As falácias contra a educação pública na grande mídia

Causou profunda indignação o artigo de Cláudio de Moura Castro publicado em certa revista semanal, que abandonou o jornalismo há muito tempo. Mais do que os ataques desferidos contra a nossa categoria, que, infelizmente, têm sido costumeiros, o texto chama a atenção pela absoluta ignorância em relação à realidade da Educação no Brasil – que também tem sido costumeira.
Não vamos interagir com a pergunta que dá título ao texto – “Professor ganha mal?” – porque ela sequer merece comentário, e a população brasileira conhece essa resposta. Vamos ao artigo.
O colunista sugere que deveria haver relação entre o salário do professor e o que seus alunos aprendem – como se fossem itens igualmente quantificáveis ou mensuráveis. Poderíamos desconsiderar essa tese pela sua própria estupidez, porém, vale destacar que tal falácia é uma nítida expressão do pensamento liberal distorcido que impera na direita autoritária brasileira, que não consegue guardar coerência nem com as formulações dos teóricos nos quais se referenciam.
Estabelecendo essa relação, Castro nada mais faz que defender a velha meritocracia – tema que ele retoma ao criticar que “ótimos” recebam o mesmo que “péssimos”. Trata-se de, mais uma vez, mercantilizar a Educação, tratando-a conforme regras de mercado, desobrigada de atender as reais necessidades do nosso país, e jogando seus profissionais na vala comum da “competição interna” como solução para a qualidade do ensino.
É essa simplista e perversa lógica de “raciocínio” que leva o autor a desqualificar despudoradamente direitos conquistados pela classe trabalhadora, como aposentadoria, férias, licença-maternidade, direito de greve. Tudo de acordo com a agenda de desregulamentação apresentada pelo governo golpista de Michel Temer e Mendonça Filho.
Ao “argumentar”, o colunista desfila seu completo desconhecimento acerca da vida e da profissão dos professores (as) e orientadores (as) das redes públicas no Brasil, que constituem uma das categorias mais atingidas pelas chamadas doenças ocupacionais: danos físicos ou psíquicos causados pela rotina estafante e por precárias condições de trabalho. Essa realidade está atestada em estudos acadêmicos facilmente acessíveis, além de dados da Associação Nacional de Medicina do Trabalho – todos já apresentados por veículos da grande imprensa que o articulista provavelmente considera ilibados.
Para completar o festival de teses frágeis, também foram alvo do articulista aqueles e aquelas que, a despeito de todos os prejuízos e dificuldades, dedicam-se a aprofundar seus estudos em programas de mestrado e doutorado. Ele questiona os benefícios que tal dedicação pode trazer para os estudantes. Para ele, a maior qualificação do professor ou professora não contribui para o rendimento do aluno; sem apontar sob qual critério se dá tal afirmação, e, principalmente, em quais “demonstrações cabais” ele se baseia para apresentá-la. Tudo para dizer que o incremento salarial não se justifica.
Repleto de clichês elitistas e bobagens de toda sorte, o texto, entretanto, não chega a surpreender. Ele integra o atual contexto de ataques à nossa categoria e à escola pública, entre os quais se encontram os Projetos de Lei da Mordaça e as anunciadas tentativas de retirada de direitos e perdas salariais. Castro é somente mais um a somar esforços para desqualificar uma categoria que, a despeito de tantos golpes, segue aguerrida para defender seus direitos e a democracia. É da nossa força que eles têm medo, e é da nossa força que nos valemos para enfrentá-los.
Artigo assinado pela Diretoria Colegiada do Sinpro