Aposentadoria não cala a voz da classe trabalhadora

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Em entrevista à Vitalidade, Sergio Antonio Kumpfer, Secretário de Aposentados e Assuntos Previdenciários da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE), reforça o papel ativo dos aposentados na defesa de direitos e no combate aos retrocessos. Ele destaca a importância da participação política, da vigilância contra os ataques aos direitos previdenciários e da necessidade de uma sociedade mais acolhedora para a população 60+.

Aposentados sim. Inativos nunca. Educadores sempre! é o lema, inspirado na força histórica da categoria. Kumpfer alerta que sem mobilização, os direitos conquistados podem ser devastados pelo mercado, pelo centrão e pela extrema direita.

Além da previdência justa, ele defende saúde pública de qualidade, cidades adaptadas e acesso irrestrito a lazer, cultura e educação. E para quem ainda hesita em se engajar, o recado é claro:

“Somos essencialmente sociais. Não queremos ninguém isolado, sozinho. Nossa missão é reunir e mobilizar. Os sindicatos, os conselhos são espaços importantes de atuação”.

1- Como o senhor avalia a participação dos (as) trabalhadores (as) da educação aposentados na Marcha dos Trabalhadores, realizada recentemente em Brasília?

Sergio: Os aposentados e aposentadas marcaram presença forte. Foi assim na primeira e agora também na segunda Marcha.

Em todo país, estão organizados através das secretarias ou departamentos de nossas entidades, e tem uma efetiva participação nas lutas em defesa da educação pública e dos direitos dos educadores.

2- Quais foram os principais objetivos dos (as) aposentados (as) ao marcar presença nesse ato nacional?

Nós compomos o Fórum das Três Esferas Públicas da CUT. Ao todo são 7 Entidades Nacionais. Junto com a CUT e demais centrais levamos a Brasília como tema central a “Valorização de quem faz o serviço público”. Esse era o nosso bloco.

Sempre acompanhando as bandeiras gerais dos trabalhadores brasileiros como, a redução da jornada de trabalho, a tributação dos super ricos, isenção do imposto de renda até 5 mil. Mas, as grandes bandeiras de luta dos aposentados/as são a correção dos salários e o fim do confisco. A luta contra o confisco foi a demanda principal, carregada pelos aposentados/as. Expressa em faixas e placas com a frase: o confisco não é justo!

3- Como essas pautas dialogam com a agenda mais ampla dos servidores da ativa e da classe trabalhadora em geral?

Os aposentados que a CNTE articula, fazem parte da política pública fundamental para a construção de um país democrático, justo e soberano; a educação é alicerce.  Os aposentados/as dedicaram uma vida de trabalho para isso. E não se afastam desse contexto com a aposentadoria. Seguiram uma jornada com plano de carreira e om regras previdenciárias que agora são fundamentais para viver dignamente esse momento. Mas, que estão sendo modificadas por governos liberais e de direita, prejudicando muito os aposentados/as.

4- Na sua opinião, houve avanços no reconhecimento das demandas dos aposentados (as) por parte do governo federal ou do Congresso?

O caminho tem sido de muitas dificuldades. Até agora as vitórias foram poucas e os avanços pequenos. A situação fiscal do país exige taxar os super-ricos, diminuir os gastos com a dívida e desonerar a base da pirâmide social para termos mais justiça tributária e social, abrindo espaço nos orçamentos públicos para avançar nas políticas essenciais, inclusive as previdenciárias. A população está envelhecendo rapidamente e a informalidade e a precarização das relações de trabalho deixarão milhares de brasileiros desamparados na velhice. É preciso enfrentar essas questões com urgência. Essas e outras reivindicações estão consignadas nas resoluções congressuais da CNTE e na Carta de Natal, e esperamos que o Governo abra canais de diálogo entre o Executivo, o Parlamento e a Sociedade para debater, por exemplo, a necessidade de revogação das reformas trabalhista e previdenciária. No Congresso temos a iniciativa da PEC 6, que visa acabar com alguns confiscos impostos pela EC 103 /2019, além de diminuir gradualmente o desconto das alíquotas da previdência para aposentados e pensionistas. O texto prevê redução de 10% a cada ano, a partir dos 62 para mulheres e 65 anos para homens, até ser totalmente eliminado.  Contudo, desde 2006 esse tema está travado nas comissões do Congresso e é preciso caminhar com a tramitação. Onde nós temos uma vitória mais adiantada e possível é no Supremo Tribunal Federal. Com o pedido de vistas do Ministro Gilmar Mendes e voto concluído, na ADI 6254 e outras, todos os Ministros já votaram. O placar é de 7 X 3 a nosso favor. Esperamos que nenhum ministro tenha reformado seu voto. O que estamos esperando, há vários meses, é a sessão final, que deve ser chamada pelo Presidente do STF para anunciar o resultado dessa Ação Direta de Inconstitucionalidade.

