A resistência da educação pública no DF contra a ditadura é tema de tese de doutorado

O Centro de Ensino Médio Elefante Branco (Cemeb) chamado de “Elefante Vermelho”, e alvo de uma CPI da Câmara Federal que investigava supostas irregularidades no Ensino Médio da Capital Federal. Calma, o ano é 1962, estamos no auge da Guerra Fria.  Tudo isso e muito mais está na tese de doutorado da professora da SEE-DF e historiadora Eliane Cristina Brito de Oliveira, intitulada “O Elefante Vermelho na Capital da Ditadura: a escola pública do Distrito Federal na Ditadura Militar (1960-1985)”, e será defendida nesta sexta-feira, 16 de agosto, às 14h, na pós-graduação em História da UnB (ICC Norte, Subsolo, Módulo 24).

O CEMEB é um símbolo de resistência do movimento estudantil secundarista no Brasil. A pesquisa de Eliane foi atrás das estratégias de resistência de professores e estudantes no colégio Elefante Branco antes e durante a Ditadura Militar. “Busquei compreender por que a escola foi vista como espaço perigoso para o projeto autoritário mesmo antes do golpe de 1964”, conta a professora, que apresenta, na tese, como foram articuladas as táticas de enfrentamento da escola pública do DF nesse contexto.

Para isso, Eliane pesquisou documentos do Arquivo Nacional, do Banco Nacional Digital (BND), do jornal Correio Braziliense, do acervo da Câmara dos Deputados (CPI de 1963) e também buscou entrevistas de ex-alunos e ex-professores realizadas pelo Museu da Educação do DF. Ela foi ainda atrás do acervo escolar do CEMEB. O trabalho analisa o período que começa em 1960, com a fundação de Brasília, até 1985, com a ascensão da Nova República.

 

A pesquisa de Eliane oferece uma análise crítica sobre o legado das políticas de vigilância ideológica que culminaram, por exemplo, na CPI de 1963 sobre o ensino médio da capital federal, e evidencia os desafios que educadores e estudantes enfrentaram num ambiente de repressão política anticomunista e censura antes mesmo da eclosão da ditadura militar no Brasil.

A tese também aborda a gênese do movimento estudantil em Brasília, a influência de partidos de esquerda e a produção de jornais estudantis como “A Tocha”, “Elefrente”, “Boletim Informativo GECEM” e “Denúncia”, além da decretação de “território livre” pelos estudantes dentro do Elefante Branco em 1968.

Eliane acabou, também, por trazer informações sobre o primeiro concurso público para o magistério do Distrito Federal e as primeiras lutas dos aprovados e aprovadas por moradia e condições de trabalho.

“Eu estudei o Elefante Branco, e também os professores, estudantes e a Secretaria de Educação, o movimento estudantil na escola pública do DF. Eu falo dessa resistência que é pouco mencionada nos estudos, creio que meu trabalho pode acrescentar bastante para a compreensão desse período. É importante que toda a SEE-DF saiba que o CEMEB e outras escolas do DF foram centros de resistência à ditadura militar”, orgulha-se Eliane.

Assim que for aprovada pela banca, a tese de Eliane estará disponível no repositório digital de teses da UnB.