“As eleições de 2022 serão as eleições de nossas vidas”, dizem palestrantes

O título da matéria resume a análise de conjuntura realizada no segundo dia do 12º Congresso de Trabalhadoras/es em Educação (CTE). A primeira mesa, coordenada pelos diretores do Sinpro-DF, Berenice Darc e Fernando Reis, começou com uma profunda análise de conjuntura local, nacional e internacional, apontando soluções para resgatar o Brasil sequestrado pelo fascismo.

A Mesa de Análise de Conjuntura Internacional, Nacional e Local contou com a participação dos palestrantes Antônio de Lisboa Amâncio Vale, secretário de Relações Internacionais da Central Única dos Trabalhadores Brasil (CUT Brasil) e conselheiro representante dos trabalhadores no Conselho de Administração da Organização Internacional do Trabalho (OIT); Ana Prestes, socióloga, cientista política e analista internacional; e Gabriel Magno, professor de física da Secretaria de Estado da Educação do Distrito Federal (SEE-DF), ex-dirigente do Sinpro-DF e dirigente licenciado da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE).

Os três palestrantes apontaram a solução para o Brasil: eleger Luiz Inácio Lula da Silva a presidente da República no primeiro turno; exigir o respeito ao processo eleitoral; e garantir a posse de Lula em janeiro de 2023. Ou seja, evitar a materialização do novo golpe de Estado em curso, que visa a impedir a eleição de Lula e a retomada do desenvolvimento e do crescimento do Brasil. 

Além de destacarem a importância de se eleger Lula presidente no primeiro turno, os três expositores disseram que, mais do que isso, a população terá de ajudá-lo a governar. Observaram que não vai ser fácil governar sem o apoio popular e alertaram para fato de que também não será fácil retirar o Brasil de onde ele foi jogado pelos governos do golpe de Estado de 2016: no fundo do poço, numa situação em que o País está com sua soberania gravemente ferida, numa situação em que o Brasil perdeu credenciais externas, como credibilidade e até confiança para que outras nações o ajudem a crescer e a sair deste lugar de pária do mundo.

Conjuntura internacional

Lisboa, Prestes e Magno foram unânimes em afirmar sobre o andamento deste golpe de Estado, que visa a sequestrar as eleições de 2022 e alertam para o fato de que o golpe só será concretizado se não houver uma força maior, representada pelo povo, capaz de impedir essa escalada de assaltos contra o Brasil e à população.

Antônio de Lisboa foi o primeiro a falar e, segundo sua análise da situação conjuntural do mundo, é importante a todos e todas estarem atentos e atentas para o fato de que o avanço do fascismo é real e está presente no mundo inteiro. Ele avalia também que esse avanço do fascismo tem um pouco de responsabilidade de todos e todas. Segundo ele, começa a viver uma segunda fase da crise com a guerra da Otan e Ucrância contra a Rússia. “É preciso observar que essa crise não começou hoje. Ela vem desde 2013”, afirmou.

“O Fórum de Davos criou o movimento chamado “A grande retomada”. Trata-se do aprofundamento da retirada de mais direitos da classe trabalhadora, mais concentração de renda e mais financeirização das economias. Nesse cenário, a eleição brasileira é a mais importante do mundo. A eleição brasileira é a eleição do ano para o mundo. Todo o campo popular e democrático do planeta está preocupado com as eleições do Brasil”, informou o secretário da CUT Brasil.

Ele ressaltou que mais de 80% dos Produtos Internos Brutos (PIB) dos países estão, atualmente, destinados à especulação financeira e à especulação imobiliária, ou seja, à concentração de renda e de terras, de territórios, em mãos de poucos; e 18% está destinado à produção e à população mundial. “Esse quadro não começou com a pandemia da covid-19. Esse mundo desigual em que os ricos estão cada vez mais ricos e os pobres cada vez mais pobres começou antes da pandemia. Em 2018, já era bem visível a polarização também das regiões do mundo: os países do norte mais ricos e os países do sul mais pobres e desindustrializados”, disse.

Também lembrou que, antes de 2019, 10% dos países ricos do norte concentram as riquezas do planeta, têm maior uso das tecnologias, vivem a quarta revolução industrial e o mundo assiste, juntamente com isso, a uma escalada do aumento da extrema direita. “Antes de 2019, a riqueza global já estava sendo concentrada no hemisfério norte. Com a pandemia da covid-19, os setores das tecnologias e farmacêuticos foram os que mais concentraram renda, os Estados aceleraram a financeirização da produção de remédios e das vacinas. Ou seja, as vacinas e os remédios que são uma conquista da humanidade foram sequestrados e transformados em commodities”.

