A greve nacional da educação foi um sucesso. E agora?

Os atos da greve nacional da educação no dia 15 de maio foram um sucesso. Escolas e universidades de todo o país paralisaram, e milhares de estudantes, professores e servidores públicos foram às ruas denunciar os cortes na educação e a reforma da Previdência. Convocada por entidades sindicais e estudantis, a greve conseguiu mobilizar amplos setores da sociedade e angariar amplo apoio popular junto à sociedade, recolocando as ruas como espaço privilegiado do debate e da disputa política.

No entanto, é preciso reconhecer que essa luta está apenas começando e que ainda teremos muitas dificuldades pela frente. O governo não recuou dos cortes e dobrou a aposta no enfrentamento, atacando moralmente todos aqueles que se mobilizaram, inclusive tentando colocar sobre os governos anteriores a culpa pelos cortes que aplica hoje.

Isso não deve ser de forma alguma motivo para desânimo. Muito pelo contrário, foi uma grande vitória realizar tal movimento de rua apenas cinco meses após a posse de um governo de viés declaradamente autoritário. Creio que estamos bem melhor politicamente do que a maioria de nós imaginou antes da posse, em uma velocidade mais rápida do que o mais otimista poderia imaginar.

Muitos dos que foram às ruas o fizeram pela primeira vez, e ainda falta transformar essa movimentação e energia em saldo organizativo de longo prazo. Cabe às entidades realizar reuniões de avaliação, novas assembleias, criar espaços de representatividade da base e fóruns coletivos onde estes ainda não existem, para organizar de forma permanente aqueles que participaram das movimentações. Isso é válido especialmente para o movimento estudantil, onde a transição geracional ocorre de forma muito veloz.

Neste processo, há que se explicar às pessoas que tanto os cortes na educação quanto a reforma da Previdência, assim como outros retrocessos, são faces de uma mesma política ultraneoliberal. Em audiência no Senado Federal realizada dia 7 de maio, o ministro da Educação, Abraham Weintraub, disse que poderia rever os cortes em caso de aprovação da reforma da Previdência, em uma chantagem explícita.

Mais do que nunca, é momento de levar a sério o “ninguém solta a mão de ninguém”. Não vamos aceitar trocar direitos previdenciários por verbas para a educação ou qualquer outra moeda de troca apresentada pelo governo. É momento de unidade para articular cada um dos movimentos que lutam contra políticas específicas do governo, em uma frente para derrotar o conjunto do programa neoliberal que está sendo implementado na educação, meio-ambiente, cultura, nos direitos das mulheres, no mundo do trabalho e em várias outras áreas.

Só assim vamos evitar que esse lindo momento que vivemos se encerre em si mesmo. Não podemos permitir que seja um fato isolado, uma bolha ou fogo de palha, que some na mesma velocidade com que surgiu, sem deixar um saldo organizativo.Nesta luta longa que se inicia agora, nenhum momento pode ser desperdiçado, e ações pontuais não serão suficientes para conseguir passar da atual etapa de resistência para uma nova fase de avanços, não só derrotando as políticas retrógradas, mas conquistando vitórias consistentes.

Por fim, é necessário compreender que ainda não é o momento de chamar o Fora Bolsonaro, palavra de ordem vanguardista e precipitada que alguns setores minoritários têm levantado. Não se chama pela derrubada de um governo estando na defensiva, sem condições de disputar o que será instalado em seu lugar, sob o risco de servir como bucha de canhão de quem atualmente está em condições de fazê-lo.

 “Uma longa caminhada começa com o primeiro passo” – Lao Tsé, pensador chinês.

* Yuri Soares – professor de História da SEEDF, diretor do Sinpro-DF e secretário de Políticas Sociais da CUT Brasília.