A juventude e o sindicalismo perdem um dos maiores representantes e propulsores da renovação

O processo de renovação do sindicalismo no Brasil certamente sofreu um baque com o falecimento do companheiro Alexandre Takachi de Sá, vítima de acidente de carro no último dia 10 de junho, quando retornava para sua casa em Campo Grande depois de participar de mais uma atividade sindical no município de Dourados. Com 32 anos, o secretário geral do Sindicato dos Trabalhadores nos Correios, Telégrafos e Similares de Mato Grosso do Sul – Sintect era líder nato e reconhecido. Com humildade, transmitiu aos novos e antigos sindicalistas sua maneira independente, autônoma e visionária de representação da classe trabalhadora. 
Takachi tinha como marca de atuação o trabalho sólido junto à base e, principalmente, a ausência de vínculo com projetos de governo. “Respirava sindicato”, como lembrou seu irmão, referindo-se, com admiração, à sua incessante luta pelos trabalhadores, pelos excluídos e pela transformação da sociedade.
De fato, ele representava de maneira responsável, objetiva e organizada o ímpeto da juventude por mudanças sociais para o povo brasileiro. Ímpeto justo e necessário, mas que, nas ruas, por vezes, é apresentada de maneira turva, desagregada e fluída, devido à falta de organização de classe e clareza de propostas e de ideais.
Este desencontro entre atuação e objetivo, que salta aos olhos nas últimas décadas, é consequência da reformulação do processo produtivo de trabalho, advindo do fortalecimento do neoliberalismo e sua concepção individualista na sociedade, principalmente a partir dos anos 80 e 90. Um nefasto processo que configurou a fragmentação de categorias, a terceirização e subcontratação de serviços, minando a a organização e a identidade de classe. Sem renovações, houve envelhecimento e certa acomodação das direções sindicais e um distanciamento delas das novas estruturas produtivas e das novas massas de mão de obra que ingressam no mercado. Paralelo a este cenário, com desemprego em massa, aumentaram as desigualdades sociais e o afastamento dos jovens das entidades sindicais e das lutas coletivas. 
Por outro lado, após a entrada em cena de governos democrático-populares, especialmente a partir de 2003, verificou-se certa burocratização da atuação sindical. Criou-se uma confusão entre o papel do Estado e o dos sindicatos, gerando um arrefecimento das atividades sindicais de massa. Fruto deste contexto, apesar da melhoria na distribuição de renda, a juventude chegou em maior quantidade ao mercado de trabalho se sentindo pouco representada, sem espaços de participação, de debate e de decisão.
Por isso, pela primeira vez vimos manifestações populares não organizadas por sindicatos e partidos. Foram em sua maioria integradas por jovens, com reivindicações difusas.
Alexandre Takachi soube analisar este cenário. Mais que isso, ele soube atuar diante desta conjuntura. Takachi foi ousado; peça fundamental no processo em andamento de reinvenção do sindicalismo. Aliou a atuação junto à base com a utilização da tecnologia, das mídias sociais. Freou o assistencialismo sindical e valorizou a cultura de luta de uma entidade sindical. Ele soube aplicar teoria na realidade; incorporou a verdadeira imagem do militante CUTista. Com dedicação, não só oxigenou a ação do seu sindicato.
Demonstrou que jovens lideranças podem propor e impulsionar políticas sindicais com criatividade, que respeitam os interesses e as novas demandas da juventude que ocupa cada vez mais o mercado de trabalho.
Por onde andou e foi chamado a contribuir, levou sua solidariedade e os ares da juventude. Por isso, ajudou a inserir a discussão da renovação nos sindicatos CUTistas do Mato Grosso do Sul, na própria Central, em outros sindicatos de trabalhadores de Correios do país e na Fetect, a federação desses sindicatos. Nunca negou ajuda. Sempre disposto, uniu-se também aos colegas do Sintect-DF, que vem passando por uma forte renovação.
A ausência de Alexandre Takachi não é uma perda apenas para os trabalhadores dos Correios, mas para todos aqueles que têm como ideal a construção do socialismo, de uma sociedade justa e igualitária.
Que possamos usar o exemplo deste líder para nos reinventarmos e consolidarmos, de uma vez por todas, o sindicalismo de base no Brasil, de maneira autônoma, livre, organizada, representativa e forte.