro no último 7 de outubro, logo após o resultado do primeiro turno das eleições, quando ele foi categórico ao afirmar: “Vamos botar um ponto final em todos os ativismos do Brasil”.
A declaração, que é claramente uma afronta à Constituição Federal, foi rebatida pelas organizações da sociedade civil e movimentos sociais. Uma nota de repúdioassinada por mais de 4 mil organizações desse tipo afirma que “trata-se de uma ameaça inaceitável à nossa liberdade de atuação”. “Não será apenas a vida de milhões de cidadãos e cidadãs ativistas e o trabalho de 820 mil organizações que serão afetados. Será a própria democracia brasileira. E não há democracia sem defesa de direitos”, diz a nota.
O documento, publicado no dia 15 de outubro, lembra ainda que “foi por meio do trabalho ativista de tantas entidades que o Brasil conquistou, por exemplo, leis como a do combate ao racismo e de enfrentamento à violência contra as mulheres; políticas públicas como o seguro desemprego e o financiamento estudantil; programas de combate ao desmatamento e de proteção dos animais; a Lei antifumo e a Lei da Ficha Limpa, que nasceu da iniciativa da sociedade civil para combater a corrupção nas mais diferentes esferas no país”.
Números não abalam a resistência
As pesquisas de intenção de voto vêm apontando Bolsonaro como favorito. Questionáveis, os estudos parecem não ter arrefecido os ânimos daqueles que lutam por um Brasil que não permite a ditadura, a tortura, os privilégios e a ausência de direitos.
A bibliotecária Jurema da Silva, de 35 anos, se somou às milhares de pessoas que realizaram o ato “Mulheres pela verdade e pela democracia”, realizado nesse sábado (20) no DF. Para ela, que é mulher e negra, é essencial que “a gente siga resistindo e nunca baixe a cabeça para o opressor”. “Desde sempre a construção social que vivemos mostrou que se eu não mantivesse minha resistência, eu teria que sucumbir. Sempre sofri racismo, desde a infância, então sempre tive que me manter firme. Não vou mentir, tenho muito medo de que ele (Bolsonaro) seja eleito e que esses ataques, como agressões e até mortes daqueles que se colocam contrários ao que ele pensa, se intensifiquem. Mas eu espero que a gente siga resistindo”, afirma.
Tais números que mostram a maioria da população com Jair Bolsonaro também perdem a solidez quando desmascarados os processos obscenos que os geraram. Reportagem do jornal Folha de São Paulo publicada no último dia 18, denunciou que a campanha de Bolsonaro foi construída ilegalmente com o apoio de mega-empresários.
A estratégia foi a seguinte: as empresas compram de agências – como a QuickMobile, Yacows, Croc Services e SMS Market – um serviço chamado “disparo em massa”, usando a base de usuários do candidato ou bases vendidas por agências de estratégia digital, o que também é ilegal. Então, disparou-se para essas pessoas, via WhatsApp, uma série de notícias falsas – as chamadas fake news – contra o PT, como a divulgação do Kit Gay para alunos do ensino básico, por exemplo. Segundo a reportagem, as doações ilegais de um só empresário chegam a R$ 12 milhões.
Para a coordenadora-executiva do FNDC (Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação) e do Intervozes – Coletivo Brasil de Comunicação Social, Bia Barbosa, “essas eleições estão sendo muito influenciadas essencialmente pela internet, nas redes sociais, com as fake news sendo disseminado em massa”. Entretanto, ela destaca que a mídia tradicional também vem exercendo ilegalmente o uso de concessões de rádio e televisão para favorecer deliberadamente Jair Bolsonaro.
“O FNDC e o Intervozes protocolaram nessa semana uma representação no Ministério Público Eleitoral contra a Record e a Bandeirantes e contra uma concessionária do SBT no Pará, por campanha aberta em favor do candidato Jair Bolsonaro, já que a lei eleitoral impede que os concessionários de serviço público de radiodifusão exerçam favorecimento no processo eleitoral”, disse Bia Barbosa.
Segundo ela, “a comunicação alternativa, comunitária, popular, sindical, tem sido central para disseminar a contra narrativa de tudo isso que está acontecendo”. “Sem dúvida, a gente precisaria ter um sistema de comunicação público muito mais fortalecido para frente a esse tipo de problema.”
Fonte: CUT Brasília / Foto: PT-DF