Apesar dos pesares, filhos da periferia estão conquistando o ensino superior

Desde a época do Brasil colônia, a ‘senzala’ sempre incomodou a ‘Casa Grande’. O paralelo entre a colonização portuguesa e início da escravidão no país, e a luta da classe proletariada por uma vida melhor, apesar dos entraves e de todas as dificuldades, faz parte da vida de grande maioria dos brasileiros. Nos últimos anos, este contexto ganhou ainda mais força diante de um governo que tem privilegiado as classes altas, em detrimento das baixas.

Em 2020, o ministro da Economia, Paulo Guedes, usou uma fala extremamente pejorativa para fazer alusão à alta do dólar. Segundo ele, “todo mundo estava indo para a Disneylândia, empregada doméstica indo para Disneylândia, uma festa danada”, mostrando que a ascensão da senzala ainda incomoda, e muito, a Casa Grande. Não satisfeito, o ministro declarou que “o filho do porteiro tirou zero no vestibular, mas ainda assim conseguiu bolsa do Fies em uma instituição particular”.

Apesar dos pesares, Paulo Guedes, mesmo diante da falta de políticas sociais, de políticas educacionais e de investimento na Educação por parte do governo de Jair Bolsonaro, os filhos dos porteiros, das empregadas domésticas, dos lavradores, faxineiras e de trabalhadores humildes têm, sim, entrado nas universidades. Esta vitória é graças a programas como o Fundo de Financiamento Estudantil (Fies), o Programa Universidade Para Todos (Prouni), o Sistema de Seleção Unificada (Sisu) e políticas de cota, fundamentais para garantir uma vaga nas universidades e faculdades brasileiras.

Histórias como essas vão muito além de superação, mas da demarcação de um território muitas vezes desconhecido e distante para a classe baixa. Salomão Ximenes, professor de políticas educacionais, ressalta que programas que dão acesso ao ensino superior existem para promover ascensão social. “Até o final da década passada, muito dificilmente os estudantes tinham perspectiva de concluir o ensino médio. Quando você tem perspectiva de continuar, a motivação é maior para concluir e não abandonar o ensino médio. Isso dá perspectivas de ascensão social para quem nunca teve acesso à educação de qualidade no país”, analisa o professor.

E essa migração de estudantes das “periferias” brasileiras para o ensino superior não é mais novidade. Desde os anos 2000, é cada vez maior o número de jovens de classes baixas em universidades e faculdades. Seguindo pesquisa realizada pela Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes), a maior parte dos estudantes das universidades federais (70,2%) é de baixa renda. Esses estudantes são de famílias com renda mensal de até 1,5 salário mínimo per capita.

O resultado disso são mais filhos de porteiros, de faxineiras, de lavradores, de trabalhadores braçais tendo acesso ao mercado de trabalho, fato que, pelo que parece, incomoda, e muito, o ministro Paulo Guedes e o governo de Jair Bolsonaro.

Este sempre foi uma das grandes lutas do Sinpro: democratização do ensino e uma educação pública de qualidade para todos(as). “Nós vermos pessoas de baixa renda, pessoas que dificilmente poderiam sonhar com uma universidade se formando como advogados, médicos ou qualquer outra profissão é gratificante para nós, professores, que sempre lutamos pela democratização do ensino. Mesmo com tudo que estamos vendo, com a falta de investimento na educação e com todo esforço para frear essa escalada social, a classe de baixa renda está vencendo e mostrando que todos têm direito a uma vida melhor, quer sejam filhos de porteiros ou filhos de ministros”, enfatiza a diretora do Sinpro, Márcia Gilda.

 
 

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