5- Como o senhor percebe o engajamento político dos aposentados da educação atualmente, em comparação com períodos anteriores?

Sem nenhuma dúvida que a participação de aposentados/as na organização e nas lutas das entidades é maior. Em primeiro lugar, porque nós somos um grande número de sócios. Em várias entidades, principalmente nas entidades mais antigas, já somos a maioria. Em segundo lugar a CNTE, através da Secretaria de Aposentados, tem realizado um trabalho de motivação e organização para que todas as entidades filiadas tenham secretarias ou departamentos com esse esforço de manter o vínculo e a participação de aposentados/as com o sindicato e as suas lutas. O que se tornou um fato!

6- Na sua visão, quais são os maiores desafios enfrentados hoje pelos (as) educadores (as) aposentados (as) no Brasil?

No Encontro Nacional de Aposentados da CNTE, realizado em Bento Gonçalves – RS, em fevereiro de 2025, tínhamos como chamada geral “previdência justa para uma vida digna”. O grande desafio, depois de uma jornada de muita dedicação à educação pública básica deste país, a que dedicamos as nossas melhores energias e a maior parte do nosso tempo, é poder viver esse período bem. Ter condições de dignidade e bem-estar. Ter condições de aproveitar a vida que ainda temos pela frente!

7- A participação em marchas e atos ajuda a combater a ideia de que os aposentados estão “fora da luta”? De que forma?

Evidente! Nosso slogan e “grito de guerra” é: “Aposentados sim. Inativos nunca. Educadores sempre”!

Paulo Freire diz: “O educador se eterniza em cada ser que educa” e eu adaptei essa frase à história de luta dos aposentados/as, que construíram, com seu esforço, sofrimento e coragem muitos direitos que outras gerações podem usufruir. Definitivamente os aposentados/as não estão fora do campo de batalha. Até porque os direitos são cultivados. Se não tiver vigilância, o “mercado” o “centrão” e a “extrema direita” devastam tudo.

8- Diante das mudanças no mercado de trabalho e no custo de vida, o senhor percebe que os aposentados da educação estão mais mobilizados em defesa de melhorias previdenciárias e de saúde, ou ainda há resistência a se engajar politicamente?

Os aposentados/as estão fazendo a sua parte. Pode ser com uma atitude ainda mais forte. Tem muita gente que pode reforçar o nosso time. O ponto básico para o aposentado é uma previdência justa. Mas isso não basta. Precisamos de um sistema de saúde cada vez mais disponível e preparado para o público 60+. Precisamos que nossas cidades e a sociedade esteja preparada para isso. O lazer, a educação e a cultura devem estar de portas abertas para acolher os aposentados/as.

9- Por fim, que mensagem o senhor deixa para os (as) aposentados (as) que ainda não se sentem mobilizados ou representados por essas ações coletivas?

Nós só existimos uns com os outros. Somos essencialmente sociais. Não queremos ninguém isolado, sozinho. Nossa missão é reunir e mobilizar. Os sindicatos, os conselhos são espaços importantes de atuação. Juntos, a nossa ousadia de querer viver bem e intensamente, fica mais fácil.

Fonte: CNTE