Artigo – Exame mostra que é preciso democratizar o ensino médio

A publicidade dos resultados do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) de 2012 pelo MEC, mais uma vez, enseja debates sobre a pertinência e relevância de tal prática. Quanto à pertinência, o primeiro questionamento é sobre a elaboração de rankings, porque não seria esta a principal atribuição de um exame. Contudo, a consolidação do Enem como vestibular nacional, ainda que um processo inconcluso, inexoravelmente faz realçar sua natureza classificatória para hierarquizar candidatos e, consequentemente, suas escolas.
Isso destacaria como objetivo central da escola de ensino médio a preparação para a disputa em torno de alguns cursos na educação superior, posição sustentada muitas vezes em nome do mérito. O impacto dessa posição estaria na organização do currículo em torno das matrizes do Enem e na disseminação da disputa entre os alunos em detrimento de outras alternativas.
No que tange à relevância, apesar dos aperfeiçoamentos na difusão de informações pedagógicas, os dados, por um lado, confirmam o abismo que existe entre as escolas públicas da imensa maioria dos alunos – 87% das matrículas – e as privadas. Por outro lado, paradoxalmente, esta é uma verdade na média, pois, quando estudamos a distribuição das notas das escolas, mais da metade das escolas privadas tem um desempenho médio abaixo de 560 pontos, o que corresponde ao desempenho de até 98% das escolas públicas. Ou seja, no afã de propalar a superioridade de um tipo de escola, esconde-se que isso é só meia verdade.
O que nos leva a ponderar que, se o Enem não democratiza o acesso à educação superior, este exame revela a necessidade de se democratizar o ensino médio, compreendendo esta tarefa com a da elevação dos patamares de aprendizagem de nossa juventude, em várias dimensões.
Ocimar Alavarse, professor da Faculdade de Educação da USP – O Estado de S.Paulo
 
Estadão