A luta contra o governo racista de Bolsonaro

Por Iêda Leal e José Adão Oliveira*

“Estamos cansados de saber que nem na escola, nem nos livros onde mandam a gente estudar, não se fala da efetiva contribuição das classes populares, da mulher, do negro, do índio na nossa formação histórica e cultural. Na verdade, o que se faz é folclorizar todos eles. E o que é que fica? A impressão de que só homens, os homens brancos, social e economicamente privilegiados, foram os únicos a construir este país. A essa mentira tripla dá-se o nome de sexismo, racismo e elitismo”. Lélia Gonzalez

Somos milhares de vozes contra um governo racista e genocida que, desde o dia que assumiu o país em 2019, tem-se revelado uma ameaça para a maioria da população, acumulando vários crimes que violam direitos do povo negro.

No (des)governo de Jair Bolsonaro – governo de homens brancos, ricos, heterossexuais, de direita – não existe nenhum projeto de políticas públicas para a superação das violências raciais, pelo contrário, todas as iniciativas que apontavam mesmo que minimamente para essa perspectiva foram abandonadas. O governo é um contumaz praticante da supremacia racial branca. É crime. É Brasil.

A escolha pela entrega das nossas riquezas ao capital estrangeiro, a relação umbilical com a ideia do armamento da população para resolver conflitos, o desrespeito à população negra e às mulheres, o ataque aos direitos constitucionais da população indígena e quilombolas: essas são as defesas e compromissos desse governo Bolsonaro que está acabando com Brasil.

O Bolsonaro quer nos matar.

O presidente Jair Bolsonaro “fragilizou as possibilidades de vencermos a pandemia. Do alto da sua irresponsabilidade civil, subestimou o processo de transmissão, desqualificou a ciência e desvalorizou as informações. Demonstrou que está pronto para colocar na linha de frente da letalidade física, social e econômica do coronavírus os cidadãos e cidadãs brasileiros(as) e, certamente, a parte mais vulnerável da população. Está propondo uma eliminação em massa do povo no país? Mirando negros, negras e indígenas”.

Esse trecho é do documento do Movimento Negro Unificado (MNU) publicado no dia 25 de março de 2020, denunciando o presidente Jair Bolsonaro que, diante do agravamento do estado pandêmico mundial e, em especial, no Brasil, decidiu não adotar nenhuma medida para reduzir os impactos da pandemia do coronavírus e salvar vidas.

O presidente Bolsonaro pode nos matar. Denúncia do MNU.

E ele cumpriu a ameaça.  Sob nossos constantes protestos nas ruas e na justiça, ele é o responsável pelo país das fake news, patrocinadas com verbas públicas, passando pelo ataque à Ciências, ao SUS, pela montagem de esquema fraudulento de tratamento precoce contra a Covid-19 e pelo envolvimento em denúncias de irregularidades na compra de vacinas.

O presidente Bolsonaro quer nos matar.  Nós continuamos na luta contra esse governo genocida.

Nós do MNU denunciamos o governo pelo crime de abandono e por não garantir direitos fundamentais para a garantia da vida. Esse presidente é genocida. Romper com os protocolos de prevenção é crime. Do alto de sua decisão pessoal, o dirigente propõe um genocídio ao desconsiderar a contaminação comunitária.

O MNU, junto com a maioria das pessoas, está na luta, em estado permanente de reação contra iniciativas racistas desse (des)governo que empurra a população para a morte, pois não assume a tarefa de gerir o Estado e cuidar da população em tempos de pandemia. Nesse momento de crise mundial, quando vários países adotam medidas de prevenção e tratamento, aqui as ações são para nos matar. Gritamos e exigimos respeito dos governos estaduais e municipais, mas mesmo assim o boicote do governo federal à proteção à vida é avassalador.

São mais de 126 pedidos de impeachment contra esse presidente racista.

Esse governo dedica-se diuturnamente a atacar a maior parcela (56,2%) da população do país, composta de negros e negras. Além de verbalizar o seu racismo publicamente, incitando o ódio ao povo negro, indígenas, mulheres e à comunidade LGBTQI+, Bolsonaro ataca a Constituição, retirando direitos conquistados. Seu governo está à frente de reformas que apontam para a destruição dos direitos sociais, como aposentadoria, forçando os estados a aderirem ao projeto de reforma administrativa que reduz salários e dizer não à realização de concursos, aumentando o desemprego, além de fazer cortes nos orçamentos das políticas públicas destinadas às famílias mais vulneráveis: população negra, favelada, periférica, pobre.

Somos herdeiros e herdeiras de Dandara e Zumbi! Inspirados na batalha que travaram pela vida, estamos em luta!

*Iêda Leal é coordenadora nacional do Movimento Negro Unificado (MNU). Pedagoga e especialista em Métodos e Técnicas de Ensino, é também coordenadora do Centro de Referência Negra Lélia Gonzáles, secretária de Combate ao Racismo da CNTE, secretária de Comunicação da CUT-GO, conselheira do Conselho Estadual de Educação de Goiás/CEE-GO.

*José Adão é co-fundador do Movimento Negro Unificado (MNU). Escritor, educador social e ativista, especialista em Migrações Africanas, é co-organizador do livro “Movimento Negro Unificado: a resistência nas ruas”, publicado pelas editoras FPA e SESC (2020) e foi colaborador na edição do livro “Cadernos Negros 43″(2021), pelo grupo/editora Quilombhoje. Contato: jose.oliveira.adao@gmail.com

** O artigo foi publicado originalmente na Le Monde Diplomatique nesta sexta-feira (1º/10)