Ato público em Mariana pede punição aos culpados por crime

Manifestantes de diversos movimentos marcharam pelo centro de Mariana, para demonstrar solidariedade aos afetados pelo rompimento das barragens de resíduos de mineração Santarém e Fundão.
Compareceram ao ato, realizado na tarde da última quinta-feira (12), moradores, familiares de vítimas, dirigentes e militantes dos movimentos sindical e sociais, entre eles, o Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), Movimentos dos Sem Terra (MST), Movimento dos Atingidos por Mineradoras, Brigadas Populares, Levante Popular da Juventude e Central Única dos Trabalhadores de Minas Gerais (CUT/MG).
Os manifestantes cobraram providências dos governos federal, estadual e municipal. Uma das reivindicações do ato foi que haja uma punição rigorosa para a Samarco, a BHP Billiton e a Vale, acionistas da empresa.
Os ativistas repudiaram o modelo empregado pelas mineradoras no Estado e a troca de uma CPI da Mineração por uma comissão, feita pela Assembleia Legislativa de Minas Gerais, para apurar as responsabilidades pela tragédia.
Após concentração na Praça Gomes Freire, os manifestantes saíram em passeata até a Praça da Sé, onde fizeram um abraço simbólico em todo o conjunto arquitetônico histórico. Depois, eles se reuniram para o debate público “Catástrofe em Mariana, uma Tragedia Anunciada”, com a participação do arcebispo dom Geraldo Lyrio Rocha.
O acidente
Nove corpos foram encontrados até esta sexta-feira (13), 19 pessoas estão desaparecidas e 836 estão desabrigados. A avalanche de lama tóxica, provocada pelo desabamento, destruiu o subdistrito de Bento Rodrigues e se espalhou até o Espírito Santo, contaminando a bacia hidrográfica do Rio Doce, com danos irreversíveis ao meio ambiente.
“Querem mostrar que está tudo bem. Mas as pessoas deixaram suas casas sem seus bens e sem recursos. Tentam individualizar o problema, mas ele é coletivo. Nossa mobilização é coletiva, pois a tragédia afeta a toda Minas Gerais, a toda a classe trabalhadora”, explicou Beatriz Cerqueira, presidenta da CUT/MG , que criticou a Vale. “Cobramos ações mais efetivas de proteção à vida. A empresa não sabia o que fazer em caso de emergências Não havia um plano para alertar trabalhadores e evacuar a população. Insistem em tratar o caso como acidente e não dão uma resposta efetiva a muitas perguntas. Colocar as pessoas em hotéis e pousadas não é solução. Dão respostas vazias. Dizer que a lama não é tóxica não resolve. Quem vai consumir a água contaminada? Exigimos providências porque outras tragédias podem acontecer.”
Beatriz Cerqueira também se indignou com a forma como a Assembleia Legislativa têm tratado o assunto. “É lamentável que a CPI da Mineração, que teria poder para apurar rigorosamente tudo o que aconteceu, tenha se transformado, em 24 horas, numa comissão que não terá o mesmo impacto.  O poder econômico se sobrepõe à defesa da vida. Por isso defendemos o financiamento público de campanha. Não tenho dúvida que a Samarco e Vale lucraram muito à custa da população, dos trabalhadores e do meio ambiente”, afirmou.
A presidenta da CUT/MG destacou, ainda, que as cidades mineiras não podem deixar de discutir a exploração de minérios na região. “Mariana e os demais municípios do Estado precisam rediscutir a mineração. O governo de Minas e o governo federal devem ao povo esta rediscussão. A Samarco e a Vale devem assumir a responsabilidade por tudo o que aconteceu. Precisamos pressionar para que o poder público puna as empresas. Não vamos deixar Mariana sozinha”, acrescentou Beatriz Cerqueira.
As cobranças por punição aos responsáveis pelo acidente seguiram. “O governo não pode deixar de fazer o enfrentamento com as mineradoras, para que as vidas, as nascentes e a fauna sejam preservadas. Homens e mulheres perderam casas, perderam a vida para que pudéssemos acordar. Nossa união é o primeiro movimento para derrotar este projeto neoliberal predatório que permanece nas mineradoras, que apenas visam o lucro, em detrimento de vidas. A vida tem que se sobrepor. A luta continua, companheiros”, disse o secretário de Meio Ambiente da CUT/MG e presidente do Sindágua-MG, José Maria dos Santos.
O arcebispo da cidade, dom Geraldo Lyrio Rocha pediu que se respeite as vítimas do incidente e que os próximos passos sejam tomados em parceria com eles. “Uma coisa ficou clara. Essa tragédia tem dimensões imensas e consequências imprevisíveis. Nesse momento não se pode tomar decisões sem ouvir os atingidos nem abrir mão dos direitos, que tem que ser rigorosamente respeitados”, apontou o religioso.
Também participaram do ato e da marcha o secretário-geral da CUT/MG, Jairo Nogueira Filho;  o secretário de Formação, Gilmar de Souza Pinto; representantes dos eletricitários, metroferroviários, petroleiros, do Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas (MLB), do Levante Popular da Juventude, entre outros.