Segundo Lisboa, “o Brasil é o grande centro da disputa geopolítica mundial e as eleições deste ano serão as mais importantes do mundo”.

Conjuntura nacional e América Latina

Ana Prestes fez uma análise da situação da América Latina, mas, antes, observou que a nazificação da Ucrânia foi construída pelos EUA e pelos países ricos da Europa, que criaram todas as condições para a atual guerra acontecer. “EUA e Europa não respeitaram nem cumpriram o acordo de Minsk (ou protocolo de Minsk), assinado pela Ucrânia, Rússia, LPR e pela DPR (Donetsk People’s Republic)”, disse. Ela fala situação política e econômica da América Latina e da retomada das gestões democráticas, com eleição de presidentes de esquerda em quase todos os países da América do Sul e Central. Até a Colômbia, que nunca teve presidente da esquerda e é considerada colônia e preposto dos EUA na América do Sul, pela primeira vez na história, elegeu, este ano, um presidente de esquerda, que não assassinado.

“Considero que a Colômbia e o Brasil são as grandes eleições deste ano na América Latina em que a gente vai retomando as condições para reequilibrar essa balança de forças na nossa América Latina e o Brasil está completamente envolvido nessa conjuntura. A América Latina e do Sul dependem muito desta eleição brasileira. 2022 é o ano das eleições das nossas vidas porque enquanto o mundo mudava e a gente enfrentava a maior pandemia do século, o Brasil sucumbiu às forças das trevas, protofascistas, reacionárias, do atraso que estão deixando um legado de um país desindustrializado, na fome”, avalia Prestes.

A socióloga alertou para o fato de que não será fácil ganhar esta eleição. “Eles não vão entregar o governo fácil. Não é menor. A pressão que está sendo feita para a militarização do nosso processo eleitoral. Eles querem colocar os militares dentro do Tribunal Superior Eleitoral e apurem os votos, eles querem que os militares declarem o resultado. Não vamos subestimar. Isso foi feito na Bolívia em 2019. A força da participação popular da Bolívia salvou o país do golpe porque ali foi dado um golpe neste estilo. Não existia esse tipo de milícia e apareceu no golpe de 2019 na Bolívia. O Brasil hoje é um país de milícias. Não vamos subestimar essas operações que têm o apoio e protagonismo da OEA. A nossa luta é dupla: garantir a eleição no primeiro turno e a posse de Lula”, alertou.

Conjuntura local

Na conjuntura local, o professor e liderança sindical licenciada da CNTE, Gabriel Magno, fez uma análise local, mostrando o quanto o Distrito Federal e a categoria docente da capital do País têm levado prejuízos com a gestão do político Ibaneis Rocha (MDB) pelo fato de ele ser aliado ao governo neoliberal e fascista de Jair Bolsonaro (PL).

“Temos enormes desafios e 84 dias decisivos”, disse Magno em sua análise local de conjuntura. Ele observou que a primeira coisa que Ibaneis fez no campo da educação, quando assumiu o governo, foi militarizar 17 escolas públicas. “A primeira coisa que ele fez foi militarizar 17 escolas públicas, enfraquecimento da gestão democrática e perseguição à liberdade de cátedra e a professores e professora. Hoje ele atua na despolitização do processo eleitoral de 2022. O que Bolsonaro fez no Brasil, Ibaneis faz no Distrito Federal”, afirma.

O resultado disso, segundo ele, é a capital do País com mais de 300 mil pessoas vivendo na fome e 260 mil brasilienses nas filas dos CRAS (Centros de Referência de Assistência Social), uma das principais políticas públicas de distribuição de renda que foi, criminosamente, desmontada pelo governo Ibaneis. O desmonte do serviço social no Governo do Distrito Federal é uma vergonha.

Gabriel Magno também observou o desmonte do Sistema Único de Saúde (SUS), às insistentes infrações à Lei 8080/1990, com a privatização inconstitucional da saúde pública por meio do IGES, que transformou a saúde no caos e na falta de assistência médica aos brasilienses. Também mencionou o caos na cultura e que iniciou o seu mandato na área cultural não garantindo o primeiro edital da FAC no seu governo. “Ele foi desfinanciando os setores e tudo isso foi passando na Câmara Legislativa do Distrito Federal e drenando dinheiro público para os seus próprios amigos”.

Confira no site vídeo com a Mesa Análise de Conjuntura Internacional, Nacional e Local do 12º Congresso de Trabalhadoras/es em Educação