O Brasil tem um enorme passado pela frente

O dia 31 de agosto de 2016, definitivamente, entra para a história do Brasil. Pela porta dos fundos.
Sessenta e um senadores – com a moralidade questionável para ser síndico de prédio – impuseram ao país e aos trabalhadores, de forma rasteira, um golpe parlamentar que pôs fim a um ciclo de avanços e conquistas sociais; de mobilidade social e desenvolvimento nacional nunca visto até então; um ataque à própria democracia, enfim, com a aprovação do impeachment da presidenta Dilma Rousseff, afastada definitivamente da presidência um ano e oito meses depois de assumir seu segundo mandato.
Na verdade, este é o final apoteótico – com direito até a cantoria do Hino Nacional no plenário do Senado – de um plano sujo que vinha sendo arquitetado desde o dia seguinte após a reeleição de Dilma à presidência, em 2014.
“A direita inconformada com a derrota nas urnas vem, desde então, fabricando escândalos e divulgando inúmeras mentiras pelos meios de comunicação como se fossem verdades absolutas com vistas a tornar o golpe possível. Ele foi elaborado a partir da ação diária do oligopólio de mídia com o apoio financeiro da indústria, do setor de finanças e do agronegócio”, afirmou em artigo o professor Antônio Lisboa, secretário de Relações Internacionais da CUT Brasil e representante dos trabalhadores no Conselho de Administração da Organização Internacional do Trabalho (OIT).
Para se ter uma ideia, o nó dado na cabeça das pessoas com este turbilhão de mentiras foi tão grande que mais de 80% dos brasileiros não sabiam do que se tratava o impeachment. Apontavam para tudo, de Petrobrás à Lava Jato; de crise internacional à queda da arrecadação no país. Tudo fabricado para parecer culpa e responsabilidade de Dilma e de seu governo. Ou seja, falava-se de tudo, menos do que a presidenta estava sendo acusada – de um crime de responsabilidade que não cometeu. Pior: com esta confusão de ideias, acabaram apoiando a instalação de um nefasto projeto de país, derrotado em quatro eleições consecutivas.
Não à toa, Dilma disse que a confirmação de Michel Temer na presidência ameaça direitos trabalhistas e das minorias. “O golpe é contra os movimentos sociais e sindicais e contra os que lutam por direitos em todas as suas acepções. O golpe é misógino. O golpe é homofóbico. O golpe é racista. É a imposição da cultura da intolerância, do preconceito, da violência”.
Visto de fora, sem a influência da retórica golpista, respeitados veículos de comunicação do exterior colocaram o dedo na ferida e expuseram toda a farsa ocorrida aqui. Veja:
Le Monde (França): “Dilma é vítima de um ‘golpe’ encenado por seus adversários”; Página 12 (Argentina): “Um golpe em formato de farsa tragicômica”; The Washington Post (Estados Unidos): “Se uniram pela retirada de Dilma sabendo que seria injusto”; The Guardian (Reino Unido): “Senadores conspiram para tirar Dilma e matar a Lava Jato”; El País (Espanha): “Impeachment é castigo desproporcional”; Al Jazeera (Catar): “Impeachment de Dilma: um caso de estudo em hipocrisia”; RT (Rússia): “Senadores acusados de corrupção atacam Dilma justamente por ela ter permitido o combate à corrupção”.
E o que nos reserva o futuro?
Nas proféticas palavras de Millôr Fernandes, “o Brasil tem um enorme passado pela frente”. Já estão em curso iniciativas que vão atingir, sobretudo, os mais humildes e a classe trabalhadora.
O governo golpista prepara uma série de retrocessos gravíssimos nas políticas sociais, tais como: a  insistência em uma Reforma da Previdência que dificulte ainda mais o acesso dos trabalhadores à aposentadoria e reduza os seus benefícios; reforma trabalhista que torne os direitos garantidos pela CLT em objeto de negociação, prevalecendo o negociado sobre o legislado; redução do tamanho do Sistema Único de Saúde; cobrança de mensalidades em cursos de extensão e de pós-graduação nas universidades públicas; cortes no programa Bolsa Família que podem atingir até 30% dos beneficiários; fim de programas habitacionais para a população de baixa renda, geridos em parceria com movimentos sociais; ataques ao direito democrático de manifestação; e política externa submissa aos interesse dos grandes impérios.
