A Casa Ieda renasce, agora no Plano Piloto

Um espaço para acolhimento, proteção, orientação, lazer e cultura, está de volta para as mulheres em situação de vulnerabilidade no Distrito Federal. Renasce a ocupação de mulheres da Casa Ieda. As portas já estão abertas agora em novo endereço: na Asa Sul (SGAS 603, Lote 21 – L2 Sul, ao lado da Escola Superior do MP).

Foi uma trajetória difícil e turbulenta após a desocupação no Guará. Há um ano, a casa começou um trabalho de acolhimento para mulheres em situação de violência. Apesar da oposição do GDF em não valorizar um trabalho tão importante (só em 2023, já são 29 os casos de feminicídio no DF), elas prosseguiram mesmo sem o espaço físico.

“O GDF em nenhum momento se preocupou em negociar conosco, em tentar manter um movimento civil organizado que tem como objetivo a prevenção de feminicídio e que é um espaço de acolhimento, de abrigo para mulheres em situação de violência doméstica. Simplesmente tiraram a gente da casa e preferiram destruir o espaço em vez de nos manter por lá até nos realocar em outro espaço”, diz Samara Mineiro, coordenadora do Movimento Luta de Classes (um dos movimentos que atuam junto com o Movimento Olga Benario).

De acordo com ela, “mesmo sem o espaço físico da casa, o Movimento de Mulheres Olga Benario se manteve no combate contra o feminicídio. Então foram feitas as atividades da Casa Ieda itinerante. Havia o atendimento psicológico, médico, jurídico para as mulheres em situação de vulnerabilidade em diversos lugares do DF, de forma itinerante. Mas era um atendimento que era limitado, pela ausência do espaço físico. Não era possível abrigar mulheres, por exemplo”. 

A casa itinerante atendeu mulheres em algumas comunidades, como no Sol Nascente e PSul (Ceilândia) e Arapoanga (Planaltina), até encontrarem um outro local permanente. “A procura do local é o que a gente faz sempre para todas as ocupações: são imóveis que são esquecidos pelo governo, que estão em boa condição de uso, mas que não tem o investimento do Estado para o funcionamento. Então a gente ocupa esses espaços e começa a fazer dele uso permanente, faz a cumprir a função social que todo ímovel tem que ter de acordo com a Constituição”, explica Natty Mendes, coordenadora da ocupação Ieda Santos Delgado.

A importância de novamente ter um local, para Natty, é porque agora “as mulheres começam a ter um local de referência para ir e nós começamos a ter um espaço para o acolhimento. Porque hoje, a Casa da Mulher Brasileira da Asa Norte está fechada. E a Casa Brasileira da Mulher em Ceilândia é insuficiente para a demanda que Brasília tem. Então esse é mais um local para as mulheres serem acolhidas”. 

Samara explica que “a gente não quer tomar o espaço do poder público. Nós somos um movimento civil organizado, que tem o objetivo de colaborar na proteção das mulheres, mas a gente acha indispensável a atuação junto com o poder público, então é muito importante que a gente tenha este espaço físico para poder continuar atuando cada vez mais, porque no DF e no Brasil é indispensável este trabalho”.

Natty reforça, que além dos atendimentos, “as mulheres têm acesso à cultura, lazer, política, para que elas também lutem pela vida de mais mulheres, para que o movimento se torne mais forte e que nós possamos construir juntas uma sociedade que vá garantir o nosso direito à vida e também de educação, moradia e alimentação. Então precisamos fazer desta ocupação um lugar de resistência, onde as mulheres se fortaleçam e enfim, fiquem vivas”.