Artigo: O voo de galinha dos demotucanos
(*) Antonio de Lisboa Amâncio Vale
A recente visita de uma delegação demotucana de senadores à Venezuela é mais do que esclarecedora sobre o grau de degeneração desta oposição de direita ao processo de integração latino-americana, à democracia e à soberania. Mostra até onde querem ir – e vão – para criar factoides, utilizando-se de vultosos recursos públicos para uma ação nitidamente partidária que atenta contra os próprios interesses nacionais, já que a balança comercial de R$ 14 bilhões (US$ 4,6 bilhões) nos é altamente favorável. Também evidencia como os grandes conglomerados de comunicação servem como caixa de ressonância para a mentira, massificando as interpretações que mais convêm aos seus obscuros interesses.
A realidade é que a delegação comandada por Aécio Neves não conseguiu chegar à capital, Caracas, devido ao imenso congestionamento causado por um acidente. Trocando o fato pelo boato, na ânsia de vestir uma camisa de força na realidade, o candidato derrotado nas últimas eleições presidenciais acionou os microfones e câmeras da Rede Globo – e das agências internacionais pró-Washington – para vender a versão de que a representação parlamentar brasileira havia sido agredida por partidários do governo venezuelano. A fantasia de Aécio foi além do limite no Twitter: “Fomos sitiados em uma via pública. Nossa van foi atacada por manifestantes”.
Antes disso o senador Ronaldo Caiado (DEM-GO) usou a tribuna do Senado para acusar o governo de Nicolás Maduro de impedir o pouso da aeronave da Força Aérea Brasileira (FAB) em território venezuelano. Na sucessão de disparates para criar um clima de confronto, Caiado defendeu o rompimento das relações legislativas entre os dois países.
Alguns desavisados chegaram a falar em “inaceitáveis atos hostis de manifestantes contra parlamentares brasileiros”, depois que o governo federal havia cedido até uma aeronave da FAB para o transporte da delegação, e prestado apoio à missão precursora do Senado enviada na véspera a Caracas. Caíram no conto do vigário.
Que o ocorrido sirva de lição neste momento de intensa disputa política e ideológica sobre os caminhos a seguir. Não podemos seguir sendo vítimas da insanidade de alguns oportunistas, que podem pôr em xeque até mesmo relações bilaterais solidamente constituídas. Ao mesmo tempo em que repudiamos enfaticamente a conduta irresponsável e interesseira dos senadores envolvidos, reafirmamos que é hora de oxigenar o Estado com a democratização da comunicação, enfrentando o cartel privado que mente, distorce e manipula.
(*) Secretário de Relações Internacionais da CUT