No mais grave ataque aos direitos sociais desde a promulgação da constituinte de 1988, o governo golpista pretende que os investimentos em saúde e educação sejam corrigidos, por um prazo de dez anos, apenas pela variação da inflação do ano anterior. “Caso essa regra estivesse valendo desde 2006, o orçamento federal da saúde seria hoje 30% menor e o da educação sofreria com um corte brutal da ordem de 70% – vale lembrar, que essa regra, proposta por Temer, também iria incidir nos orçamentos dos governos estaduais e prefeituras municipais. Seria a destruição dos nossos sistemas públicos de saúde e educação”, destacou Antônio Lisboa.
E o que fazer daqui para frente?
Assim como lutamos contra o golpe, cabe continuarmos lutando nas ruas e nos locais de trabalho para trazer o país de volta ao Estado de Direito e à Democracia, opondo-nos à redução dos direitos dos trabalhadores e às iniciativas que procuram colocar o Brasil em um papel subordinado à economia internacional. Cabe não aceitarmos que a classe trabalhadora e os setores mais pobres da população tenham que sofrer ainda mais sacrifícios.
Ou, como disse a própria presidenta, “não desistam da luta. Essa história não acaba assim. Nós voltaremos. Voltaremos para continuar nossa jornada rumo a um Brasil em que o povo é soberano”.
E é isso o que faremos.
Guarde esses nomes. Eles votaram a favor do impeachment, contra os mais humildes e contra a classe trabalhadora:
Cristovam Buarque – PPS-DF
Reguffe – Sem Partido-DF
Hélio José – PMDB-DF
Acir Gurgacz – PDT-RO
Aécio Neves – PSDB-MG
Aloysio Nunes – PSDB-SP
Alvaro Dias – PV-PR
Ana Amélia – PP-RS
Antonio Anastasia – PSDB-MG
Antonio Carlos Valadares – PSB-SE
Ataídes Oliveira – PSDB-TO
Benedito de Lira – PP-AL
Cássio Cunha Lima – PSDB-PB
Cidinho Santos – PR-MT
Ciro Nogueira – PP-PI
Dalirio Beber – PSDB-SC
Dário Berger – PMDB-SC
Davi Alcolumbre – DEM-AP
Edison Lobão – PMDB-MA
Eduardo Amorim – PSC-SE
Eduardo Braga – PMDB-AM
Eduardo Lopes – PRB-RJ
Eunício Oliveira – PMDB-CE
Fernando Bezerra Coelho – PSB-PE
Fernando Collor de Mello – PTC-AL
Flexa Ribeiro – PSDB-PA
Garibaldi Alves Filho – PMDB-RN
Gladson Cameli – PP-AC
Ivo Cassol – PP-RO
Jader Barbalho – PMDB-PA
João Alberto Souza – PMDB-MA
José Agripino – DEM-RN
José Aníbal – PSDB-SP
José Maranhão – PMDB-PB
José Medeiros – PSD-MT
Lasier Martins – PDT-RS
Lúcia Vânia – PSB-GO
Magno Malta – PR-ES
Maria do Carmo Alves – DEM-SE
Marta Suplicy – PMDB-SP
Omar Aziz – PSD-AM
Paulo Bauer – PSDB-SC
Pedro Chaves – PSC-MS
Raimundo Lira – PMDB-PB
Renan Calheiros – PMDB-AL
Ricardo Ferraço – PSDB-ES
Roberto Rocha – PSB-MA
Romário – PSB-RJ
Romero Jucá – PMDB-RR
Ronaldo Caiado – DEM-GO
Rose de Freitas – PMDB-ES
Sérgio Petecão – PSD-AC
Simone Tebet – PMDB-MS
Tasso Jereissati – PSDB-CE
Telmário Mota – PDT-RR
Valdir Raupp – PMDB-RO
Vicentinho Alves – PR-TO
Waldemir Moka – PMDB-MS
Wellington Fagundes – PR-MT
Wilder Morais – PP-GO
Zezé Perrella – PTB-MG