Assassinato de professora em SP é retrato da falência de segurança e investimento nas escolas públicas

Elisabete Tenreiro, professora de 71 anos da Escola Estadual Thomazia Montoro, em São Paulo, foi mais uma vítima da violência que circunda as escolas públicas Brasil afora. Durante a manhã desta segunda-feira (27) a educadora foi cruelmente assassinada por um aluno de apenas 13 anos após entrar na sala de aula armado com uma faca e apunhalar a educadora pelas costas. O estudante do 5º ano ainda feriu outras três professoras e um aluno antes de ser desarmado.

O caso, que aumenta o triste índice de violência que emana de uma sociedade doente e intolerante, agravada por uma síndrome epidêmica de ódio difundida nos últimos anos pelo Bolsonarismo, escancara a falência da segurança e de investimento dos governos na escola, ambiente que deveria ser palco de aprendizado, da construção do conhecimento e de busca por um mundo melhor, preparando os(as) jovens para o exercício da cidadania, o qualificando para o mercado de trabalho. O que se vê, lamentavelmente, é um país envolto no culto à violência, de desqualificação do respeito ao próximo, fatos que geram tudo isto que estamos vivendo.

Nas últimas semanas a capital federal registrou três casos de tentativas de violência em escolas públicas de Santa Maria, Riacho Fundo II e Candangolândia. Em todos os episódios, constata-se que fatores como o abandono dos(as) estudantes durante a pandemia, que não receberam nenhum auxílio e estrutura do último governo; a questão social vivida pela maioria dos(as) alunos(as) das periferias; além da violência física sofrida por muitos(as) deles(as) estão por trás destes atos, que colocam o ambiente escolar como a maior vítima desta conjuntura. Associado a isto, o Estado tem virado as costas para esta dura realidade ao não investir em policiamento nas proximidades das escolas, de forma a coibir a ação de criminosos; na falta de direcionamento de verbas para a contratação de professores(as), orientadores(as) educacionais e em novos concursos públicos para a rede; no reforço da alimentação escolar, e de todas as garantias necessárias para que os(as) estudantes da classe trabalhadora permaneçam na escola. É importante ressaltar que a violência é resultado de uma ausência e é dentro de um conjunto de fatores que temos o reflexo da violência na escola, quando ela está abandonada.

 

Realidade permeada de desigualdades

O Sinpro realizou uma pesquisa em 2018, quando 58% dos(as) educadores(as) do DF disseram que já foram vítima de algum tipo de agressão na escola ou dentro da sala de aula. O relatório ainda mostra que o tipo mais comum de violência é a verbal, citada em 43% das entrevistas, seguida por ameaças (29%) e bullying (11%). Os principais agressores são os estudantes (43%).  

A violência é um fenômeno que decorre do modo de organização da sociedade capitalista, caracterizada pela desigualdade social, econômica e de oportunidades, fatores que a pandemia de Covid-19 acabou agravando. Nesse sentido, a construção de uma cultura de paz requer ações intersetoriais e um trabalho em rede voltado ao educar e cuidar.

Ações contrárias à militarização, à repressão e à coerção são necessárias, mas é preciso a ação direta do governo no incremento de medidas para que casos como o de turmas superlotadas, gerando dificuldades de aprendizagens; a ausência de monitores e de educadores(as), e da falta de escolas acabe sendo um estopim para o aumento dos índices de violência.

A diretoria colegiada do Sinpro presta toda solidariedade aos(às) familiares e amigos(as) da professora Elizabete Tenreiro neste dia de tanta dor, e a promessa de manter uma luta constante e intransigente pela valorização da vida destes(as) profissionais que buscam, por toda sua vida, a busca de uma educação pública libertadora, plural e de qualidade para toda a população brasileira.

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