As histórias do professor Chico, que podem mudar o mundo


Quando criança, Francisco de Assis Assley Faos, o Chico, esperava a noite chegar para deitar ao lado da mãe e ouvir contos populares: esses, dona Nair Valério sabia aos montes. “Minha mãe era a melhor contadora de história do mundo”, lembra Chico. Dona Nair já se foi, mas deixou para sempre em Chico o gosto por histórias, que podem transformar o mundo quando pensadas para desenvolver o pensamento crítico.

Chico é Pernambucano. Aos 5 meses de idade, mudou-se para o Paraná, onde morava com sua família em um sítio. Lá, no outro extremo do país, com clima e sotaque distintos da sua cidade natal, o pai de Chico trabalhava em colheitas de algodão, de café “e do que mais tivesse”.

No sítio onde vivia, Chico não tinha acesso a livros. As grandes imersões em mundos imaginários e histórias fantásticas eram feitas única e exclusivamente através da literatura oral realizada por sua mãe.

“Até meus 7 anos, morei no Paraná. Depois, vim pra Brasília. Na viagem, meu pai perdeu todos os nossos documentos, e eu não tive como entrar na escola. Só entrei na escola com 12 anos, quando todos os meus documentos estavam organizados”, conta o professor.

Foi também aos 12 anos que Chico teve acesso a livros. Foi paixão à primeira vista e para toda vida. Chico cresceu, se formou em Artes e Pedagogia e tornou-se professor da rede pública de ensino do DF, onde transformou a paixão por livros em método de ensino aplicado para crianças e adolescentes.

Em 1990, professor Chico implementou o projeto Literatura ao Vivo na Escola Classe 2 da Ceilândia Sul. A partir do projeto, Chico e outros professores conseguiram contornar o problema de indisciplina generalizado. “O projeto consistia em abordar os conteúdos necessários através de livros de literatura. Mas não era obrigando a criança a ler, mas incentivando à prática da leitura”, conta.

Foi o pontapé inicial para que Chico começasse a escrever suas próprias histórias. Não qualquer uma. Mas aquelas que tivessem capacidade de dialogar sobre questões essenciais para a formação de pessoas críticas e protagonistas de suas próprias histórias, as de vida.

O primeiro livro escrito por Chico foi “O Bicho”, indicado para crianças de 4 a 13 anos. Em 24 páginas, a obra aborda os monstros que assustam e intimidam cada um de nós. Ao mesmo tempo, o livro resgata coragem, inteligência, criatividade para entender, desvendar e superar esses “monstros”. E foi assim que Chico conseguiu trabalhar com crianças tão pequenas questões complexas como, por exemplo, violência familiar. “Tinha criança que dizia que o monstro era o pai”, lembra o professor.

Depois de “O Bicho”, professor Chico escreveu “Migalhas”, “A Gotinha Azul”, “Tempo de Areia”, “Lendas”, “Mujo, um caracol abilolado” e o mais recente “Minha pele cor de pele”, que será lançado em abril de 2022, na Feira do Livro de Brasília.

Todas as obras de Chico transferem para a literatura questões reais, ainda que de forma metafórica. Meio ambiente, consciência de classe, valorização da cultura brasileira, tristeza e solidão, racismo, gênero e uma infinidade de questões que fazem toda diferença no global quando bem esclarecidas e compreendidas individualmente.

Hoje aposentado, Chico não abandonou as salas de aula. Embora não exerça mais a docência, o professor e escritor continua levando a crianças e adolescentes histórias que podem transformar suas vidas; assim como fez dona Nair, sua mãe.

Minha Pele Cor de Pele
A mais recente obra de Chico, “Minha pele cor de pele” é um livro antirracista.

“Na escola, há essa questão do lápis cor de pele. ‘Posso pintar com o lápis cor de pele?’, às vezes diz o aluno ou mesmo orienta o professor. E aí o lápis que ele pega é aquele rosinha. Não existe só uma cor de pele. Não existe só a pele rosadinha. E o livro fala justamente dessa diversidade: do negro, do branco, do indígena, do oriental, de pessoas que, por causa de doença, tem pele azul”, esclarece o professor.

Segundo Chico, a questão racial é uma das mais difíceis de ser trabalhada em sala de aula. “Sempre se trabalhava (a questão de raça) com aquele livro ‘Menina do Laço de Fita’. Tudo que se falava de negro, se tirava desse livro. E eu acho que é muito mais. É trabalhar a questão das oportunidades do negro na sociedade, o preconceito – que eu também sofri por ser negro –, o cabelo, a autoestima”, afirma ele, e completa: “’Minha pele cor de pele’ é uma oportunidade de tratar em sala de aula a questão do racismo na sociedade”.

Embora ainda não tenha sido lançado, “Minha pele cor de pele” já pode ser adquirido nos seguintes locais:

Livraria Acervo Literário | Fone: (61) 99988-2285, com Ivan

Editora Art letras | Fone: (61) 98230-9119, com Carlos

Livraria dos Escritores GAEB | https://gaeb.loja2.com.br/